Ibovespa amplia queda e dólar reduz baixa após fala de Yellen sobre juros

Em dia volátil, índice tenta firmar tendência com bancos caindo pressionados por cenário econômico

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – O Ibovespa acelera perdas nesta segunda-feira (6), extremamente volátil. Às 13h54 (horário de Brasília), o benchmark da bolsa brasileira registrava perdas de 0,90%, a 50.164 pontos. No radar dos investidores, destaque para as possíveis sinalizações da chairwoman do Federal Reserve, Janet Yellen, sobre os próximos passos da autoridade monetária americana quanto à política de juros local, após dados do emprego virem abaixo do esperado. No mesmo horário, o dólar caía 0,45%, a R$ 3,5089 na venda.

Yellen disse que aumentos graduais nas taxas de juros são provavelmente apropriadas. “Embora o estado atual de política monetária seja geralmente apropriado, as taxas provavelmente precisarão de subir gradualmente com o tempo”, disse. Ela também afirmou que os próximos passos em direção a uma normalização da política monetária serão iniciados até antes dos objetivos do Fed serem “totalmente alcançados”. 

Ela também minimizou o relatório de Emprego da sexta-feira, que mostrou um crescimento de apenas 38 mil na criação de postos de trabalho em maio. De acordo com a presidente da autoridade monetária, a expansão econômica deve continuar, com melhoras no mercado de trabalho e crescimento moderado do PIB (Produto Interno Bruto). 

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Política e delações
Também tem reflexos no movimento do Ibovespa o cenário político brasileiro. Conforme aponta a LCA Consultores, o noticiário deste final de semana concentrou-se nas primeiras informações sobre as delações premiadas de Marcelo Odebrecht e Leo Pinheiro, respectivamente presidentes de Odebrecht e OAS. A imprensa noticiou uma suposta participação direta da presidente da República afastada Dilma Rousseff para que a Odebrecht a ajudasse com R$ 12 milhões na campanha eleitoral de 2014.

Apesar da negativa da petista, os partidos governistas querem aproveitar esse novo desgaste de Dilma para impulsionar seu impeachment. Tais acusações poderiam prejudicar a chapa Dilma Rousseff-Michel Temer no Tribunal Superior Eleitoral, o que poderia forçar a realização de novas eleições presidenciais diretas ou indiretas — a depender de quando a possível cassação ocorresse. Ainda na agenda política doméstica, o mercado também fica atento à Comissão do Impeachment no Senado, que deverá definir, a partir das 16h, o cronograma do julgamento sobre o impedimento da presidente afastada Dilma Rousseff.

Ainda no noticiário doméstico, destaque para o relatório Focus, divulgado pelo Banco Central. As medianas das estimativas dos economistas consultados semanalmente pela autoridade monetária brasileira foram alteradas de 13,50% para 13,75% quanto à taxa básica de juros em 2016, e de 11,25% para 11,63% quanto à Selic no ano seguinte. O documento também mostra que as estimativas são de que o Copom (Comitê de Política Monetária) mantenha os juros nos atuais patamares de 14,25% ao ano na próxima reunião, a ser realizada neste mês.

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As mudanças de perspectivas, porém, não refletem nos contratos de juros futuros negociados na BM&F. Os papéis referentes a janeiro de 2017 apresentam avanço de 2 pontos-base, a 13,58%, enquanto os com vencimento no primeiro mês de 2021 operam estáveis a 12,43%.

As projeções dos economistas para a inflação medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), por sua vez, foram mantidas em 7,13% neste ano, assim como o dólar para 2016, que ficou em R$ 3,70. Com o olhar para o ano que vem, as apostas são de que a elevação nos preços fique em 5,80% e a cotação da moeda americana chegue a R$ 3,90 — mesmos números apresentados na última pesquisa apresentada pelo Banco Central.

Destaques do pregão
Dentro do setor mais pesado no Ibovespa, o financeiro, bancos grandes caem. Itaú Unibanco (ITUB4, R$ 29,35, -1,77%), Bradesco (BBDC3, R$ 25,12, -2,10%; BBDC4, R$ 23,53, -2,24%) e Banco do Brasil (BBAS3, R$ 17,05, -1,45%) recuam. Juntas, as quatro ações respondem por pouco mais de 20% da participação na carteira teórica do nosso benchmark. 

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As maiores baixas dentre as ações que compõem o Ibovespa são:

Cód. Ativo Cot R$ % Dia
 KROT3 KROTON ON 12,36 -4,78
 LAME4 LOJAS AMERICPN 15,15 -2,70
 JBSS3 JBS ON 10,51 -2,60
 RENT3 LOCALIZA ON 33,00 -2,57
 CESP6 CESP PNB 12,18 -2,56

Os papéis da Petrobras (PETR3, R$ 10,97, +1,48%; PETR4, R$ 8,60, +0,35%) voltam a cair, apesar da recuperação dos preços do petróleo. Lá fora, o contrato do petróleo Brent subia 1,15%, a US$ 50,21 o barril, enquanto o WTI avançava 1,44%, a US$ 49,32 o barril. A commodity avançava lá fora após Abu Dhabi prever que o barril pode voltar a US$ 60 devido à oferta que tem encolhido mais rápido que previsto.

Segundo o jornal O Globo, a ação coletiva que investidores brasileiros e estrangeiros estão movendo na Corte de Nova York contra a estatal pode levar a uma indenização superior à do escândalo da Enron, caso que ficou marcado como a maior falência da história econômica dos Estados Unidos, e resultou numa reparação de US$ 7,2 bilhões.

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Ao jornal, a única brasileira entre os peritos que acompanham a ação coletiva, a advogada Érica Gorga, estima que a indenização possa chegar à casa dos US$ 10 bilhões. “É claro que a perda das ações não se deveu apenas à corrupção ou à má gestão, porque o preço do petróleo também caiu no período. Por isso, eles estão tentando mensurar o período em que teve início o envolvimento de diretores da Petrobras na Lava Jato. Essa é uma das coisas controversas no processo, mas acho que fica a discussão de quantos bilhões vão ser, e, sendo conservadora, acho que não serão mais de US$ 10 bilhões”.

As ações da Vale (VALE3, R$ 16,33, +0,55%; VALE5, R$ 12,63, +0,08%) disparam seguindo o desempenho do minério de ferro no mercado internacional. A commodity à vista (spot) negociada no porto de Qingdao com 62% de pureza fechou em alta de 2,06%, a US$ 51,11 a tonelada.

As maiores altas dentre as ações que compõem o Ibovespa são:

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Cód. Ativo Cot R$ % Dia
 ESTC3 ESTACIO PARTON 14,56 +4,82
 USIM5 USIMINAS PNA 1,86 +2,20
 GGBR4 GERDAU PN 6,20 +1,47
 QUAL3 QUALICORP ON 16,73 +1,46
 GOAU4 GERDAU MET PN 2,18 +1,40

Na ponta negativa, destaque para as ações da Kroton (KROT3, R$ 12,35, -4,85%), que respondem à entrada da Ser Educacional na “briga” pela união de forças com a Estácio (ESTC3, R$ 14,57, +4,90%), poucos dias após oferta feita pela primeira. A proposta não vinculante do conselho de administração da Ser prevê que o novo capital seria formado por 68,7% de acionistas da Estácio e 31,3% da Ser. A companhia contratou o Credit Suisse e o escritório de advocacia Pinheiro Neto como assessores e afirmou que a companhia combinada deve ter forte participação nas regiões Norte e Nordeste do país.

Bolsas mundiais
No exterior, o mercado fica de olho na fala de Janet Yellen em conferência na Filadélfia marcada para as 13h30 (horário de Brasília). As bolsas chinesas fecharam em baixa nesta segunda, com investidores esperando uma série de dados nas próximas semanas para avaliar a situação econômica, enquanto Hang Seng teve leve alta de 0,40%. Já Xangai caiu 0,15% e Nikkei teve baixa de 0,37%. Na Europa, os principais índices fecharam em alta, com o FTSE subindo 1,26%, mas o DAX e o CAC apresentando movimento mais moderado, com respectivos ganhos de 0,26% e 0,13%.

Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.