Ibovespa cai 0,8% com escândalo de Jucá, mas fica longe da mínima; dólar dispara 1,8%

Investidores "ignoram" refletem baixas nas bolsas internacionais e aumento na indefinição política no novo governo

Rodrigo Tolotti

Publicidade

SÃO PAULO – O Ibovespa fechou em queda nesta segunda-feira (23), mas ficou longe da mínima graças à recuperação das ações da Vale. O índice chegou a cair 2% pela manhã por causa da divulgação das gravações em que o ministro do Planejamento, Romero Jucá conversou com ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, sugerindo barrar a Operação Lava Jato. Por conta das denúncias, Jucá anunciou há pouco que se licencia do cargo de ministro. 

O benchmark da bolsa brasileira registrou queda de 0,79%, aos 49.330 pontos. O volume financeiro negociado na Bovespa foi de R$ 5,350 bilhões. Já o dólar comercial teve alta de 1,82%, para R$ 3,5803 na compra e R$ 3,5823 na venda, enquanto o dólar futuro para junho avançava 1,67%, para R$ 3,589 na venda, no mesmo horário. No mercado de juros futuros, o DI para janeiro de 2017 subiu 3 pontos-base a 13,70%, ao passo que o DI para janeiro de 2021 teve alta de 27 pontos-base a 12,62%. 

Segundo o sócio-gestor da Queluz, Rodrigo Octávio Marques, o mercado já vem de um cenário negativo, precificando que “a Lua de Mel com Temer não está ocorrendo”. “O mercado reage ao ambiente de uma clara dificuldade política que este novo governo enfrenta”, destacou.

Masterclass

As Ações mais Promissoras da Bolsa

Baixe uma lista de 10 ações de Small Caps que, na opinião dos especialistas, possuem potencial de valorização para os próximos meses e anos, e assista a uma aula gratuita

E-mail inválido!

Ao informar os dados, você concorda com a nossa Política de Privacidade.

Sobre o caso de Romero Jucá, Marques explica que a primeira reação a este tipo de notícia será sempre fortemente negativa, sendo que quando ocorre a “explicação” do fato, há um movimento de “zeragem” natural. Apesar disso, para ele a coletiva do ministro não amenizou o ambiente e os investidores aguardam os desdobramentos desta que está sendo chamda de a “primeira crise” do governo Temer.

“O caso Jucá é um problema sério. Mostra como a Lava Jato, uma das causas para queda de Dilma, ameaça o governo Temer. Além disso, a gravação e a divulgação da conversa indica briga de bastidor entre alas do PMDB”, afirma o analista político da MCM Consultores, Ricardo Ribeiro.

Uma série de gravações registradas em março mostram que o atual ministro do Planejamento conversou Sérgio Machado, sugerindo que uma “mudança” no governo federal resultaria em um pacto para “estancar a sangria” representada pela Operação Lava Jato. As informações são do jornal Folha de S. Paulo.

Continua depois da publicidade

Machado temia que as apurações contra ele fossem enviadas de Brasília, onde tramitam no STF (Supremo Tribunal Federal), para a vara do juiz Sergio Moro, em Curitiba (PR). Para ele , esta mudança no caso seria uma estratégia para que ele fizesse uma delação e incriminasse líderes do PMDB. Machado disse que novas delações na Lava Jato não deixariam “pedra sobre pedra”. Jucá concordou que o caso de Machado “não pode ficar na mão desse [Moro]”.

Conforme ressalta a Rosenberg Consultores Associados, “a capitulação de Jucá se torna um revés significativo ao governo interino, exatamente em um momento de alta sensibilidade popular às investigações de corrupção”.

Jucá se licencia
O ministro do Planejamento capitulou às denúncias e anunciou que se licencia do cargo até que o MPF (Ministério Público Federal) se manifeste. “Vamos aguardar a manifestação do Ministério Público com toda a tranquilidade, porque estou consciente que não cometi nenhuma irregularidade e muito menos qualquer ato contra a apuração da Lava Jato, apoiei a Lava Jato”, disse em entrevista no Congresso Nacional, após o presidente interino Michel Temer entregar a proposta de meta fiscal revisada. “Enquanto o MP não se manifestar, aguardo fora do ministério. Depois disso, caberá ao presidente Temer me reconvidar ou não, ele vai discutir o que vai fazer”, afirmou.

Destaques de ações
Enquanto isso, em dia de queda do petróleo, com o brent em baixa de 0,61%, e com gravações reveladas de Romero Jucá aumentando a turbulência em relação ao governo Michel Temer, as ações da Petrobras (PETR3, R$ 11,04, -2,56%; PETR4, R$ 8,50, -4,49%) também têm forte baixa.

No noticiário da estatal, o novo presidente da Petrobras, Pedro Parente, acertou com o atual diretor financeiro da estatal, Ivan Monteiro, a sua permanência no cargo, segundo informações da coluna de Sonia Racy, do Estado de S. Paulo. Ex-Banco do Brasil, Monteiro foi para a petroleira com Aldemir Bendine e, por lealdade, não estava querendo ficar; porém, decidiu permanecer na companhia após o encontro. 

Por fim, em entrevista ao Valor Econômico, o ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, informa que o governo Michel Temer apoiará o projeto aprovado no Senado Federal que flexibiliza a exigência de ter a Petrobras como operadora única e obrigatória do pré-sal. Padilha sinalizou também que, mesmo com a permanente queda do barril de petróleo no mercado internacional, não haverá redução do preço da gasolina: “Se a Petrobras está em situação delicadíssima […], seria irresponsabilidade”.

As maiores baixas, dentre as ações que compõem o Índice Bovespa, foram:

 Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano
 USIM5 USIMINAS PNA 1,74 -4,92 +12,26
 PETR4 PETROBRAS PN 8,50 -4,49 +26,87
 JBSS3 JBS ON 10,55 -4,09 -10,56
 SMLE3 SMILES ON 40,26 -3,91 +24,16
 KROT3 KROTON ON ED 10,96 -3,61 +15,47

As ações da Vale (VALE3, R$ 14,44, +2,19%; VALE5, R$ 11,50, +0,88%) fecharam em alta e ajudaram a distanciar o Ibovespa da mínima mesmo com a derrocada do preço do minério de ferro. A commodity negociada em Qingdao registrou derrocada de 6,68%, a US$ 51,22. Ajuda a aliviar o cenário da companhia o Bank of America Merrill Lynch, que divulgou comunicado reiterando compra para as ações da mineradora, com a venda de ativos podendo surpreender.

As maiores altas, dentre os papéis que compõem o Índice Bovespa, foram:

 Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano
 VALE3 VALE ON 14,44 +2,19 +10,82
 FIBR3 FIBRIA ON 31,85 +2,12 -37,53
 SANB11 SANTANDER BRUNT 18,03 +2,04 +18,29
 RADL3 RAIADROGASILON 57,19 +2,03 +61,64
 GGBR4 GERDAU PN 5,88 +1,20 +26,45


A Embraer (EMBR3, R$ 18,96, +0,05%) oscilou entre leves perdas e ganhos. No radar da companhia há a informação que a mexicana Across assinou pedido firme para 23 jatos executivos, que já está incluso em sua carteira de pedidos do primeiro trimestre deste ano e tem valor estimado em mais de 260 milhões de dólares pelo preço de lista. O pedido inclui oito aeronaves Legacy 500, oito Phenom 300 e sete Phenom 100E, cujas entregas acabam de começar, disse a Embraer em comunicado.

As ações mais negociadas, dentre as que compõem o índice Bovespa, foram:

 Código Ativo Cot R$ Var % Vol1
 PETR4 PETROBRAS PN 8,50 -4,49 434,58M
 ITUB4 ITAUUNIBANCOPN 30,18 +0,33 371,31M
 VALE5 VALE PNA 11,50 +0,88 302,64M
 BBDC4 BRADESCO PN 24,45 +0,29 197,93M
 KROT3 KROTON ON ED 10,96 -3,61 194,40M
 ABEV3 AMBEV S/A ON 18,44 -0,54 162,19M
 BRFS3 BRF SA ON 44,90 -2,09 151,45M
 BBAS3 BRASIL ON 17,00 -1,79 143,60M
 ITSA4 ITAUSA PN 7,35 +0,27 137,74M
 JBSS3 JBS ON 10,55 -4,09 133,88M

* – Lote de mil ações 
1 – Em reais (K – Mil | M – Milhão | B – Bilhão)
 

Boletim Focus
O Boletim Focus desta semana mostrou uma leve alta na expectativa para a inflação deste ano, para 7,04% ante 7% no último relatório. Já em relação à Selic, a projeção foi revista de 13% para 12,75%. Atualmente a taxa básica de juros está em 14,25% ao ano. Para 2017, a expectativa caiu de 11,50% ao ano para 11,38%.

Já a previsão para o PIB deste ano deu uma leve melhorada de 0,05 ponto percentual: em vez de recuo de 3,88%, os analistas preveem um tombo de 3,83%. A expectativa para o ano que vem foi mantida pela segunda vez consecutiva em alta de 0,50%. A cotação do dólar esperada para dezembro deste ano baixou, passando de R$ 3,70 na semana passada para R$ 3,67.

Juros nos EUA
O presidente da distrital do Federal Reserve em São Francisco, John Williams, reiterou hoje que prevê dois ou três aumentos dos juros básicos do Fed neste ano. Sobre quando poderá vir o próximo aumento, “o momento exato vai depender dos dados (futuros)”, disse Williams, que não tem direito a votos nas reuniões do Fed neste ano.

Segundo Williams, o número de elevações de juros em 2016 provavelmente será o indicado nas projeções oficiais do Fed. Williams, que falou durante evento em Nova York, também comentou que o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA em 2016 deverá ser semelhante ao do ano passado, com expansão de cerca de 2%, e que o Fed está fazendo “bom progresso” para levar a inflação de volta a sua meta, que é de 2%.

Bolsas internacionais
Enquanto isso, no exterior, as bolsas chinesas subiram neste início de semana, mas o volume de negócios permaneceu fraco, com a tendência baixista dos mercados persistindo com o governo evitando novos estímulos. O índice CSI300, que reúne as maiores companhias listadas em Xangai e Shenzhen, avançou 0,29%, enquanto o índice de Xangai teve alta de 0,66%. Por outro lado, o japonês Nikkei registrou baixa de 0,49%.

“O pessimismo substituiu o otimismo quando o governo colocou a reestruturação, em lugar dos estímulos ou crescimento, no centro de suas políticas econômicas”, disse Yu Bin, analista do Zhongtai Securities. Já o índice Nikkei do Japão encerrou a sessão com queda de 0,5%, com dados econômicos preocupantes e notícias de que o aumento do imposto sobre as vendas no país será implementado, acabando com as esperanças de um adiamento.

Na Europa, o dia foi de queda para as bolsas, seguindo o movimento do petróleo, que tem baixa de 0,63%, a US$ 48,96 o barril, com os produtores no Canadá tentando retomar as operações após incêndio. Cobre e outros metais recuam com queda das importações da China.

Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.