Ex-executivo do BTG conta como deixou banco e criou gestora de R$ 100 milhões

Criada com objetivo de ser uma casa de equity pura, gestor diz: "não estamos atrás de empresas baratas, o que mais tem na Bovespa são empresas baratas porque merecem ser"

Paula Barra

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SÃO PAULO – O ex-funcionário do renomado BTG Pactual, André Vainer decidiu há cerca de dois anos deixar de ser empregado para criar sua própria gestora, a Athena Capital, com o objetivo de criar uma área de asset pura no Brasil. A ideia era limitar a tomada de decisões para um pequeno grupo de executivos, que tinha como foco a própria gestora, e não um grupo como um todo, da forma como ocorria pelos bancos e corretoras que passou ao longo de sua estrada de 15 anos no mercado financeiro. 

Uma casa puramente fundamentalista e que conta com uma equipe de cinco analistas escolhida a dedo para garimpar boas ações, com previsibilidade razoável e que deem retorno elevado no longo prazo. Essa é a essência da Athena, que atualmente gere quase R$ 100 milhões em recursos. “Não estamos atrás de empresas baratas, o que mais tem na Bovespa são empresas baratas porque merecem ser. Queremos empresas que julgamos que são muito boas. Nossa atenção é 100% em equity”, disse Vainer, em entrevista ao InfoMoney.

E é isso que hoje é a Athena: uma casa de essência monoproduto, 100% voltada para ações. “Não queremos perder tempo com outros produtos. O que eu gosto e tenho prazer é analisar renda variável. Estamos em um mercado muito competitivo, com pessoas extremamente capacitadas e focadas. Se você não delegar tempo integral à análise dos ativos, você vai ficar para trás”, comentou.

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Em busca do sonho
Foi esse um dos motivos que ele decidiu largar o trabalho em bancos e corretoras para criar sua própria asset. Depois de passar três anos no BTG Pactual, Vainer, que se formou nos Estados Unidos, passou pela GAP Investimentos para depois assumir a XP Gestão, no meio da crise de 2008. 

“A XP, na época, era uma corretora pura de varejo e tinha acabado de criar uma mesa institucional e possuía um fundo de ações, mas não tinha uma pessoa de fato tocando o projeto. Então eles me procuraram para abrir a gestora, que inicialmente seria uma casa de equity. Só que passado alguns anos, a XP Gestão mudou de estratégia, saindo de uma casa de equity para multiprodutos. Como esse não era o meu ideal, decidi sair e foi quando criei a Athena”, conta. 

A ideia dele sempre foi não gastar tempo com outras coisas senão ativos de renda variável, “que é onde sei que está meu diferencial”. A Athena então surgiu para ser uma coisa só. “Juntei tudo que aprendi nos meus anos no BTG, GAP e XP para montar a gestora, principalmente nos termos de governança corporativa, remuneração, sociedade, status. Tudo que estamos implementando na Athena com os meus 15 anos de experiência nessas três casas”. Principalmente no que diz respeito à meritocracia e agressividade de gestão, herança bem recebida do BTG Pactual, lembra.

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Estratégia
Hoje, a Athena concentra toda sua estratégia em um fundo, o Athena Total Return FIC FIA , que atualmente é destinado apenas para investidores qualificados. Nos planos estão abrir um fundo para os demais investidores, mas Vainer explica que o motivo de ainda ser restrito é por conta do indexador, pois se abrirem não poderiam mais usar o IPCA.

“Nosso objetivo hoje é buscar o IPCA mais 6% de retorno. Não investimentos na Bolsa, mas em empresas. Quando você tem um benchmark como o Ibovespa, acaba criando uma metodologia que tem como obrigação olhar alguns ativos que não necessariamente acreditamos que vai gerar valor, mas que é muito relevante para o índice, como Petrobras (PETR3; PETR4), por exemplo. Você poderia ser até efetivo em outros ativos, mas se não tivesse Petrobras provavelmente não conseguiria bater seu benchmark”, explica.

Com o alvo no IPCA mais 6%, ele acredita que eles consegue focar apenas no que pode gerar valor. Além disso, isso seria mais justo com o cliente, pois o que acontece com muitos fundos de ações é que eles entregam uma rentabilidade quase que nula mas mesmo assim estão fazendo um “ótimo trabalho”, já que superaram o desempenho negativo do Ibovespa. “Quero dar retorno absoluto. Claro que no curto prazo o Ibovespa é um parâmetro como renda variável, mas no fim das contas queremos dar retorno nominal e real. Quando olhamos a rentabilidade, a obrigação é remunerar o capital do cotista de forma real. Assim estamos sendo totalmente justos e alinhados com o cotista”, explica.

Segundo ele, a visão do longo prazo é muito importante porque eles não estudam uma empresa preocupados se irá subir em dois ou três meses, mas se irá subir ao longo dos anos. “O brasileiro tem mania de investir em Ibovespa, mas tem que olhar outras alternativas”. Embora ainda muito prematuro – o histórico do fundo é de maio de 2014 -, a estratégia tem batido o Ibovespa: enquanto o índice caiu 4,5% de maio a dezembro do ano passado, o fundo da Athena subiu 2,41%. 

Aprendendo com a crise de 2008
Com esse foco, Vainer conseguiu passar e, muito bem, pela crise de 2008, quando comandava a XP Gestão.  “Eu entrei na XP Investimentos no meio de 2008, em um período bem tumultuado, logo depois que o Lehman Brothers quebrou, mas tudo se provou uma grande oportunidade de investimento da minha geração. E soubemos aproveitar isso muito bem”, comentou. Na época, o fundo que geria subiu 70% (isto até 2013, quando saiu da corretora), enquanto o Ibovespa caiu próximo de 6%. “Conseguimos rentabilizar muito bem os cotistas em um universo bem adverso de investimentos em renda variável. Não só batemos o Ibovespa como também todos os indicadores de renda fixa”, lembra. 

Desempenho atribuído principalmente a estratégia de olhar ativo a ativo e não se preocupar com o mercado em si. “No curto prazo não tem jeito, seja nas altas ou nas quedas, você acaba tendo uma correlação bastante alta de qualquer ativo com o mercado, mas no longo prazo isso vai se dissipar e essa correlação vai ficar muito baixa. Sempre batemos na tecla de que não investimentos na Bolsa, mas sim em empresas”, comentou.

Segundo ponto que ele destaca é olhar pouco para a macroeconomia. “Claro que tenho uma visão do que está acontecendo no macro, mesmo porque me formei em economia, mas não é só antecipar o dólar, juros e inflação que vamos achar investimentos bons ou ruins”. Vainer comenta que os fundos que gere só investem em ativos que eles enxergam valor e se justifiquem estruturalmente, mesmo em cenários macroeconômicos complicados. 

Por isso, hoje, o fundo da Athena tem, por exemplo, uma fatia na Equatorial (EQTL3), do setor de energia. “É uma empresa bem gerida, barata e em um setor de retorno elevado. O risco de racionamento existe mas o impacto nos fluxos de caixa futuro é reduzido. Ele influencia a decisão de alocação, porque teríamos uma participação maior da empresa no fundo neste momento, mas não inviabiliza o case de investimento”, comenta.