Por que o resultado do BB foi tão ruim e o do Itaú e Bradesco foram tão bons?

Se Itaú e Bradesco trouxeram ânimo para o mercado, o Banco do Brasil criou temores nos analistas e viu suas ações desabarem 8% na Bolsa

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – Na última semana, o Bradesco (BBDC3; BBDC4) deu início à temporada de resultados do terceiro trimestre para os bancos e surpreendeu de forma positiva, colaborando para uma alta dos papéis do setor no dia 30 de outubro. O mesmo se repetiu com os dados do Itaú Unibanco (ITUB4), que registrou o melhor resultado até o momento. Porém, diferente dos seus pares, hoje o Banco do Brasil (BBAS3) seguiu no caminho oposto e desapontou os especialistas.

Quem explicou as razões dos números do banco estatal serem tratados como ruins foram exatamente os dois bancos privados. Para a equipe do Bradesco, um dos pontos mais “interessantes” do balanço foi a ausência da expansão da margem do banco, e segundo eles o NIM (margem financeira líquida) contraiu 8 pontos no trimestre.

“Alguns analistas esperavam uma continuidade da expansão do NIM, o que poderia ser um driver para uma expansão do ROAE [retorno sobre o patrimônio médio] e justificaria maiores valuations para o banco”, disseram os analistas Carlos Firetti e Bruno Chemmer, do Bradesco. Para eles, esse dado negativo ocorreu devido aos spreads mais elevados observados nos últimos dois meses em dados do Banco Central. “Mas há quem acredite que isso ainda não está totalmente refletido nas ações BBAS3”, completaram os analistas.

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Diante disso, Firetti e Chemmer não acreditam ser o momento certo para mudarem suas projeções para a estatal, mantendo a recomendação neutra sobre os papéis. “Nós vamos esperar mais informações sobre como o Banco do Brasil irá se comportar (…) Nós acreditamos que ele vai manter uma abordagem moderada, mas ainda mantemos uma visão cautelosa sobre o nome”, disse a dupla.

Enquanto isso, o Itaú viu o resultado de forma menos pessimista, mas destacou outros pontos que pesaram no balanço, afirmando que a qualidade dos ativos do Banco do Brasil “deteriorou-se ligeiramente no terceiro trimestre”. Em destaque, a equipe do banco deixou o nível de inadimplência, que aumentou 10 pontos e atingiu 2,5%, o que acabou contraindo o índice de cobertura. Sem dar muitos detalhes, os analistas também disseram que “outras despesas operacionais aumentaram notavelmente”.

Sobre o aumento da inadimplência, o vice-presidente de Finanças do BB, Ivan Monteiro, afirmou que isso não é uma tendência e que os atuais níveis devem se estabilizar ou cair. “Essa alta recente não configura tendência”, disse o executivo.

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Essas surpresas negativas do balanço e as dúvidas criadas para os próximos trimestres tiveram grande reflexo na Bolsa nesta quarta-feira, com os papéis do Banco do Brasil fechando com perdas de 7,93%, a R$ 26,47,  figurando assim na pior posição dentre as 70 ações do Ibovespa.

Bradesco e Itaú animaram
O primeiro do setor financeiro a reportar seu resultado, na semana passada o Bradesco mostrou lucro líquido de R$ 3,875 bilhões no terceiro trimestre, um crescimento de 28,2% na comparação com o mesmo período do ano passado. Em bases recorrentes, o lucro do segundo maior banco privado do país foi de R$ 3,95 bilhões entre julho e setembro.

Mesmo assim, o resultado ainda foi parcialmente afetado pelo efeito contábil negativo de R$ 598 milhões após o colapso do português Banco Espírito Santo, no qual o Bradesco tinha 3,9% do capital. O banco ainda revisou a previsão de crescimento da carteira de crédito em 2014, de 10% a 14% para a de 7% a 11%.

Enquanto isso, o índice de inadimplência acima de 90 dias da instituição foi de 3,6% no trimestre, ante 3,5% no fim de junho e 3,6% em setembro de 2013. As despesas do grupo com provisões para perdas com inadimplência somaram R$ 3,348 bilhões entre julho e setembro, avanço de 16,2% ante igual etapa do ano passado.

Enquanto isso, o Itaú apresentou o que foi considerado o melhor resultado, com um lucro líquido de R$ 5,404 bilhões, ante R$ 3,995 bilhões em igual período de 2013. Em bases recorrentes, o lucro da maior instituição financeira privada da América Latina foi de R$ 5,457 bilhões, ante R$ 4,022 bilhões um ano antes. A previsão média de analistas consultados pela Reuters apontava para lucro líquido recorrente de R$ 5,029 bilhões no trimestre.

Entre os principais fatores, analistas reforçam três que fizeram o resultado do banco ser um sucesso entre os meses de julho e setembro: melhora na inadimplência, expansão da margem financeira e aumento na receita de prestação de serviços.

Novamente, o banco mostrou melhora na inadimplência – tanto na comparação anual quanto em relação ao trimestre anterior -, expansão de margem financeira (+21,4%) e aumento de 17,3% na receita de prestação de serviços, o que compensou a evolução, mesmo que comportada, das provisões para devedores duvidosos (+3,2%), comentaram Bradesco, XP Investimentos, Planner Corretora e Concórdia.

Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.