Ibovespa afunda pelo 3º dia com pessimismo de FMI e UBS e cautela com Fed

Mercado financeiro amplia ceticismo com relação à economia brasileira, enquanto especulações com resultado do Fomc e dados do BC reforçam pessimismo; Petrobras e imobiliárias caem forte

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – O Ibovespa conheceu sua terceira queda consecutiva nesta terça-feira (29), ao terminar o dia com perdas de 1,00%, a 57.118 pontos, refletindo a postura mais cautelosa dos investidores na Bolsa em meio a dados econômicos nacionais negativos, especulações sobre Fomc e novas sanções à Rússia. Entre as principais responsáveis por puxar o índice, destaque para as ações da Petrobras (PETR3, R$ 18,43, -2,80%; PETR4, R$ 19,62, -2,63%), imobiliárias e elétricas. O giro financeiro da Bovespa foi de R$ 5,53 bilhões.

No noticiário doméstico, destaque para a divulgação do quinto mês seguido de desaceleração no crescimento do mercado de crédito em junho, fazendo com que o País voltasse a níveis de 2004. Segundo o Banco Central, o estoque de crédito total aumentou 11,8% no acumulado de 12 meses, ante 12,7% registrados um mês antes, nos mesmos parâmetros. Contribuem para o cenário mais adverso as taxas mais elevadas de juros e os spreads cada vez mais altos.

Na mesma data, influenciou no pessimismo dos investidores da Bovespa o relatório do FMI (Fundo Monetário Internacional), que criticou duramente as recentes intervenções do governo no dólar deixaram o real sobrevalorizado, ficando acima do nível desejável. Além disso, os economistas afirmaram que a posição externa do Brasil está “mais fraca que o desejável”.

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No documento, o FMI diz que a situação das contas externas do Brasil é “moderadamente frágil” e que o País corre o risco de ver esse cenário de deteriorar rapidamente caso o ambiente continue mostrando queda no preço das commodities. Sobre o câmbio, a entidade avaliou que o real estava sobrevalorizado em 15% em 2013.

Ceticismo com relação ao mercado nacional também foi visto em relatório do UBS, que recomendou que seus clientes vendam ações na Bovespa. Para o estrategista do banco, Geoffrey Dennis, o momento é de cautela e avaliação “underweight” (ou seja, abaixo da média do mercado) para as ações brasileiras, visto que os ganhos da Bolsa no período parecem exagerados se fundamentos forem mais levados em conta. Para as projeções do bancos suíços, o Ibovespa deve terminar 2014 aos 55 mil pontos, com o dólar R$ 2,45.

Efeitos internacionais
Dia de perdas também foi visto nas bolsas dos Estados Unidos, que viraram para o negativo após chegarem a registrar ganhos até o começo da tarde impulsionados pela temporada de resultados corporativos. Pesou na mudança de humor do mercado a aplicação de novas sanções ao governo russo. Enquanto os governos da União Europeia aprovaram uma medida contra setores como de petróleo e defesa durante a manha, a tarde marcou a vez dos EUA imporem sanções contra os bancos russos.

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Na maior economia do mundo, a terça-feira também marcou o primeiro dia de novas reuniões do Fomc (Federal Open Market Committee). As especulações sobre a decisão do Federal Reserve sobre um possível aumento na taxa de juros americanas antes do esperado voltaram a pesar sobre o mercado brasileiro.

Enquanto isso, pelo mercado cambial, o dólar fechou em alta de 0,34%, cotado a R$ 2,2311 na venda.

Destaques do pregão
As ações dos setores imobiliário e varejista figuraram entre as principais perdas do dia, uma vez que uma alta nos juros da maior economia do mundo pode forçar elevações também na Selic, conforme explicou o analista-chefe da Leme Investimentos, João Pedro Brugger. “Isso traz um reflexo direto nas imobiliárias e varejistas, que são mais sensíveis a essas questões. Além disso, o mercado como um todo esteve mais sensível hoje, adotando um tom mais de cautela”, disse.

No setor imobiliário, destaque para os papéis da Cyrela (CYRE3, R$ 12,78, -4,84%), MRV Engenharia (MRVE3, R$ 7,56, -3,08%), Rossi (RSID3, R$ 1,51, -3,82%), PDG Realty (PDGR3, R$ 1,45, -3,97%) e Even (EVEN3, R$ 6,30, -3,96%).

Na contramão do dia negativo, as ações da Vale (VALE3, R$ 32,92, +0,30%; VALE5, R$ 29,35, -0,03%) foram algumas das poucas a fecharem com ganhos. Ontem, dados positivos da China – principal destino das exportações da mineradora – trouxeram otimismo. Dados mostraram um salto robusto nos lucros registrados por empresas industriais na segunda maior economia do mundo. Os lucros contabilizados por companhias industriais chinesas subiram 17,9% em junho, para 588,08 bilhões de iuanes (US$ 94,98 bilhões) ante o ano anterior, subindo com força ante um crescimento de 8,9% em maio, segundo a Agência Nacional de Estatísticas.

As ações da Oi (OIBR4, R$ 1,52, +4,11%) lideraram os ganhos do dia. Em relatório, o Itaú BBA destacou que os acionistas da Oi estão isolados de qualquer risco da Portugal Telecom. A Oi procura garantir recomposição da posição de caixa comprometida pelos papéis da Rioforte. Em comunicado de ontem, a companhia informou que as ações que serão entregues pela Portugal Telecom para salvar a fusão das companhias não precisarão ser mantidas na tesouraria da empresa brasileira nem da companhia resultante, a CorpCo.

Já as ações da TIM (TIMP3, R$ 12,29, -1,13%), após chegarem a subir 1,29% no intraday, viram para fechar no negativo. Segundo El Economista, Marco Patuano, presidente do Conselho da Telecom Italia, discutiu possível aliança entre TIM Brasil e GVT com a presidente Dilma, citando pessoas não identificadas com conhecimento da situação.

Conforme destaca a XP Investimentos, se a TIM for vendida ou associada a GVT é ruim para as concorrentes, pois mantém um competidor e forte (GVT) no mercado, sendo positivo para a TIM e negativo para o setor. Porém, a melhor solução para o setor de telecom é a companhia ser fatiada entre as três outras empresas, Vivo (VIVT4, R$ 45,08, -1,64%), Claro e Oi, pois retiraria um competidor do mercado.

Já entre as maiores quedas, destaque para os papéis da Gol (GOLL4, R$ 14,34, -3,69%), com os investidores embolsando os lucros após fortes ganhos e após o Raymond James rebaixar a recomendação dos ativos para marketperform (desempenho em linha com a média do mercado).

As empresas de energia elétrica também recuaram forte, com destaque para Cemig (CMIG4, R$ 19,05, -2,66%) e Eletropaulo (ELPL4, R$ 10,84, -2,43%), após a diretoria da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) decidir adiar até 28 de agosto o prazo para liquidação das despesas das distribuidoras com as operações de maio do mercado de energia de curto prazo, que não estão cobertas pela tarifa.

Com o novo prazo, o governo ganha mais tempo para negociar com um pool de bancos, incluindo o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), um empréstimo de cerca de R$ 6,5 bilhões para cobrir os custos adicionais das distribuidoras até o fim do ano. Segundo um operador ouvido pela Reuters, o adiamento pesa nas ações do setor, pois sinaliza dificuldade do governo em negociar o novo empréstimo com bancos. 

As maiores baixas, dentre as ações que compõem o Índice Bovespa, foram:

 Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 ENBR3 ENERGIAS BR ON 10,68 -5,07 +1,03 9,37M
 CYRE3 CYRELA REALT ON 12,78 -4,84 -9,53 40,49M
 BVMF3 BMFBOVESPA ON 12,57 -4,48 +15,50 183,17M
 CESP6 CESP PNB 30,36 -4,05 +50,54 15,22M
 PDGR3 PDG REALT ON 1,45 -3,97 -19,89 8,86M

As maiores altas, dentre os papéis que compõem o Índice Bovespa, foram:

 Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 OIBR4 OI PN 1,52 +4,11 -57,66 73,19M
 CSAN3 COSAN ON 37,30 +0,95 -4,84 51,75M
 TBLE3 TRACTEBEL ON 35,35 +0,57 -1,64 21,89M
 SANB11 SANTANDER BR UNT N2 15,30 +0,53 +27,03 15,97M
 ABEV3 AMBEV S/A ON EDJ 16,40 +0,52 -1,42 89,12M

As ações mais negociadas, dentre as que compõem o índice Bovespa, foram :

 Código Ativo Cot R$ Var % Vol1 Vol 30d1 Neg 
 PETR4 PETROBRAS PN 19,62 -2,63 750,49M 694,99M 56.277 
 ITUB4 ITAUUNIBANCO PN 35,67 +0,45 354,69M 296,37M 17.649 
 VALE5 VALE PNA 29,35 -0,03 294,49M 310,65M 15.839 
 PETR3 PETROBRAS ON 18,43 -2,80 285,98M 247,70M 24.991 
 BBDC4 BRADESCO PN 35,09 +0,43 233,45M 221,46M 13.747 
 BVMF3 BMFBOVESPA ON 12,57 -4,48 183,17M 95,83M 13.708 
 BBAS3 BRASIL ON 28,66 -1,55 169,65M 161,21M 15.059 
 CIEL3 CIELO ON 44,25 -1,32 164,37M 124,90M 7.530 
 BBSE3 BBSEGURIDADE ON 34,73 -1,17 146,68M 114,46M 7.660 
 VALE3 VALE ON 32,92 +0,30 98,99M 109,90M 7.281 

* – Lote de mil ações
1 – Em reais (K – Mil | M – Milhão | B – Bilhão)
 

Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.