5 coisas que você precisa saber sobre o Iraque, que voltou à cena mexendo com os mercados

Os preços do petróleo dispararam, mas os mercados de renda variável ainda não se abalaram; veja o que esperar

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Enquanto os brasileiros – e boa parte do mundo – voltavam os seus olhos para a Copa do Mundo, o oriente sofria com o aumento das tensões no Iraque. Após quase dez anos sem chamar tanto as atenções do mercado, o país voltou à cena e mexeu com os mercados mundiais na última quinta-feira, tendo potencial para ainda maiores turbulências daqui para frente. 

Os mercados financeiros estão vendo apenas uma movimentação modesta como reação ao conflito, mas mais problemas podem vir daqui para a frente. Mas o que está acontecendo e quais são os efeitos para o mercado. Aqui estão cinco pontos do que você precisa saber sobre o assunto, de acordo com o Market Watch – e também os efeitos para o mercado brasileiro:

1- O que está acontecendo?
O grupo islâmico EIIL (Estado Islâmico do Iraque e do Levante) está se aproveitando do descontentamento crescente entre a minoria sunita em relação ao governo e a dimensão mais sectária da guerra civil síria, já que a maioria dos rebeldes sunita lutam para derrubar um regime dominado por membros de uma seita shiita. 

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Com isso, os insurgentes conseguiram cruzar a fronteira com facilidade. Na véspera, horas após forças curdas étnicas tomarem o controle da região produtora de petróleo de Kirkuk, no Iraque, após tropas do governo liderado pelos xiitas abandonarem seus postos, o presidente Barack Obama foi perguntado se ordenaria ataques aéreos ou outras ações para deter insurgentes que apreenderam grande parte do norte do país nesta semana.

Obama estava considerando possíveis ataques aéreos para diminuir o ritmo de militantes sunitas mas, na tarde desta sexta-feira, descartou envio de tropas ao país. Porém, ele afirmou que está avaliando todas as opções para auxiliar o Iraque a lidar com os insurgentes jihadistas. 

Não enviaremos tropas americanas novamente para combater no Iraque, mas pedi a minha equipe de segurança nacional que prepare uma série de opções que possam ajudar as forças de segurança iraquianas”, afirmou o presidente norte-americano. 

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Desde terça-feira, combatentes do EILL, que não reconhecem as fronteiras modernas da região, tomaram controle de Mosul e Tikrit, cidade natal do ex-ditador Saddam Hussein, e também outras cidades ao norte de Bagdá. Há tempos os curdos sonham em tomar Kirkur e suas amplas reservas de petróleo. Eles consideram a cidade, próxima de sua região autônoma, como sua capital histórica, e unidades peshmerga já estavam presentes em um inquietante equilíbrio de forças com o governo.

2- Por que o Iraque é importante?
O Iraque é o oitavo maior produtor de petróleo e ocupa o segundo lugar dentre os integrantes da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), atrás apenas da Arábia Saudita. O país exporta cerca de 2,5 milhões de barris de petróleo por dia. Perder essa oferta, aponta o Market Watch, seria perturbador, podendo elevar os preços da commodity em US$ 15 a US$ 20 o barril. 

A produção de petróleo do Iraque está tentando se recuperar desde a invasão do Iraque pelos EUA, em 2003. A produção atingiu 3,6 milhões de barris por dia em fevereiro de 2014, seu nível mais alto em trinta anos. Desde então, a produção vem diminuindo, passando para 3,3 milhões de barris em maio, segundo analistas. 

A produção no Iraque era vista como uma boa notícia para os consumidores de petróleo em meio as turbulências como em países como a Líbia também vivem em conflito. Porém, a produção pode estar ameaçada se os conflitos aumentarem.

3 – Mas qual é a ameaça?
Um medo subjacente no mercado de petróleo é de que o conflito pode se espalhar para as principais áreas produtoras, no sul do país. Enquanto isso, a maior refinaria de petróleo no Iraque, permanece sendo controlada pelo governo, de acordo com o ministro de petróleo Abdul Kareem Luaibi, de acordo com a Reuters. Ele destacou que as exportações da commodity foram em média de 2,6 a 2,7 milhões de barris por dia na última quinta-feira. 

“Os campos de petróleo do norte tomados não eram muito ativos“, disse Phil Flynn, analista sênior do Futures Group. “Basra, no sul do Iraque parece estar funcionando normalmente e qualquer ataque a Bagdá pode ter uma resistência muito maior”, apontou.

4- O que isso significa para os mercados de petróleo?
Com o aumento das tensões no Iraque, os preços de petróleo dispararam nos principais mercados futuros do mundo e apontam para registrar a semana com a maior alta no ano. Em Nova York, o preço do barril de petróleo no mercado futuro ficou perto de US$ 107 (para vencimento em julho), registrando uma alta de 4% apenas na semana. Sendo negociado por volta dos US$ 107, o barril está sendo negociado no maior nível em nove meses. 

Basicamente, os preços aumentaram reagindo às notícias do Iraque, mas se mantiveram relativamente calmos, uma vez que a oferta de petróleo no Iraque não está sendo ameaçada, destacou Matt Parry, analista do setor de petróleo da Agência Internacional de Energia, ao Market Watch.

5- O que isso significa para os mercados financeiros?
Conforme ressalta o Market Watch, os mercados têm reagido de forma tímida ao aumento das tensões no Iraque. As ações europeias registraram leve alta na quinta-feira, enquanto Wall Street registrou perdas em meio a preocupações com o Iraque, mas também devido a dados econômicos mais fracos no país, mas longe de ser uma queda alarmante para as bolsas por lá. 

Na quinta-feira, o Dow Jones caiu 0,65%, a 16.734 pontos. O S&P 500 recuou 0,71%, a 1.930 pontos, enquanto o Nasdaq teve baixa de 0,79%, a 4.297 pontos. Contudo, nesta sexta, os mercados norte-americanos têm leve alta. 

“Os investidores parecem estar ‘dormindo no volante’ com relação ao conflito no Iraque, que tem potencial para ter um impacto muito forte no mercado”, disse Rebecca O’Keeffe, chefe de investimentos da corretora Interactive Investor em Londres. “Embora a maior parte do petróleo seja produzido no sul do país, há um risco crescente de que as escaladas de tensão entre xiitas e sunitas possam se espalhar, o que aumenta a ameaça de um aumento nos preços do petróleo”, ressalta o analista.

Por outro lado, o Ibovespa sofreu com os conflitos no Iraque. Além da maior aversão ao risco, que impacta os emergentes, as ações da Gol (GOLL4) foram as mais impactadas com esse cenário. Isso porque a companhia aérea sofre com a alta dos preços de petróleo, uma vez que boa parte dos custos da empresa vem do querosene, derivado da commodity. 

(Com Reuters)

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.