Correção virou tendência? 24 ações caem mais de 2% lideradas por elétricas e siderúrgicas

Cade dá parecer negativo e CSN terá que reduzir sua participação na Usiminas; risco de racionamento aumenta e pressiona setor elétrico

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – Se algumas pessoas esperavam que a queda da última sessão fosse apenas uma correção, o cenário visto nesta quarta-feira (9) mostra algumas mudanças no cenário. Diante de uma expectativa de racionamento de energia, as companhias elétricas e as siderúrgicas lideraram as perdas do pregão. Além disso, as companhias imobiliárias caíram forte com a surpresa da inflação pior que o esperado nesta manhã. No geral, foram 24 ações caindo mais de 2%.

As ações do setor elétrico desabaram neste pregão em meio a um rumor de que a consultoria PSR, uma das principais sobre o setor elétrico do País, divulgará amanhã um relatório ou informará ao governo a necessidade de que seja decretado o racionamento de energia. A Eletrobras (ELET3ELET6) viu seus papéis ordinários despencarem 6,58%, a R$ 6,82, e os preferenciais recuarem 6,94%, a R$ 11,00.

Também no negativo, ficaram as ações da Copel (CPLE6-2,69%, R$ 29,30), Eletropaulo (ELPL4-2,55%, R$ 8,79), Tractebel (TBLE3-2,65%, R$ 33,10), Cesp (CESP6-2,21%, R$ 26,10), Cemig (CMIG4-2,39%, R$ 15,49) e Light (LIGT3-2,96%, R$ 17,73). Apesar de todos os rumores, o InfoMoney entrou em contato com a PSR, que negou que tenha enviado recomendação de racionamento ou que se reunirá em breve com integrantes do governo federal sobre o assunto. A consultoria também informou que sempre considerou que qualquer decisão sobre racionamento só deve ser tomada ao final da estação chuvosa.

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Segundo a XP Investimentos, tal boato, independente de ser efetivado ou não, só reforça algo amplamente comentado no setor: com chuvas abaixo da média, e nível de reservatórios ainda baixos no fim da estação de chuvas, é necessário um racionamento de energia para que não alcancemos uma situação insustentável ou caótica em novembro quando se reinicia a estação de chuvas.

Com decisão do Cade, siderúrgicas desabam
Diante de um cenário de racionamento, o setor industrial brasileiro seria bastante impactado – dada a grande necessidade de energia do setor -, e na Bolsa esse temor fica claro com as companhias siderúrgicas. Neste pregão, as ações da Usiminas (USIM5) e CSN (CSNA3) figuraram entre as maiores quedas do Ibovespa, com desvalorizações de 6,26% e 5,20%, sendo cotadas a R$ 8,99 e R$ 9,11, respectivamente. Fora do índice, os papéis ordinários da Usiminas (USIM3) recuaram 9,81%, para R$ 8,00.

Porém, o que pesou para as duas companhias foi a decisão do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) anunciada nesta tarde e que obriga a CSN a reduzir sua participação na Usiminas. Há dois anos, o órgão, em medida preventiva, impediu a CSN de comprar novas ações da Usiminas. Em compras na bolsa, a CSN havia atingido 15,91% do capital total da concorrente. A CSN também foi proibida de indicar membros para o conselho fiscal e de administração da Usiminas.

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O objetivo foi preservar a concorrência entre as empresas, pois, com a participação alcançada, a CSN poderia eleger conselheiros e ter acesso a informações estratégicas da concorrente. A CSN hoje detém 20,7% das ações preferenciais e 14,1% das ordinárias. Apesar do Cade não ter dado todos os detalhes, os analistas da XP Investimentos, afirmaram que, ainda que a CSN não precise necessariamente vender tais ações a mercado, podendo buscar um sócio estratégico ou investidor interessando, ainda assim o evento coloca pressão sobre as ações de Usiminas dado o tamanho do lote da CSN na Usiminas.

Possível alta dos juros derruba imobiliárias
Apesar de já ser esperado que o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) de doze meses fosse ultrapassar a marca de 6%, o resultado de 0,92% em março surpreendeu o mercado e trouxe de volta o pessimismo, principalmente para companhias de construção civil. Com esses números a expectativa de novas altas nos juros voltam a crescer, já que esse tem sido o principal mecanismo do Banco Central para controlar a inflação.

Diante de nova alta na Selic, o crédito ao consumidor ficaria mais caro, o que acaba prejudicando a receita das imobiliárias. Com isso, as ações da PDG Realty (PDGR3) recuaram 2,44%, a R$ 1,60, junto com a Rossi (RSID3, R$ 1,72, -4,44%), MRV Engenharia (MRVE3, R$ 7,59, -2,94%) e Gafisa (GFSA3, R$ 3,74, -1,58%).

Estatais tem segundo dia de queda
Diante do cenário de correção e do fluxo de notícias negativas que impacta a Bolsa, as companhias estatais, que vinham de um forte rali, também registraram perdas neste pregão. Além da Eletrobras, prejudicada pelo rumores de racionamento, a Petrobras (PETR3, -1,10%, R$ 15,23; PETR4, -0,88%, R$ 15,85) e o Banco do Brasil (BBAS3, -3,22%, R$ 23,41) também fecharam no negativo.

Oi sobe com realização de lucros
Pelo segundo dia seguido, os papéis da Oi (OIBR4) subiram forte, com valorização de 5,43%, a R$ 3,30. Diante da forte desvalorização das ações nas últimas semanas, com as notícias da oferta pública da companhia – passo importante para a conclusão da fusão com a Portugal Telecom. Com uma possível diluição da participação dos acionistas minoritários no capital da empresa, as ações da companhia caíram forte nos últimos pregões.

Porém neste pregão, os ativos passaram pelo chamado “short squeeze”, que ocorre quando o preço de uma ação sobe de tal forma que os investidores que se posicionaram vendidos no papel buscam fechar suas posições (ou seja, comprar essas ações) e zerar suas posições. nos últimos dias a taxa de aluguel das ações da Oi subiu fortemente por conta da indisponibilidade do ativo para locação, após a assembleia de acionistas ter aprovado o aumento de capital da operadora no fim de março.

Sabesp sobe mesmo com possível racionamento
Outro papel que se “salvou” neste pregão foi o da Sabesp (SBSP3), que subiram 1,70%, para R$ 20,39, mesmo após a empresa anunciar que cogita fazer rodízio de água em São Paulo. A Sabesp afirmou, em documento, que se “as chuvas não retornarem a índices adequados e, consequentemente, os níveis dos reservatórios não forem restabelecidos, poderemos ser obrigados a tomar medidas mais drásticas, como o rodízio de água”. Temores de um racionamento de água surgiram neste ano diante da falta de chuvas no verão e do recuo nos reservatórios da empresa, com o Sistema Cantareira, que abastece parte da região metropolitana de São Paulo e algumas cidades do interior, atingindo um nível de 12,7% nesta quarta-feira.

Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.