Das geradoras às transmissoras: como cada elétrica é impactada pelo “risco apagão”?

Dividido em quatro segmentos, nem todas as companhias têm os mesmos impactos com as notícias recentes sobre o setor

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – Nas últimas semanas, um setor em particular tem ganhado destaque no noticiário econômico: o elétrico. Se nos últimos anos as companhias elétricas passaram por grandes adversidades, 2014 já tem sido bem agitado para estas empresas, com um grande fator criando este cenário: a falta de chuvas.

Um dos primeiros reflexos da falta de chuvas foi a disparada do preço da energia de curto prazo, que, com queda dos reservatórios, atingiu R$ 822,83 MWh e teve seu impacto em diversos papéis de companhias elétricas. No início deste mês, um apagão que afetou 11 estados e trouxe novas preocupações de um possível racionamento de energia.

Porém, como o setor é dividido entre empresas focadas em segmentos diferentes, essas notícias acabam não tendo o mesmo impacto em cada uma delas. Basicamente, as companhias elétricas são separadas em quatro negócios diferentes: geração, transmissão, distribuição e comercialização. Vale ressaltar que a maioria das empresas elétricas tem negócios em mais de um segmento.

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O quadro abaixo mostra como se dividem estes quatro segmentos do setor elétrico e as empresas que fazem parte de cada segmento.

Segmento Qual o papel dentro do setor Principais Empresas
Geração Responsável por produzir energia elétrica e injetá-la nos sistemas de transporte (transmissão e distribuição)
para que chegue aos consumidores. No Brasil,
o segmento é bastante pulverizado, contando,
em sua maioria com termoelétricas, mesmo que 70% da produção nacional venha de hidrelétricas. 
Energias do Brasil, Eletrobras, Cemig, CPFL Energia, Cesp, Light, Tractebel, Copel e AES Tiete
Transmissão É aquele que se encarrega de transportar grandes quantidades de energia provenientes das usinas. A interrupção de um linha de transmissão pode afetar cidades inteiras ou até mesmo estados.
No Brasil, esse segmento conta com 77 concessionárias, responsáveis pela administração e operação de
mais de cem mil quilômetros de linhas de
transmissão espalhadas pelo país, conectando
os geradores aos grandes consumidores ou,
como é o caso mais comum,
às empresas distribuidoras.
Eletrobras, Cemig, Copel, Taesa, CTEEP e Alupar
Distribuição  Recebe grande quantidade de energia do sistema de transmissão e a distribui de forma
pulverizada para consumidores médios e pequenos. Existem também unidades geradoras de menor porte, normalmente menores do que 30 MW, que injetam sua produção nas redes do sistema de distribuição. É a empresa distribuidora quem faz com que a energia elétrica chegue às residências e pequenos comércios e indústrias.

Energias do Brasil, Eletrobras, CPFL Energia, Light, Eletropaulo, Copel e Coelce

Comercialização

O segmento de comercialização de energia
é relativamente novo, tanto no Brasil quanto
no mundo. Seu papel está muito mais relacionado ao contexto econômico e institucional do que propriamente ao processo físico de produção e transporte da energia. 
Atualmente, existem mais de 100
agentes de comercialização de energia elétrica no Brasil, muitos deles atuando como intermediários entre usinas e consumidores livres.

Energias do Brasil, CPFL Energia, Light e AES Tiete

É importante ressaltar, que em relação ao preço de energia, os segmento são regidos de forma diferente. Até 2012, as empresas de geração podiam negociar seus valores livremente, fato que mudou no ano passado com a renovação das concessões de usinas hidrelétricas. Enquanto isso, o segmento de transmissão e distribuição têm seus preços regulados pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica). A Agência é a responsável por realizar as revisões e reajustes tarifários de cada empresa. 

Sabendo um pouco mais sobre como funciona cada segmento do setor, o InfoMoney buscou especialistas para explicarem quais os impactos do noticiário recente – preço recorde de energia ou riscos de novos apagões ou racionamento – em cada empresa listada na BM&FBovespa.

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Evento 1: preço recorde de energia
Com a escassez de chuvas nas regiões Sudeste e Centro-Oeste, o preço de energia de curto prazo, calculado pelo PLD (Preço de Liquidação de Diferenças), atingiu seu recorde histórico nesta semana, chegando ao teto determinado para o ano de R$ 822,83 por megawatt-hora. O diretor da Ativa Corretora, Ricardo Correa, explica que neste cenário as distribuidoras precisam recorrer ao mercado de curto prazo para suprir o montante de energia que elas não possuem. Com o preço em sua máxima, as companhias do segmento acabam prejudicadas e veem seu caixa ficar bastante pressionado, ainda mais porque elas não podem repassar o valor para os consumidores antes de suas revisões tarifárias.

As empresas que seriam mais prejudicadas com isso seriam a Light (LIGT3), Eletropaulo (ELPL4) e CPFL Energia (CPFE3). Segundo a equipe de análise da XP Investimentos, a pressão no caixa dessas empresas deve ser um fator bastante negativo. Eles explicam que no final do ano passado, com o PLD próximo de R$ 300 MWh, a Abradee (Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica) calculava que o rombo no caixa das distribuidoras poderia chegar a R$ 13 bilhões, sendo que, com esse aumento do preço, esse prejuízo pode chegar a R$ 15 bilhões.

Por outro lado, o segmento que ajuda a suprir as distribuidoras é o de geração, ou seja, as companhias geradoras conseguem vender energia no maior preço possível, sendo assim, bastante favorecidas. Já os analistas Vinicius Canheu e Pedro Manfredini, do Credit Suisse, ressaltam que as geradoras com negócios em termoenergia ganham destaque, já que com a escassez dos reservatórios, o uso das termoelétricas é maior.

Neste cenário, eles destacam as ações da Cesp (CESP6), Copel (CPLE6) e Cemig (CMIG4), com atenção maior para a Cesp, que, segundo a dupla, para cada R$ 50/MWh a mais no preço de energia no mercado à vista, tem uma variação de aproximadamente 2,4% em seu preço-alvo. A analista da casa de research Empiricus, Beatriz Nantes, ainda afirma que a Cesp já tem, em 2014, 30% da energia contratada e vendida por valores próximos do atual.

Vale ressaltar, porém, que o governo já confirmou que irá realizar aportes nas companhias distribuidoras afim de diminuir este impacto do aumento do preço da energia. Na última segunda-feira, ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, afirmou que está estudando as possibilidades de usar a CDE (Conta de Desenvolvimento Energético) – como já foi feito no último ano – para ajudar o segmento. Mas analistas destacam que esse tipo de movimento, apesar de aliviar as tensões do setor, acabam pressionando as contas do governo.

Evento 2: risco de racionamento
Não bastasse os temores gerados pela falta de chuva, na última terça-feira (4), um apagão afetou 11 estados do País, elevando as discussões de que podemos passar por um racionamento de energia em um futuro próximo. Diferente do preço da energia, esta notícia tem um impacto negativo em todo o setor, como explica Ricardo Correa, da Ativa. Segundo ele, a desconfiança sobre o sistema elétrico do País deve ser grande pelo menos no curto prazo.

Mesmo assim, Correa afirma que o efeito do apagão deve ser pequeno para as empresas e que as ações não devem sofrer tanto, e que o melhor é aguardar as explicações detalhadas sobre o ocorrido. Para ele, o risco de racionamento no Brasil ainda é baixo.

Opinião esta que não compartilhada pela agência de risco Fitch, que na última quinta-feira (6) classificou o risco de um racionamento de energia no País como razoável. Neste cenário, a agência afirma que a Aneel precisa tomar medidas para evitar o enfraquecimento da capacidade financeira das distribuidoras e que, caso ela não seja efetiva, cortes de rating para a companhias do setor podem ocorrer.

Em relação à possíveis aportes do governo, a Fitch afirmou que é provável que o suporte esteja em linha com a liberação de recursos como foi feito em 2013. Por outro lado, eles afirmam que a continuidade de um cenário de baixo índice pluviométrico poderia exigir um suporte adicional, a fim de evitar o rebaixamento dos ratings nas empresas do setor.

Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.