Bicampeão em 2013, setor de educação seguirá subindo na Bovespa em 2014?

Para analistas, ascensão da classe C, programas de incentivo do governo e otimização dos métodos de EAD revelam um cenário promissor; contudo, forte alta nos últimos dois anos pode minimizar o otimismo

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – Em um ano em que a bolsa mostrou completo descompasso com a aparente recuperação de importantes economias do exterior, poucos setores tiveram um desempenho tão positivo como o de educação. Pode parecer irônico pensar que a área em que no geral o Brasil mostra um dos desempenhos mais pífios em comparação com o restante do mundo é a mesma em que sólidos impérios são construídos com vistosas taxas de crescimento e valorização, mas o cenário mostra uma nítida coerência: economistas são unânimes em dizer que, se o Brasil quiser voltar a crescer com força, não há outra alternativa senão investir em educação. Com isso, o otimismo do mercado com relação a Kroton (KROT3), Anhanguera (AEDU3), Estácio (ESTC3), Ser Educacional (SEER3) e Anima Educação (ANIM3) se mostra cada vez mais justificado. Já a Abril Educação (ABRE11), segue correndo por fora no páreo.

Nos últimos dois anos, toda essa esperança de crescimento se concretizou em expansão do potencial do mercado para educação e do alcance destas empresas. Com cada vez mais indícios de que as perspectivas são de desenvolvimento para o setor – independentemente de quanto tempo ele demorar para chegar aos níveis desejados -, a tendência é de que a concorrência aumente e as movimentações dos principais players também. Em 2013, uma onda de aquisições varreu o setor, que viu dois gigantes – Kroton e Anhanguera – entrarem em um acordo de fusão que envolveu cerca de R$ 5 bilhões em ações, ainda a ser analisado pelo Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), e a Estácio comprando a Uniseb (União dos Cursos Superiores SEB) por R$ 615,3 milhões, para, enfim, ampliar sua exposição aos universitários paulistas.

Em seminário aberto ao público, o economista-chefe do Itaú, Ilan Goldfajn, enfatizou as boas perspectivas que o setor tem para o futuro e afirmou que, se estivesse procurando investimentos de médio e longo prazo na Bovespa, certamente pensaria nas empresas de educação. “Em algum tempo, vai dar certo. Não tem como o Brasil não investir em educação. As empresas deste setor na bolsa deram uma boa subida nos últimos 3 ou 4 anos”, argumentou Golfajn, ressaltando que ainda há campo para essas empresas crescerem mais.

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Os ventos seguem soprando a favor
Para a analista Sandra Peres, da Coinvalores Corretora, o bom momento das empresas de educação se deve sobretudo a três principais motivos: a ascensão da classe C, que começa a se preocupar cada vez mais na formação para adquirir maior penetração no mercado – fator que também influencia em um possível aumento na demanda por serviços educacionais; os crescentes incentivos do governo ao setor, com mecanismos como Fies e Prouni, que estimulam o acesso ao ensino e o maior alcance das empresas mais voltadas às classes menos abastadas da sociedade – o governo espera bater a meta de 20 milhões de alunos matriculados até 2020, ante atuais 7 milhões; e o crescimento de novas modalidades de ensino a distância, capazes de aumentar a facilidade do acesso a aulas. O EAD é um dos segmentos em que o mercado mais tem apostado para o futuro, tendo em vista o perfil cada vez mais trabalhador do universitário brasileiro.

“A maioria das pessoas entende que a ascensão no mercado de trabalho se dá através do ensino superior. Desta forma, a demanda por serviços educacionais acabou tendo um crescimento acelerado nos últimos anos, elemento que se somou a fatores econômicos como o aumento da renda da população de um modo geral”, explica Sandra.

Gabriel Ribeiro, analista da UM Investimentos, completa destacando a necessidade do Brasil em melhorar seus níveis gerais de ensino, fator limitante no fornecimento de mão-de-obra qualificada aos mais diversos estratos do mercado. O movimento da imigração de trabalhadores provenientes de países com uma posição geral mais confortável em termos de qualidade de ensino para o Brasil é estimulado por diversas empresas que mostram muitas dificuldades em preencher suas vagas com profissionais brasileiros.

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Kroton, Anhanguera e Estácio: foco em EAD e crescimento orgânico
Mesmo assim, as perspectivas estão longes do campo negativo. Pelo contrário, o cenário segue promissor para as companhias de educação. Além de todos os elementos macroeconômicos já destacados, os ganhos de sinergia gerados pelos recentes negócios realizados animam o mercado. A Kroton, por exemplo, controtou uma consultoria que estimou ganhos de R$ 300 milhões em sinergia no primeiro ano da formação da maior companhia do mundo no setor. Para Sandra, o contexto apenas mudou de crescimento via aquisições para outro mais focado em crescimento orgânico, mas é de bons ventos. “Se formos analisar o perfil do estudante brasileiro – temos uma população de cerca de 200 milhões de habitantes e apenas 7 milhões de estudantes -, ainda há um potencial enorme de crescimento para o setor. Até atingir esse processo de maturação, o setor deve crescer a passos largos”, explica.

Contribuindo para aumentar esse potencial, as ascendentes modalidades de ensino a distância revelam um forte potencial para Kroton, Estácio e Anhanguera e seus investidores. “As três principais companhias de capital aberto do setor já anunciaram que iriam fazer investimentos diretos para o EAD. Fora a demanda que está muito acelerada, embora o ticket médio da mensalidade seja cerca metade de um curso presencial, a rentabilidade do segmento é menor. Além disso, a aceitação dos cursos de EAD está aumentando gradativamente”, afirma a analista da Coinvalores, que destaca os papéis da Kroton como seus preferidos para o setor.

Qualidade dos cursos oferecidos é o principal risco
Mesmo com perspectivas tão positivas, o desempenho das empresas de educação também tem seus riscos de não se configurar de acordo com as expectativas do mercado. Entre os principais elementos que podem inibir o crescimento dessas companhias, chamam atenção as constantes preocupações com o governo reduzir ou cancelar o sistema de benefícios do Prouni e Fies. No entanto, as últimas gestões têm mostrado caminhar no sentido oposto, aumentando as verbas para os programas. Em caso de um eventual corte nos incentivos, Ribeiro destaca que, mais do que o resultado das urnas no ano que vem, a questão fiscal pode oferecer riscos maiores. “Se a parte fiscal continuar se deteriorando, esses benefícios podem começar a ser retirados, independentemente do governo”, pondera.

Outro fator que preocupa é um possível “risco Cade”, com a possibilidade do órgão antitruste reprovar os recentes negócios ou impondo exigências que prejudiquem nas operações das companhias. Recentemente, o conselho soltou um parecer inicial de que deve aprovar a fusão entre Kroton e Anhanguera, mas com algumas ressalvas, como por exemplo a exigência de que as empresas se desfaçam de alguns polos de EAD e presenciais. O Cade espera dar um parecer final sobre o caso até a primeira quinzena de junho de 2014.

Além disso, a qualidade dos cursos oferecidos por essas três empresas também é um fator de risco. O MEC (Ministério da Educação) já suspendeu diversos deles por não atenderem os padrões de qualidade exigidos. “Mas, se analisarmos o histórico dessas empresas, os riscos vêm diminuindo”, diz Sandra. No entanto, uma postura mais exigente do ministério sempre preocupa.

Apesar de acreditar que o setor terá um desempenho forte em 2014, Ribeiro faz uma ressalva de que as altas do ano que vem não devem ser superiores às vistas nos anos anteriores. Importantes analistas e gestores, como é o caso de Rodrigo Galindo, da Flag Asset, mostram-se preocupados com a possibilidade dos valuations de Kroton, Anhanguera e Estácio já estarem muito “esticados”, o que limitaria o espaço para ganhos tão expressivos como o de outros períodos. Além disso, para o ano que vem, espera-se que as três companhias foquem mais seus esforços na consolidação e integração dos expressivos negócios de 2013.

Anima e Ser: a nova geração do setor na bolsa
Uma das empresas que parece não ter grandes problemas com a questão da qualidade dos cursos é a Anima, companhia cujo objetivo é ser uma espécie de “novo ITA” (Instituto Tecnológico de Aeronáutica). Menos de 2 meses depois do recente IPO (oferta pública inicial), feito em outubro, a empresa já é a favorita do setor para os analistas do HSBC. De acordo com a equipe do banco, a estratificação do setor de educação será a “próxima onda” no segmento, o que justificaria uma expectatica de que o foco passaria da quantidade de alunos para a qualidade de ensino. O time de análise do Itaú BBA também sugere a compra dos papéis da novata do setor.

Outra novidade na Bovespa desde outubro é a Ser Educacional, uma das maiores instituições privadas de ensino no Norte e Nordeste do País. As duas regiões representam boa parte do potencial que o setor de educação tem para o futuro, o que faz com que as apostas da Ser ganhem ainda mais relevância e que suas perspectivas para o futuro se destaquem dentre as empresas brasileiras de capital aberto.

Abril Educação mostra que nem tudo são flores
No sentido oposto de todas as demais companhias de educação com ações na Bovespa, a Abril Educação é uma companhia que vive um momento bastante conturbado. No ano, a empresa é a única do setor que acumula perdas. Desde janeiro de 2013, os papéis ABRE11 somam desvalorização na casa dos 18%, com a companhia registrando sucessivos indícios de deterioração de margens, além de um prejuízo líquido de R$ 13,6 milhões no terceiro trimestre deste ano, ante perdas de R$ 1,1 milhão no mesmo período do ano anterior. Dentre os destaques negativos aparecem as operações abaixo das espectativas da rede de ensino de idiomas WiseUp.

No entanto, até mesmo a companhia com o pior desempenho do setor na bolsa chegou a receber boas projeções. Por conta da forte desvalorização que sofreram até o momento, a tendência é de que os papéis ABRE11 mostrem recuperação na Bovespa, disse em agosto o analista da XP Investimentos, William Castro Alves. De lá pra cá, os ativos têm oscilado entre R$ 30 e R$ 34 na Bovespa. “O primeiro atrativo é, sem dúvida, o preço da ação, mas não devemos comprar preço e sim valor no papel. O setor é interessante e a baixa concentração de instituições de ensino, assim como a fraca concentração de instituições de ensino e fraca regulamentação do ensino a distância, só ajudam também”, destaca.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.