Sua empresa viu o lucro crescer 1.000% no trimestre? Cuidado para não se iludir

Isso é o que ocorreu, por exemplo, com a Localiza, que viu o lucro "crescer" 866% do segundo trimestre de um ano para outro

Felipe Moreno

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SÃO PAULO – Em uma temporada de resultados, é comum que algumas empresas apresentem crescimentos espetaculares em suas linhas de lucro líquido, com algumas chegando a quase 1.000% de crescimento na comparação com o exercício de 12 meses antes. Mas esses números, vistos com euforia por muitos investidores, nem sempre dizem a verdade sobre o momento da empresa.

Muitas vezes, a última linha do demonstrativo de resultados de exercícios acabam sendo “distorcidos” por alguns fatores, tais como resultado financeiro (que sofre muito com a variação cambial), ajustes contábeis (os famosos impairments) e grandes depreciações e amortizações. Esse efeito não é culpa das empresas, não são elas que tentam enganar seus acionistas – é apenas um efeito contábil. O grande problema é que um lucro líquido exuberante nem sempre é reflexo de uma melhora nas operações da empresa. “Não que o lucro líquido minta, mas ele pode omitir várias coisas importantes. Não é uma fotografia do operacional da empresa”, destaca Elad Revi, analista da Spinelli Corretora. 

É o que ocorreu, por exemplo, com a Localiza (RENT3), que viu o lucro crescer 866% do segundo trimestre de um ano para outro, por conta do ajuste contábil que seus ativos sofreram no 2º quarto de 2012. Na época, o governo reduziu o IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados), o que fez com que a locadora de veículos deduzisse essa retirada de estímulo nos preços dos seus carros, inflando desta forma o número da linha “depreciação” do seu balanço. Como esse efeito de depreciação já foi contabilizado ano passado, o resultado deste 2º trimestre não sofreu esse efeito negativo, o que colaborou para um lucro líquido maior.

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Explicando em números: no 2T12, a Localiza sofreu um impacto negativo de R$ 165,3 milhões com depreciação de carros; no 2T13, esse número foi negativo em “apenas” R$ 51,4 milhões, ou seja, nem um terço do valor de 12 meses antes. Esses pouco mais de R$ 100 milhões de diferença foram sentidos na última linha do resultado, com o lucro líquido da empresa saltando de R$ 10,7 milhões para R$ 103,4 milhões.

Que tal olhar o Ebitda?
Por conta disso, analistas recomendam olhar o desempenho operacional – que pode ser medido através do Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização). “Isso representa o que a empresa está gerando de concreto, sem os efeitos financeiros, que são importantes, mas podem estar distorcidos”, avalia Carlos Müller, analista da Geral Investimentos. 

O Ebitda e as outras linhas do balanço são importantes para que os investidores não sejam iludidos por um lucro líquido destoante. “Tem que ter um alinhamento entre os números, é para se duvidar de um lucro líquido que cresce muito acima das outras linhas, mas não que isso não aconteça as vezes. Se a empresa tem um ebitda quase negativo, como vai ter um lucro gigantesco?”, afirma Müller.

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É possível olhar um lucro líquido “diferente”
Revi concorda com Müller, mas lembra que a diferença do Ebitda e do lucro são apenas questões financeiras, como as já citadas anteriormente. “Em uma base comparativa diferente, muitas vezes os ‘efeitos não-recorrentes’ não são comparáveis para as empresas, a não ser que você ajuste as duas pontas no lucro líquido”, salienta o analista da Spinelli. 

Por conta dessa possibilidade, Revi salienta que é possível usar o lucro líquido ajustado – que pode dar a possibilidade de que o investidor olhe números mais fidedignos à operação da empresa. “Numa base comparativa diferente, muitas vezes é complicado esse olhar. Mas o lucro líquido ajustado tiram os efeitos não-caixa”, afirma.

Isso pela importância de olhar para essa linha, já que ela é a linha de tudo que resta e pode ser transferido para o acionista ou virar novos investimentos para que a empresa continue crescendo. “O lucro líquido é o que determina os dividendos da companhia, é importante olhar para ele, já que é essa linha do balanço que vai chegar a mim”, finaliza o analista-chefe da Geral Investimentos.