Com 1º semestre “perdido”, o que o investidor pode esperar para o resto do ano?

Analistas de mercado ainda não enxergam bom momento para bolsa no segundo semestre em meio aos constantes cortes nas projeções do PIB brasileiro e expectativa de inflação elevada

Paula Barra

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SÃO PAULO – Após crescer apenas 0,9% em 2012 – o menor resultado em três anos – a projeção dos economistas era de que o PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil voltaria a se recuperar em 2013, impulsionado pela melhora do cenário europeu e norte-americano, além da retomada da confiança do consumidor. Contudo, os meses foram se passando e o ambiente mais positivo não se confirmou – e pior, se agravou.

Confira os fatos que marcaram o pior semestre do Ibovespa desde 2008

Hoje, o cenário que vivemos no Brasil é de PIB em desaceleração constante e inflação crescente e bem próxima do teto da meta, o que acaba deixando o governo bastante receoso em anunciar uma medida de combate a uma destas vertentes sem que isso deteriore a outra. Como se isso não bastasse, o crescimento econômico chinês vem dando sinais claros de cansaço e o PIB estimado para 2013, que começou o ano acima de 8,0%, já começa a flertar com números abaixos de 7% nas planilhas de alguns analistas. Ainda no front internacional, a sinalização de que os EUA podem começar a retirada do programa de compra de títulos públicos traz incertezas quanto à capacidade do país caminhar com as próprias pernas. A cereja do bolo, no entanto, está por vir: não bastasse tantas incertezas econômicas, o Brasil vem enfrentando uma enxurrada de manifestações e protestos que, pacíficos ou não, acabam tendo um impacto direto no comércio e no transporte, isso sem contar que a pressão popular fez com que governos voltassem atrás na ideia de reajustar o preço das tarifas de transporte público, de pedágio (em São Paulo) e de energia elétrica (no Paraná).

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O resultado disso tudo foi muito bem traduzido no mercado acionário: o Ibovespa teve queda de 22,14% nos primeiros seis meses do ano, sendo seu pior resultado semestral desde a segunda metade de 2008. Enquanto isso, os índices Dow Jones e S&P 500, dos EUA, tiveram o melhor 1º semestre do século.

Melhorias? Não tão rápidas
Se a lição mais básica do mercado de ações nos ensina que devemos comprar na baixa e vender na alta, você pode estar se perguntando se esta seria uma boa hora de montar posições na Bovespa. No entanto, se depender da opinião dos analistas consultados pela InfoMoney, é melhor pensar um pouco mais antes de sair comprando ações. 
A expectativa de que o cenário turbulento da economia se mantenha e, mesmo que a queda dos preços aumente a atratividade de um retorno potencial de determinada ação, o risco do mercado brasileiro também aumentou bem, o que acaba anulando qualquer ímpeto dos investidores.

O recente tumulto no mercado de ações brasileiro tem elevado as preocupações e incertezas para o resto de 2013. No cenário atual, a equipe de análise da Votorantim Corretora, composta por Andre Parize, Fernando Salazar e Carolina Lhano, aponta que os dados recentes indicam uma deterioração da confiança, sem sinais de melhoras nos dados macroeconômicos no curto prazo.

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As expectativas do mercado para o crescimento do PIB enfrentam quedas seguidas a cada semana que passa, como pode se observar através das projeções do relatório Focus. No primeiro relatório do ano, os economistas apontavam para crescimento de 3,26% do PIB em 2013. Já na última projeção do semestre, no dia 24, os economistas apontavam para uma perspectiva de alta de 2,46%. 

Neste cenário, o Deutsche Bank também reduziu as suas perspectivas para o crescimento do PIB brasileiro, que passou de 3% para 2,4% neste ano, avaliando com cautela a volta do investimento no País dada a confiança medíocre dos empresários na economia e em meio à turbulência do mercado. Para 2014, a projeção caiu de 3,8% para 3,1%. 

Pelo menos por enquanto, aponta o economista José Carlos de Faria, do Deutsche Bank, não é esperado que haja mudanças significativas para o futuro próximo, levando em consideração principalmente as eleições de 2014, o que deve fazer com que a política tenha mais peso sobre as decisões do que os fatores econômicos em si.

Vozes das ruas “ecoam” no mercado
Para o gestor Rodrigo Galindo, da Flag Asset, o cenário de volatilidade do início de 2014, com a eleição presidencial, foi antecipado em função das manifestações. Com isso, “deve ser visto um segundo semestre bastante agitado em termos de pesquisas eleitorais, trazendo toda essa discussão para este ano”, disse. 

O governo, segundo ele, vem tentando “agradar as vozes da rua”, o que não é muito bem interpretado pelos investidores estrangeiros. Os cinco pactos nacionais (por responsabilidade fiscal, reforma política, saúde, transporte e educação) anunciados por Dilma Rousseff na semana passada são um exemplo disso. “Eles foram anunciados numa linha populista”, avalia Galindo.

Com isso, ele aponta que o ambiente de aversão ao risco tende a continuar. “Não estamos de uma forma geral otimistas. Nos últimos meses, houve um forte ajuste do ‘fast money’ (fundos mais agéis), e agora devemos ver uma saída do ‘real money’ (fundos dedicados estrangeiros, passivos locais e, eventualmente, alocadores patrimoniais, private bank de bancos e casas de wealth management)”, explica o gestor da Flag.

Conforme aponta o Itaú, as demonstrações ocorridas nas ruas reduzem a probabilidade de um ajuste mais profundo nas contas públicas, pelo menos no curto prazo. Em meio às incertezas políticas, os investimentos podem ser afetados. Além disso, com o menor espaço para manobras fiscais de contenção das despesas diminuiu em face de demandas para melhor público, aponta a equipe de economia do banco.

China e EUA: o que esperar para esses países?
Além do cenário interno, a China e os EUA devem ser fatores-chave para o desempenho da economia brasileira pelo restante do ano, após um primeiro semestre bastante emblemático, principalmente se considerando o último mês do período, avalia o Itaú Unibanco. Os EUA mudou seu curso, as taxas dos títulos do país subiram, aconteceu uma saída brusca de capitais dos países emergentes e ocorreu uma redução no ritmo de crescimento para os países emergentes. 

“Mas isso não é de todo o mal”, avalia a equipe econômica do banco, chefiada por Ilan Goldfajn, em relatório. As perspectivas mais positivas para a economia norte-americana, o que deve levar a política monetária do país de volta à normalidade, pode beneficiar os EUA e o Japão, levando-os também a ver como mais limitados os impactos de condições financeiras mais apertadas. 

Assim, com a fonte de dinheiro barato secando após uma injeção de liquidez sem precedentes, os preços dos ativos terão que se ajustar. Neste cenário, apesar de alguma deterioração, o crescimento da economia norte-americana deve apresentar estabilização no médio prazo. A equipe destaca que os mercados da região latino-americana estão menos vulneráveis a choques, em meio aos menores déficits em conta corrente, melhores termos de troca, dívida externa mais baixa e maiores reservas em moeda estrangeira. 

Por outro lado, avalia, a região deve sofrer em meio a um cenário de maior crescimento econômico chinês, com os menores estímulos do governo, mas um crescimento mais vigoroso dos EUA deve aumentar a demanda por bens de consumo do gigante asiático. Neste cenário, a equipe de macroeconomia ressalta que a economia, que ainda não apresenta vulnerabilidade, não deve ser ajudada com o crescimento mais fraco chinês. 

O que fazer para voltar a crescer?
De acordo com Galindo, uma das alternativas para acalmar os ânimos dos investidores seria o aumento na magnitude do ciclo de alta do juro (para algo entre 250 e 300 pontos-base no total) ou sua velocidade de implementação (cortes de 0,75 ao invés de 0,5 ponto percentual), além de uma reforma ministerial, o que deve ser difícil de ocorrer a um ano da eleição presidencial.

“Embora fosse bem vista, acho difícil ocorrer uma mudança ministerial no último ano de mandato de Dilma. O governo tem bons nomes, mas acho difícil que sejam indicados agora, assim como seria difícil alguém aceitar o desafio. Uma medida adotada agora teria impacto em cerca de seis meses, não daria tempo de mudar o cenário até o fim do ano”, comenta.

Em relação à política fiscal, Galindo não espera por mudanças significativas no médio prazo diante da eleição em outubro do ano que vem. Já o economista do Deutsche acredita que uma mudança não é impossível, mas pode levar a uma deterioração nas expectativas sobre o desempenho econômico nacional.

Somado a isso, no cenário de uma política econômica mais apertada, aponta Faria, em meio à expectativa de uma reversão mais cedo do que o esperado da política de estímulos do Federal Reserve e os preços mais baixos de commodities, o Brasil deve se ver numa situação mais difícil para financiar os seus déficits em conta corrente. Portanto, aponta o economista, o Brasil provavelmente vai precisar de uma moeda mais fraca e as taxas de juros mais elevadas. 

Em relação ao consumo, os analistas da Votorantim acreditam que seus principais pilares de crescimento não apresentam qualquer tendência positiva, vendo a produção industrial e os investimentos em infraestrutura como os principais indicadores para a economia no segundo trimestre de 2013.