Um ano após Tubarão Azul, OGX luta para reconquistar a confiança perdida

Ações da petrolífera de Eike Batista já caíram 88,89% nestes 12 meses pós-anúncio de níveis de produção bem piores que o previamente projetado

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Há exato um ano, no dia 27 de junho de 2012, o inferno astral começaria de vez para a OGX Petróleo (OGXP3). Naquele dia, as ações OGXP3 despencaram 25,33%, passando de R$ 8,37 para R$ 6,25 e, desde então, a maré ruim para a empres petrolífera de Eike Batista parece longe de acabar. 

O movimento seguiu o anúncio da véspera, de que a empresa teria definido 5 mil barris de óleo a produção inicial em cada um dos dois primeiros poços de Tubarão Azul, quase um terço do que fora prometido anteriormente, o que foi considerado um choque até para os analistas mais conservadores, seguindo assim uma série de cortes de recomendação. Esta produção era quase um terço que havia sido estipulada anteriormente. 

Deste então, os investidores não conseguiram fazer as pazes com o megaempresário, movimento este que contaminou todas as companhias do grupo de Eike Batista, que registram fortes quedas na bolsa no desempenho acumulado do último ano. Neste período, as ações da OGX registram forte baixa de 88,89%, passando de R$ 8,37 para apenas R$ 0,93 e chegando a atingir o patamar mínimo de fechamento de R$ 0,78, nos dias 19 e 24 de junho. 

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A petroleira, que já não inspirava muita confiança em meados de 2012 e via a cotação de seus papéis já registrarem expressivas quedas na comparação com a máxima histórica, viu suas ações despencarem de vez a partir da divulgação dos números decepcionantes de Tubarão Azul.

Em meio a esse movimento, diversas grandes instituições financeiras que cobriam os papéis OGXP3 cortaram drasticamente as suas projeções para as ações, enquanto a empresa tentou diminuir a debandada dos investidores com o anúncio da saída de importantes executivos. Além disso, um dia após o ocorrido, a empresa fez um pronunciamento na época avaliando que as fortes quedas das ações foram resultado de uma “interpretação errônea” do mercado, depois da companhia ver seus ativos cair 40% em 2 dias. 

Entretanto, o inferno astral para a empresa de Eike, que estendeu para as outras companhias do grupo, estava apenas começando. Se, naquela época, o brasileiro perdeu várias posições na lista de ranking de bilionários, passando da 14ª para 27ª posição segundo a Bloomberg, mas ainda era o homem mais rico do Brasil, com fortuna avaliada em US$ 14,5 bilhões, em meados de junho de 2013 ele saiu do top 200 mais ricos do mundo, com fortuna avaliada em US$ 6,1 bilhões. Em março de 2012, Eike chegou a ser o 8º homem mais rico do mundo, com fortuna avaliada em US$ 34,5 bilhões. 

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2013 começou bem para OGX, mas só começou…
O ano de 2012 acabou para a OGX com a companhia fechando como a maior queda do Ibovespa no ano, com baixa de 67,84%, fechando a R$ 4,38, bem abaixo dos R$ 13,62 vistos no final de 2011. Entretanto, o pior para os papéis ainda estaria por vir. Apesar do novo ano começar bastante positivo para os papéis da companhia, com os ativos registrando forte alta de 22,37% apenas nas nove primeiras sessões de 2013, a empresa voltou a contar com a desconfiança do mercado em meio a descoberta de novos poços secos ou não comerciáveis, como no caso do prospecto de Cozumel, na Bacia de Campos. 

Por outro lado, alguns dias também foram de alívio para o grupo EBX em meados de março, após Eike Batista fechar parceria com o empresário André Esteves, do BTG Pactual (BBTG11) para cooperação estratégia de negócios, que envolve aconselhamento financeiro, linhas de crédito e futuros investimentos, para projetos estruturantes do Grupo nos diversos setores de atuação da companhia, o que fizeram as ações do grupo, principalmente as da OGX, a disparar 16,44% apenas no dia posterior à parceria.

Contudo, o alívio durou pouco. Relatórios de produção revelados mensalmente pela companhia de petróleo azedaram mais uma vez a percepção dos investidores, que passaram a fugir ainda mais dos papéis, sendo que muitos deles passaram a apostar na queda das ações OGXP3 através do aluguel de ações, que disparou em meados de maio. Com isso, a BM&FBovespa aumentou o limite de posições alugadas para os ativos, passando de 30% para 45% do free float (ações em circulação no mercado) no período. 

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O aluguel de ações é parte de uma operação realizada por investidores que pretendem ficar “vendidos” em um ativo, ou seja, acreditam que a ação vai cair. O investidor aluga determinada ação e, em seguida, vende o mesmo papel no mercado à vista. Após um prazo estabelecido, esse investidor – que é chamado de “tomador” do papel alugado – é obrigado a devolvê-lo ao dono, o “doador”, e pagar a remuneração (taxa do aluguel) fixada previamente.

Num cenário bastante crítico e com o forte endividamento das empresas do grupo, Eike Batista vem tentando se desfazer de alguns ativos. No início de maio, a OGX anunciou a venda 40% das concessões de blocos BM-C-39 E BM-C-40, localizados na Bacia de Campos, para a estatal da Malásia Petronas por US$ 850 milhões.

Entre tombos e algumas altas, os ativos da companhia, que um dia chegaram a ser negociados acima de R$ 20,00, fecharam pela primeira abaixo de R$ 1,00 em 14 de junho de 2013, após a agência de classificação de risco Fitch rebaixar o seu rating de “B-” para “CCC”, patamar considerado “lixo”. O nível é considerado “lixo” por ser um cenário de praticamente um calote – um dia após o grupo EBX afirmar que “reestruturou suas dívidas”

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Segundo a agência de classificação de risco, o rebaixamento dos ratings reflete a crescente incerteza em relação à intenção e à capacidade do acionista controlador, Eike Batista, de honrar a opção de venda das ações detidas pela OGX, no montante de US$ 1 bilhão.

E, em meio à derrocada do grupo EBX, Eike Batista já negociou a venda de ativos da MPX Energia (MPXE3) para a alemã E.ON e confirmou que está em contato com a Glencore e Trafigura para avaliar “oportunidade de negócios” para a MMX Mineração (MMXM3), enquanto a CCX Carvão (CCXC3) e a AUX também estaria tentando vender parte de suas operações. Por fim, a LLX Logística (LLXL3) informou a contratação de assessores financeiros para avaliar oportunidade de negócios e operações societárias envolvendo seus ativos. Vale lembrar que, todas as companhias do grupo, com exceção da MPX, perderam 90% do seu valor de mercado desde que atingiram suas máximas, o que mostra uma situação complicada bastante generalizada para a EBX. 

Queda de Eike: destaque na imprensa internacional
A derrocada de Eike, que passou de um empresário bem sucedido e o homem que pretendia ser o mais rico do mundo em pouco tempo, vem chamando a atenção da imprensa internacional, que destacam que a recente virada da fortuna de Eike Batista pode fazê-lo se tornar uma das vítimas mais emblemáticas de uma saída de capital dos países emergentes, relacionando a queda do empresário com o atual cenário econômico brasileiro. 

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Além disso, em meio aos protestos ocorridos recentemente no Brasil, a expectativa é de que o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), que emprestou cerca de US$ 1 bilhão para as empresas do grupo em 2012, não esteja mais tão disposto a disponibilizar capital para as empresas do grupo. 

Conforme destacam o Wall Street Journal, o Financial Times e o New York Times, as dificuldades de Eike refletem a reversão de expectativas em relação ao Brasil, com um crescimento mais baixo e pressão sobre a inflação. Assim, o movimento do mercado seria pela procura pelo mercado de investimentos tidos como mais seguros, com os investidores mais cautelosos sobre as suas apostas. Desta forma, caso Eike queira a virada, os resultados devem começar a aparecer logo. 

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.