Ações do setor de educação devem ser guiadas em 2011 por crédito e aquisições

Investidor que aposta nestes papéis deve monitorar de perto novo Fies e onda de consolidação das empresas

Rafael Souza Ribeiro

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SÃO PAULO – Depois de uma pausa em 2009, por conta dos impactos da crise financeira, o setor de educação continuou em 2010 seu processo de consolidação, encerrando este ano com pelo menos três eventos marcantes para as empresas listadas em bolsa:

Além da retomada da agenda de fusões e aquisições, o crescimento da economia brasileira, a queda do nível de desemprego e aumento da renda média da população foram o motor do setor em 2010, proporcionando a expansão do número de alunos, sobretudo no EAD (Ensino à Distância), pós-graduação e sistemas de ensino, conforme análise da Fator Corretora.

E para 2011? Quais são as perspectivas para o setor de educação e para as ações de Anhanguera Educacional (AEDU3), Kroton (KROT11), Estácio Participações (ESTC3) e Pearson Sistemas do Brasil (SEBB11)?

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Projeções para o setor
“Para 2011, as perspectivas permanecem positivas. A continuidade do ambiente econômico favorável e o maior acesso ao crédito estudantil deverão impulsionar a captação, reduzir a inadimplência e evasão e favorecer a retenção de alunos”, projeta a equipe da Fator, que destaca o Fies (Financiamento ao Estudante do Ensino Superior) como principal driver do setor nos próximo anos.

As alterações do Fies em maio deste ano, através do qual os estudantes poderão ter acesso a crédito com juros de 3,4% ao ano (antes entre 6,5% até 9% ao ano), foram aprovadas neste mês pelo Plenário e agora seguem para a avaliação do Senado, com sessão marcada para o ano que vem.

Segundo a Itaú Corretora, o setor educacional será beneficiado com a medida, uma vez que se espera o aumento do acesso ao ensino superior pela classe de baixa renda, destaque em 2010 pelo crescente poder de compra. A medida “deverá ter papel relevante no crescimento do setor nos próximos anos”, afirma a Fator.

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Além da nova onda de aquisições no ensino superior, a exemplo de 2010, o próximo ano deverá consolidar os sistemas de ensino na educação básica (fornecimento de material didático e métodos de ensino para escolas públicas e privadas) como a bola da vez do setor, revela a Fator.

Junto ao sistema de ensino, três outros segmentos vêm se destacando com crescimento acima da média: ensino profissionalizante, EAD e pós-graduação. Nos quais as empresas devem focar seus investimentos em 2011. “O programa do governo (…) elegeu o ensino profissionalizante como uma de suas prioridades e esse deverá continuar a avançar a taxas superiores às do ensino médio nos próximos anos”, prospecta a Fator.

De olho nas ações

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Anhanguera Educacional
Vinda de uma oferta pública de ações, através da qual captou R$ 844,1 milhões (sem o exercício do lote suplementar), a empresa vem colocando em prática seu plano de expansão, a que o investidor deverá ficar muito atento em 2011, principalmente com relação ao grau de alavancagem da companhia.

“A Anhanguera é a história mais desenvolvida e a companhia mais líquida no espaço educacional brasileiro”, frisa o Itaú. Mas, por trás deste cenário, a S&P (Standard & Poor´s) destaca alguns riscos estruturais para 2011.

Segundo a agência, os riscos de integração e execução derivados do plano de expansão da empresa serão os principais desafios que a Anhanguera administrará no próximo ano. Contudo, “as perspectivas favoráveis de crescimento para o setor de ensino universitário no País atenuam parcialmente esses riscos”, avalia a S&P.

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A crescente participação da Anhanguera nos negócios de ensino à distância também é elogiada pela agência de classificação de risco, uma vez que “incrementa seu volume total de receita, possibilitando-lhe uma expansão com um menor comprometimento de capital”, finaliza.

Com relação aos ratings da companhia, a S&P deixa sua visão bem clara: “os ratings poderão ser rebaixados se a Anhanguera apresentar um aumento na alavancagem acima do esperado (…) bem como se houver uma queda nos lucros, e se a liquidez se enfraquecer, incrementando assim os riscos de refinanciamento. Uma elevação nos ratings dependeria de um avanço consistente no perfil financeiro da Anhanguera e de uma estratégia de expansão menos agressiva que lhe permitisse reduzir a alavancagem”.

Para os papéis ordinários da empresa, o Itaú sugere preço-alvo de R$ 34,30 ao final de 2011, valor inferior aos R$ 39,50, fechamento do ativos na última terça-feira (21), sugerindo que a ação encontra-se acima do seu preço justo.

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Kroton
Passada a execução dos projetos de integração e otimização de custos provenientes da compra da IUNI, cujos ganhos devem aumentar as margens da companhia nos próximos anos, como projeta o Itaú, 2011 será um ano de “colher os frutos” para a Kroton.

Segundo a Fator, a empresa deverá registrar um aumento mais robusto na captação de alunos no ensino superior, sobretudo pela criação de novos cursos nos campus existentes, e poderá voltar às compras, mas focada em unidades de menor porte.

Outro ponto que chama atenção na estrutura orgânica da Kroton é que ela é a única empresa de capital aberto do setor que detém sistema de ensino (Pitágoras), lembra a Fator, que não descarta a venda da rede de ensino, “ultimamente muito valorizado”.

De olho no preço-alvo aos ativos, a Fator sugere target de R$ 26,00, enquanto o Itaú projeta R$ 20,90, garantindo upside de 32% e 7%, respectivamente, frente terça-feira.

Estácio Participações
Após a mudança da base acionária, a empresa focou neste ano na sua reestruturação, com esforços positivos na redução do custo docente, o que, segundo a Fator, resultou em uma melhora da eficiência operacional.

Com o plano bem sucedido, a equipe da corretora acredita na retomada mais vigorosa do crescimento do número médio de alunos, por conta dos fatores setoriais apontados, e na capitalização com a oferta pública de ações, opinião dividida pela Coinvalores.

Com relação ao preço-alvo dos papéis, Fator e Coinvalores projetam target de R$ 30,00, enquanto o Itaú estima R$ 28,60.

Pearson Sistemas do Brasil
A Pearson Sistemas do Brasil, nova denominação da SEB após a venda das operações relativas ao segmento de ensino, segue na expectativa da aprovação por parte da CVM (Comissão de Valores Mobiliários) das ofertas públicas de aquisição de ações, fato que movimentou o papel em 2010 e que será o driver no próximo ano.

No acordo, foi estabelecido que os acionistas minoritários do SEB poderão receber R$ 31,00 por unit, em duas ofertas públicas de aquisição que serão realizadas. A Pearson assumiu a obrigação de efetivar uma oferta pública de aquisição das ações de emissão da companhia por R$ 22, mesmo valor ofertado aos controladores. Estes, por sua vez, têm intenção de realizar uma OPA das ações de emissão da Nova SEB, com preço de R$ 9 por unit – equivalente à diferença entre o valor do patrimônio líquido estabelecido durante a operação e a OPA da SEB.

Atualmente, as units da SEB valem exatos R$ 31,00, com o mercado já precificando a oferta de ações. Agora, resta aos investidores e controladores aguardar o laudo da CVM e desfrutar da estrutura remanescente da Pearson Sistemas do Brasil.