Ações do Casino despencam 33% com ofertas de injeção de capital indicando forte diluição

Propostas de grupos liderados por dois bilionários, o francês Xavier Niel e o tcheco Daniel Kretinsky, deixariam os atuais acionistas com quase nada

Equipe InfoMoney

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O Casino detalhou as duas ofertas rivais de injeção de capital que havia anunciado na última terça-feira (4), levando a uma nova forte queda dos ativos na sessão desta quarta-feira (5). Em comunicado divulgado na tarde de terça-feira, a varejista francesa reiterou a expectativa de que o processo leve a diluição dos acionistas, na qual a Rallye deixará de ser a controladora do grupo.

As propostas de grupos liderados por dois bilionários, o empresário francês de telecomunicações Xavier Niel e o financista tcheco Daniel Kretinsky, deixariam os atuais acionistas com quase nada.

O Casino deve se reunir com os credores na quarta para discutir as propostas. Enquanto isso, as ações caíram esta manhã até 42% em Paris. Os papéis fecharam em baixa de 32,94%, a 3,06 euros.

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Uma das propostas é liderada pela empresa de investimentos EP Global Commerce, do bilionário tcheco Daniel Kretinsky, em parceria com a Fimalac, do também bilionário Marc Eugène Charles Ladreit.

A iniciativa planeja investir 1,35 bilhão de euros na companhia, dos quais 860 milhões de euros viriam da dupla de magnatas. Acionistas existentes entrariam com 200 milhões de euros e os 290 milhões de euros restantes corresponderiam a detentores de dívida não segurada.

No lado oposto, o banqueiro Matthieu Pigasse e os empresários Xavier Niel e Moez-Alexandre Zouari se juntaram na 3F Holding. O trio propõe aporte de 900 milhões de euros, mas nesse caso uma parcela de 300 milhões de euros da dívida segurada da Casino seria convertida em capital – no plano rival, 1,5 bilhão de euros passaria por esse processo.

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A “guerra de ofertas” é reflexo do momento desafiador que a gigante do varejo europeu atravessa. Endividada, a companhia negocia um alívio com credores sob intermédio da Justiça francesa. Para tentar levantar mais recursos, a companhia já anunciou a intenção de se desfazer dos ativos sul-americanos, o brasileiro Grupo Pão de Açúcar (PCAR3) e o colombiano Éxito.

O Casino afirmou que sua reestruturação resultará na diluição dos acionistas e na perda de controle do CEO Jean-Charles Naouri. Embora a oferta de Kretinsky inclua mais capital, pode haver pressão sobre o Casino, seus credores e o presidente Emmanuel Macron para encontrar uma solução francesa para os problemas da empresa. Os órgãos reguladores franceses bloquearam anteriormente uma proposta de aquisição do Carrefour SA, rival do Casino, pela Alimentation Couche-Tard Inc., do Canadá.

O Casino tem procurado reduzir sua dívida com a venda de ativos desde 2018, mas sua concentração em áreas fortemente dependentes do turismo saiu pela culatra durante a pandemia e uma estratégia para aumentar os preços mais do que seus concorrentes aumentou os problemas do Casino mais recentemente.

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A empresa acabou entrando em negociações supervisionadas pelo tribunal com credores e outras partes interessadas – incluindo o Estado francês – para reestruturar seu balanço patrimonial em maio. Mas, enquanto isso, a rede francesa está seguindo um plano de negócios concebido em torno de seus supermercados menores e premium nos centros das cidades. Apesar de manter suas operações de hipermercados na França, que geram muito dinheiro, o grupo está planejando vender ativos não essenciais, como seus negócios na América Latina.

Diluição de ações

O varejista disse na semana passada que estava buscando nada menos do que 900 milhões de euros em dinheiro novo e convertendo 3,5 bilhões de euros de dívidas não garantidas e até 1,5 bilhão de euros de instalações garantidas em ações, a fim de sanar suas finanças.

As duas ofertas diferem no tamanho do cheque de capital e no corte da dívida, e podem agradar a diferentes acionistas. Kretinsky fez uma oferta firme, enquanto o plano da 3F está aguardando a devida diligência.

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O bilionário tcheco planeja reduzir o endividamento para 2 bilhões de euros e, ao mesmo tempo, fornecer a maior parte da injeção de capital. Isso significaria uma grande participação para ele na empresa reestruturada.

A oferta 3F permite um papel maior para os credores que estão dispostos a participar do aumento de capital, que normalmente são fundos que investem em dívidas com desconto e querem maximizar seus retornos com uma participação acionária.

O plano deixaria a empresa mais alavancada do que o Casino havia previsto, com uma dívida de 3,7 bilhões de euros. Ambos os licitantes concordaram em manter a sede do Casino em Saint-Etienne, uma cidade a sudoeste de Lyon. A 3F também concordou em manter o mesmo nível de emprego no grupo principal, embora Kretinsky não faça referência explícita a isso, disse a empresa.

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Nas reuniões de quarta-feira, os credores e o Casino discutirão qual oferta será usada em um plano de reestruturação que a empresa proporá até o final do mês.

Quando as discussões com os credores, supervisionadas pelo tribunal – conhecidas como conciliação – terminarem, a empresa precisará abrir um processo para implementar o plano de reestruturação. Ela precisa do apoio de dois terços de uma classe de credores para aprovar o plano e torná-lo obrigatório para os demais, mesmo aqueles que discordam da proposta.

(com Bloomberg e Estadão Conteúdo)