Vale (VALE3): ação cai 2,2% após notícia de condenação bilionária, em dia de tensão com governo

Apesar de chances de Mantega na presidência da companhia serem pequenas, cresce o medo de possíveis represálias

Vitor Azevedo

Logo da Vale (Foto: Divulgação)

Publicidade

As ações da Vale (VALE3) tiveram uma sessão movimentada, num dia marcado pelos cinco anos da tragédia com o rompimento da barragem em Brumadinho.

Os papéis fecharam em baixa de 2,20%, a R$ 68,36, na sessão desta quinta-feira (25), a despeito da alta de 1,6% do minério de ferro em Dalian no dia.

Os papéis já vinham de perdas na sessão, que foram intensificadas por volta das 15h30 quando ganhou destaque a notícia de que a Justiça Federal havia condenado a mineradora, a BHP e a Samarco a pagar R$ 47,6 bilhões como indenização pelos danos morais coletivos causados pelo rompimento da barragem de Fundão, em Mariana, na Região Central de Minas Gerais, este ocorrido em novembro de 2015.

Masterclass

As Ações mais Promissoras da Bolsa

Baixe uma lista de 10 ações de Small Caps que, na opinião dos especialistas, possuem potencial de valorização para os próximos meses e anos, e assista a uma aula gratuita

E-mail inválido!

Ao informar os dados, você concorda com a nossa Política de Privacidade.

O valor deve ser corrigido com juros desde a data da tragédia, ocorrida em 5 de novembro de 2015. Cabe recurso e o pagamento deverá ser realizado após o trânsito em julgado da decisão. A Vale e a BHP informaram que não foram notificadas da decisão. Já a Samarco afirmou que não vai comentar. As ações, que já estavam em baixa, aceleram as perdas durante a tarde, chegando a ter queda de 3,63%, a R$ 67,36.

Antes disso, os investidores repercutiam as recentes falas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e estavam de olho na questão sucessória da mineradora.

Hoje, Lula, no X (antigo Twitter), lembrou a tragédia de Brumadinho. “Faz 5 anos do crime que deixou Brumadinho debaixo de lama, tirando vidas e destruindo o meio ambiente. 5 anos e a Vale nada fez para reparar a destruição causada”, afirmou o presidente na rede social X (antigo Twitter). Ele complementou: “É necessário o amparo às famílias das vítimas, recuperação ambiental e, principalmente, fiscalização e prevenção em projetos de mineração, para não termos novas tragédias como Brumadinho e Mariana”.

Continua depois da publicidade

Essas críticas vêm num contexto de sucessão na Vale. Nos últimos dias, o petista e aliados próximos vêm aumentando o tom contra a mineradora. Há a intenção, dentro do governo, de emplacar Guido Mantega, ex-ministro da Fazenda, como diretor executivo da Vale.

Questão Mantega pesa na Vale

O atual CEO da mineradora, Eduardo Bartolomeo, tem contrato em vigor até 31 de maio. Pelas regras do estatuto, o executivo deve ser comunicado com quatro meses de antecedência se terá seu mandato renovado ou se o conselho decidiu abrir o processo de contratação de um novo presidente — prazo que se encerra na quarta-feira (31). De acordo com o Globo, o conselho da empresa deve se reunir entre amanhã (26) e terça-feira (30) para discutir o futuro de Bartolomeo.

Já ontem, foi noticiado pelo mesmo jornal que o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD), telefonou para conselheiros da empresa para defender a escolha de Mantega, indicado por Lula para a presidência da companhia.

Continua depois da publicidade

Saiba mais: Na sucessão da Vale, Mantega ainda anseia pela cadeira de CEO

Analistas, contudo, vêm minimizando a possibilidade de Mantega na Vale. O Bradesco BBI, na véspera, lembrou que a única entidade governamental com participação na Vale é a Previ, com 8,7%. “Portanto, o governo precisará convencer outros acionistas para eleger Mantega como CEO”, disseram, mencionando que o mais provável é que Mantega ganhe uma cadeira no Conselho.

Nesta quinta, cabe ressaltar, a presidente nacional do PT e deputada federal pelo Paraná, Gleisi Hoffmann, defendeu a indicação do ex-ministro ao Conselho. “Pouquíssimos brasileiros são tão qualificados quanto Guido Mantega para compor o conselho da Vale, uma empresa estratégica para o país e na qual o governo tem participação e responsabilidades”, afirmou. Ela ainda disse que a companhia é “estratégica para o país” e chamou sua privatização de “danosa”.

Publicidade

Enrico Cozzolino, da Levante, diz que a questão sinaliza uma possível ingerência política, apesar de ser pouco provável que os acionistas da Vale aceitem o nome de Mantega. 

No entanto, para ele, o risco é que o governo use poderes como licenças ambientais e  tributação para tripudiar a mineradora. “Há todo um jogo político a ser avaliado que, no primeiro momento, é ruim para a Vale”, cita. “Temos de aguardar”.