Após turbulência, ações da Petrobras têm alívio com boas indicações ao Conselho e definição de assembleia

Analistas destacam que indicação de nomes técnicos ao Conselho são bem recebidas; contudo, ainda apontam cenários de incerteza para a estatal

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Depois de uma forte turbulência desde o início de fevereiro (e de um início de semana bastante tenso), as ações da Petrobras (PETR3;PETR4) têm registrado recuperação nos últimos três pregões. Além do noticiário geral mais positivo desde terça-feira com o progresso na votação da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) Emergencial e com a aprovação do pacote fiscal de US$ 1,9 trilhão nos EUA, as últimas notícias levaram a um cenário menos turvo para a estatal após as fortes quedas com a repentina saída de Roberto Castello Branco do comando da empresa.

Às 17h20 (horário de Brasília) da sessão desta quinta-feira, os ativos PETR3 subiam 3,41%, a R$ 23,05, enquanto os papéis PETR4 subiam ainda mais, 5,01%, a R$ 23,45. Em três pregões, os papéis ordinários já avançam cerca de 10%, enquanto os preferenciais avançam 11%. No ano, contudo, a queda é de cerca de 20% para os ativos PETR3 e de 17% para PETR4.

Cabe destacar que o movimento também ocorre em meio ao um possível movimento de troca de posição com as ações da PetroRio (PRIO3), que saltam 30% no ano e chegaram a superar os R$ 100 na semana passada, com analistas ainda vendo potencial para a empresa de petróleo após as recentes aquisições (veja mais aqui).

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Mas, além disso, nesta quinta-feira, a Petrobras comunicou a convocação de uma assembleia geral de acionistas para debater, dentre outros assuntos, a aprovação do nome de Joaquim Silva e Luna e outros indicados pelo governo para o Conselho de Administração.

A assembleia, prevista para o dia 12 de abril, foi convocada em meio ao processo de troca do CEO da companhia, Castello Branco, cujo mandato se encerra em 20 de março, para o nome de Silva e Luna.

O presidente-executivo da estatal integra o conselho e é eleito pelos seus pares. A empresa não informou quem comandará a Petrobras após o encerramento do mandato de Castello Branco, uma vez que a assembleia ocorrerá após 20 de março.

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De acordo com informações da Reuters, a petroleira poderia ter um comando interino em função desse processo para a escolha do CEO. Já segundo disse ao Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado) uma fonte ligada ao assunto, toda a diretoria da empresa será mantida até lá, inclusive o presidente Castello Branco, apesar de o mandato terminar no dia 20.

Além de confirmar a destituição de Castello Branco, feita publicamente em fevereiro pelo presidente da República, Jair Bolsonaro, a assembleia vai eleger os novos conselheiros da estatal anunciados esta semana, após indicações dos ministérios de Minas e Energia (MME) e da Economia.

Silva e Luna, indicado por Bolsonaro para o lugar do atual presidente da companhia, também será eleito conselheiro, condição para assumir a presidência. Depois de eleito conselheiro, Silva e Luna deverá ser conduzido à presidência da Petrobras na Assembleia-Geral Ordinária, no dia 14.

No mercado, havia especulações sobre quem comandaria a Petrobras entre o fim do mandato de Castello Branco e a assembleia de abril, com apostas de que um diretor poderia ser elevado ao cargo de presidente interino ou o presidente do Conselho de Administração, Eduardo Bacellar Leal Ferreira, poderia assumir.

Nos últimos dias,  as indicações do governo para comporem o Conselho de Administração da estatal também levou uma certa tranquilidade aos investidores, depois de uma verdadeira debandada de conselheiros preocupar muito, gerando questões sobre até mesmo como seria o processo de transição dentro da estatal. Contudo, mesmo com as indicações positivas, os anúncios recentes ainda estão longe de dirimir as grandes questões que ainda pairam sobre a empresa.

Serão avaliados os nomes dos candidatos Eduardo Bacellar Leal Ferreira (para presidência do conselho), Joaquim Silva e Luna, Márcio Andrade Weber, Murilo Marroquim de Souza, Ruy Flaks Schneider, Sonia Julia Sulzbeck Villalobos, Cynthia Santana Silveira e Ana Silvia Corso Matte, todos indicados pelo acionista controlador, a União. Além deles, também será avaliado o nome de Leonardo Pietro Antonelli, indicado por minoritários.

De acordo com analistas, os novos nomes do conselho, considerados técnicos e competentes, deram um alívio diante da forma atabalhoada com que Bolsonaro demitiu Castello Branco. A maioria é conhecida do setor, dando maior segurança para que a governança da companhia seja preservada, avaliam.

“As indicações foram todas tecnicamente sólidas, e temos uma leitura positiva das notícias. Levando tudo em consideração, teremos que esperar e ver como esse novo conselho vai lidar com as mensagens vindas do governo federal”, avalia o Bradesco BBI, que segue com recomendação equivalente à venda para os ativos da companhia.

Na avaliação de Gabriel Francisco e Maira Maldonado, analistas da XP Investimentos, o mercado deverá monitorar com atenção as indicações da União para o Conselho da Petrobras, em particular no caso de membros que não faziam parte do Conselho anteriormente e excetuando o General Joaquim de Silva e Luna, cuja indicação já era de conhecimento amplo para a posição de Conselheiro e Presidente da Petrobras. A recomendação da XP também é de venda para as ações, com preços-alvo de R$ 24 para ambas as classes de ativos, ordinárias e preferenciais.

Vale destacar que, nesta semana, a Petrobras anunciou novo reajuste de combustíveis em meio à alta do petróleo, com alta de 5,5% para o diesel e de 9% para a gasolina – a forte alta dos preços, por sinal, foi um dos motivos para Jair Bolsonaro indicar um novo nome para comandar a petroleira.

Porém, além da avaliação de que os preços continuam defasados em relação aos praticados no exterior, a XP aponta que o mercado atribuirá uma menor importância aos reajustes de preços divulgados durante o mandato da atual administração: “continuamos a enxergar riscos de que a Petrobras não pratique uma política de preços de combustível alinhada com as referências internacionais, variando de acordo com os preços de petróleo e a taxa de câmbio”.

Assim, muitas incertezas ainda pairam sobre a estatal, ainda que a indicação do Conselho e a data marcada para a assembleia de definição de novos nomes para a companhia tenham tranquilizado o mercado e impulsionado as ações.

Confira abaixo o perfil dos candidatos ao Conselho da Petrobras: 

O atual presidente do conselho, almirante Eduardo Bacellar Leal Ferreira foi indicado para recondução ao cargo. Segundo o comunicado, ele é almirante de esquadra da reserva e foi comandante da Marinha do Brasil até janeiro de 2019. Além da Escola Naval, Eduardo Leal Ferreira fez cursos de pós-graduação na Escola de Guerra Naval do Brasil e na Academia de Guerra Naval do Chile. Entre os cargos que exerceu estão o de capitão dos Portos do Rio de Janeiro e diretor de Portos e Costas. Ele foi comandante da Escola Naval, da Escola Superior de Guerra e comandante-em-chefe da Esquadra Brasileira.

Indicado pelo presidente Jair Bolsonaro para a presidência da Petrobras, o general de Exército da reserva Joaquim Silva e Luna também é indicado do governo para o conselho. Atualmente, é diretor-geral brasileiro da Itaipu Binacional. Silva e Luna serviu no Ministério da Defesa de março de 2014 a janeiro de 2019, como secretário-geral e como Ministro da Defesa. Ele se graduou na Academia Militar das Agulhas Negras em Arma de Engenharia, fez doutorado em ciências militares, mestrado em operações militares, pós-graduação em projetos e análise de sistemas pela Universidade de Brasília e em política, estratégia e alta administração do Exército, curso de oficial de comunicações, na Escola de Comunicações e curso de guerra na selva, realizado no Centro de Instrução de Guerra na Selva.

O oficial de reserva da Marinha Ruy Flaks Schneider acumula os cargos de presidente do Conselho de Administração da Eletrobras e da Liga da Reserva Naval do Brasil. Schneider cursou a Escola Superior de Guerra e se formou também como engenheiro industrial mecânico e de produção pela PUC-RIO, e como mestre em ciências de economia de engenharia pela Universidade de Stanford. Schneider é fundador e foi o primeiro diretor na PUC-RIO do Departamento de Engenharia Industrial. O oficial da marinha atuou como membro de conselhos de administração e fiscal de empresas como Xerox do Brasil, Banco Brascan de Investimento, Grupo Multiplan e INB Indústrias Nucleares do Brasil. Schneider também atuou como membro do conselho consultivo do mercado de capitais do Banco Central.

Márcio Andrade Weber é engenheiro civil formado pela UFRGS, com especialização em engenharia de petróleo pela Petrobras, onde ingressou em 1976 e trabalhou por 16 anos, ocupando gerenciais e diretivos. Na área internacional da Petrobras, atuou em em Trinidad, Líbia e Noruega. Foi membro da diretoria de serviços da Braspetro (Petrobras Internacional) e Diretor da Petroserv. Foi CEO da BOS, joint venture entre duas empresas estrangeiras e Petroserv, onde foi diretor. Atualmente presta assessoria ao grupo PMI.

Murilo Marroquim de Souza é formado em geologia pela Universidade Federal de Pernambuco, com mestrado em geofísica pela Universidade de Houston, no Estados Unidos. Trabalha na indústria de petróleo há 47 anos, com experiência em mais de 20 países em América, Europa, África e Ásia. Ele trabalhou na Petrobras entre 1971 a 1994, onde ocupou funções gerenciais. Foi gerente geral da IBM na unidade de soluções para a indústria de petróleo na América Latina. Como consultor, trabalhou para ANP (Agência Nacional do Petróleo) e na Ipiranga. De 2001 a 2011 foi Presidente da Devon Energy do Brasil, e desde 2011 é Presidente da Visla Consultoria de Petróleo.

Sonia Julia Sulzbeck Villalobos foi indicada pelo Ministério da Economia, e já atuou no conselho de administração da Petrobras entre 2018 e 2020, eleita por acionistas detentores de ações preferenciais. Ela é bacharel em administração pública e tem mestrado em administração de empresas com especialização em finanças, ambos pela EASP (Escola de Administração de Empresas de São Paulo), da FGV, acumula os cargos de membro do conselho de administração da Telefônica do Brasil e da LATAM Airlines Group, Tricolor Pinturas e Fanaloza/Briggs (Chile), Milkaut e Banco Hipotecario (Argentina).

Leia também: Quais são as consequências da debandada de conselheiros da Petrobras?

Villalobos tem experiência no mercado acionário brasileiro. Ela trabalhou na Equipe DTVM, no Banco Iochpe, no Banco Garantia como chefe do departamento de análise de investimentos, na Bassini, Playfair & Associates, na Larrain Vial e Lanin Partners. Desde 2016, é professora do Insper na pós-graduação Lato Sensu nas matérias de gestão de ativos e análise de demonstrações financeiras. Ela também atuou como membro do Conselho de Administração da TAM Linhas Aéreas, Método Engenharia (Brasil), Tricolor Pinturas e Fanaloza/Briggs (Chile), Milkaut e Banco Hipotecario (Argentina). Foi membro do Conselho de Administração da Petrobras de maio de 2018 até julho de 2020, eleita por acionistas detentores de ações preferenciais.

Cynthia Santana Silveira é engenheira elétrica formada pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ, com mestrados em Engenharia Mecânica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – COPPE/UFRJ e em Engenharia de Gás pela École des Mines de Paris. Sua trajetória profissional foi desenvolvida na indústria de óleo e gás, tendo atuado na operadora francesa Total por 17 anos. Entre 2004 e 2015, foi a Diretora Executiva de Gás e Eletricidade desta companhia. Também atuou como Diretora Executiva eleita no Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis- IBP entre 2011 e 2015 e como Diretora Executiva da BBPP Holding de 2004 a 2015. Desde 2015, exerce a função de consultora independente da EXERGIA Consultoria e Projetos de onde é sócia.

Cynthia possui experiências como Conselheira de Administração e Membro de Comitês de empresas e instituições do setor de petróleo e gás. Atuou como membro do Conselho de Administração da Transportadora Associada de Gás (TAG), Transportadora Brasileira Gasoduto Bolívia – Brasil (TBG) e Transportadora Sulbrasileira de Gás (TSB); membro do Comitê Executivo da International Gas Union (IGU); e Membro da Comissão Coordenadora de Gás Natural do Instituto Brasileiro de Petróleo (IBP).

Ana Silvia Corso Matte é advogada formada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRS com pós-graduação em recursos humanos pela PUC – IAG – Rio de Janeiro. Foi Diretora de Recursos Humanos no Jornal do Brasil, CSN, Sendas e Telsul. De 2006 a 2012 foi Diretora Estatutária de Gente C-Level na Light S.A. Desde 2012 atua como consultora em gestão, sendo sócia-diretora da Ana Silvia Matte Consultoria em Gestão. Possui experiência como Conselheira de Administração de empresas como a Cemig, Renova Energia e na startup Superjobs. Além das posições em Conselho, possui experiências relevantes em Comitês, sendo atualmente membro especialista externo do CPG – Comitê de Pessoas e Governança da Vale e membro especialista externo do CIA – Comitê de Indicação e Avaliação da Copel.

Leonardo Pietro Antonelli, indicado pelo acionista minoritário Banco Clássico. Antonelli era conselheiro da Petrobras, eleito em assembleia realizada em julho de 2020, mas renunciou ao posto na semana passada, em meio à saída de outros membros do colegiado.

Antonelli é advogado, sócio fundador do escritório Antonelli e Advogados Associados, graduado pela Universidade Candido Mendes, pós-graduado em Direito Tributário pela Universidade Estácio de Sá e mestre em Direito Econômico pela Universidade Candido Mendes. Professor universitário e Conferencista, integrou diversas bancas em concursos públicos, entre as quais a da magistratura de carreira, delegado da polícia federal e civil. Aprovado pelo concurso do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro como Administrador Judicial, atua ainda como Conselheiro da OAB-RJ, onde preside a Comissão de Defesa do Jurisdicionado e desde 2009 Preside o Conselho de Fundos de Investimentos da G5/Evercore.

(com Reuters e Estadão Conteúdo)

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.