Ações da Petrobras (PETR3;PETR4) saltam com notícia sobre projeto de privatização; analistas celebram, mas têm dúvidas sobre PL

O governo seguiria com a chamada “golden share”, permitindo vetar determinadas operações da petroleira e ainda apontar o CEO da empresa

Lara Rizério

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SÃO PAULO – As ações da Petrobras (PETR3;PETR4) subiram forte, com os ativos PETR4 em alta de quase 7%, após notícia da CNN Brasil sobre avanço em estudos sobre desestatização da companhia, depois confirmada por líder do governo no Senado. Os papéis PN saltaram 6,84%, a R$ 29,04, enquanto os ativos PETR3 registraram ganhos de 6,13%, a R$ 29,61.

À noite, após o fechamento do mercado, a Petrobras informou em comunicado que “indagou o seu acionista controlador, por meio do Ministério da Economia (ME), sobre a existência ou não de tais estudos ou de qualquer outro fato relevante que deva ser divulgado ao mercado sobre o tema, nos termos da Resolução CVM 44/2021.”

“A Petrobras informará ao mercado sobre eventuais fatos relevantes que venham a ser indicados por seu acionista controlador”, acrescentou.

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Projeto de privatização

Segundo a CNN, o plano que está em análise é de elaboração de um projeto de lei que permita à União começar a se desfazer das ações da companhia de forma a perder o controle. O governo federal tem o controle por meio de 50,5% das ações ordinárias (com direito a voto).

O governo seguiria com a chamada “golden share”, permitindo vetar determinadas operações da petroleira e ainda apontar o presidente da empresa.

A publicação aponta que a equipe econômica defende que a Petrobras passe para o Novo Mercado, acabando com a diferença entre ações ON e PN.

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O governo então começaria a venda de ações pelos papéis que hoje são detidos pelo BNDES e pelo BNDESPAR. O objetivo seria transformar a Petrobras numa “corporation”, com capital pulverizado, como o que está sendo pretendido para a Eletrobras (ELET3;ELET6).

Posteriormente, Fernando Bezerra, líder do governo no Senado, confirmou a jornalistas a informação de que há estudos para um projeto de lei que abra caminho para venda de ações do governo na Petrobras, com a perda de controle estatal.

O Credit Suisse destaca que a notícia é positiva, uma vez que levanta uma discussão sobre uma potencial privatização. No entanto, o formato citado nas notícias com o governo mantendo a indicação do CEO e o poder de veto não é bom para os acionistas minoritários, avaliam os analistas do banco suíço.

Segundo Victor Hasegawa, gestor da Infinity Asset, a notícia é positiva. Porém, também ressalta que, com o governo mantendo golden share e continuando a indicar o presidente da companhia, “nenhum investidor vai querer pagar o real valor da empresa, o seu potencial, porque ainda vai ter o risco da ingerência política na empresa”. Assim, aponta, ela vai provavelmente sofrer um desconto nessas vendas.

“O ideal seria que [o governo] vendesse por inteiro sem manter essa “golden share”. Mas também a dúvida é se o governo quer mesmo fazer essa venda ou se só está aventando a possibilidade para parecer um pouco mais liberal num momento em que perdeu essa credibilidade de ser um governo liberal”, avalia.

Ele também ressalta que há dúvida de como seria feita essa venda para transformar a empresa numa “corporation”, sendo que ela é um monopólio, ressaltando que seria mais produtivo se a Petrobras vendesse todas as suas refinarias.

Por outro lado, se já está sendo um processo difícil aprovar a venda das refinarias, Hasegawa ressalta que a aprovação da venda do controle pode ser ainda mais complicada. “Se vendesse todas as refinarias, pelo menos esse peso de ter que controlar o custo de combustível na bomba sairia dos ombros da Petrobras”, ressalta o gestor.

Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos, lembra ainda que, no passado recente, a companhia passou por momentos de muita intervenção, como em novembro de 2014, quando a PwC recusou-se a auditar os resultados da estatal, levando a um atraso na divulgação dos números da companhia. Ou seja, o movimento recente em busca de menor interferência é positivo.

“Claro que privatização como um todo da Petrobras vai ser difícil de acontecer, governo sempre vai ter percentual e sempre tem a questão política. Mas, dado que estamos nos aproximando de 2022, falta pouco tempo para chegarmos no ano eleitoral e que há toda a pressão de [preços de] combustíveis, movimentos nessa direção dão algum alívio para o mercado”, avalia Cruz.

O Bradesco BBI também destaca que, embora a notícia seja muito positiva para a Petrobras, vê como muito improvável que o governo seja capaz de aprovar uma privatização dessa magnitude em um ano eleitoral.

As ações já estavam subindo antes, cerca de 4%, em meio ao noticiário da companhia e em um dia de recuperação após as fortes quedas dos ativos na semana passada, com perda de cerca de R$ 30 bilhões de valor de mercado.

Mais cedo, o presidente Jair Bolsonaro tinha afirmado, em entrevista para uma rádio de Mato Grosso do Sul, que a privatização da Petrobras “entrou no radar” do governo, mas disse que não é um processo imediato.

“Isso entrou no nosso radar. Mas privatizar qualquer empresa não é como alguns pensam, que é pegar a empresa botar na prateleira e amanhã quem der mais leva embora. É uma complicação enorme. Ainda mais quando se fala em combustível. Se você tirar do monopólio do Estado, que existe, e botar no monopólio de uma pessoa particular, fica a mesma coisa ou talvez até pior”, disse Bolsonaro à rádio Caçula, de Três Lagoas (MS).

Ainda nesta sessão, a estatal informou que elevará o preço médio do diesel nas refinarias em 9,15% e o da gasolina em 7,05%, a partir de terça-feira, refletindo parte da elevação do barril do petróleo no mercado internacional e da taxa de câmbio, afirmou a companhia em comunicado à imprensa nesta segunda-feira.

Com os ajustes, o diesel –combustível mais comercializado do país– passará a ser vendido às distribuidoras a R$ 3,34 por litro, acumulando uma alta de 65% neste ano até o momento, segundo cálculos da Reuters a partir de dados da companhia.

Já a gasolina passará a ser comercializada a R$ 3,19 por litro, acumulando avanço de 73% no ano.

Em nota a clientes, o Credit Suisse afirmou ver como positivo o anúncio e disse que os reajustes reduziram a defasagem dos valores frente à paridade de importação, que nos cálculos do banco está agora em cerca de 11% para ambos os combustíveis.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.