Ações da Arezzo (ARZZ3) fecham em alta de 3,3% após compra da Vicenza: o que os analistas acharam da operação?

Analistas não veem que a aquisição foi uma "pechincha", mas destacam potencial de sinergias

Lara Rizério

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Enquanto a Lojas Renner (LREN3) negou que esteja negociando a compra da C&A (CEAB3) R$, o noticiário de fusões e aquisições no varejo foi movimentado neste início de semana pela Arezzo&Co (ARZZ3).

A companhia anunciou na noite da véspera a compra da marca de calçados Vicenza por R$ 103,8 milhões, em uma transação que considera 60% da empresa e que mantém estratégia de expansão do grupo no mercado formado pelas classes “A” e “B”. Os ativos ARZZ3 subiram 3,32%, a R$ 80,00, no pregão desta terça-feira (17).

Segundo a companhia, a Vicenza atua há mais de 30 anos no mercado de calçados e bolsas, com produção própria de aproximadamente 1.800 unidades por dia. A marca tem presença em todos os estados brasileiros e “movimento de expansão de exportações”. No ano passado, a Vicenza teve receita operacional bruta de aproximadamente R$ 80 milhões e lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) de cerca de 13 milhões, segundo a Arezzo&Co.

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Os 40% restantes da Vicenza serão incorporados pela Arezzo&Co por meio de emissão de novas ações (803.129 papéis) da empresa que serão adquiridas pelos vendedores, segundo fato relevante. Estes papéis poderão ser vendidos na proporção de 25% após 24 meses da conclusão do negócio, outros 25% 36 meses depois e o restante após o quarto ano do término da transação.

De acordo com a XP Investimentos, os valores da aquisição implicam em um múltiplo de valuation de valor da empresa sobre a receita (EV/receita) esperada em 2022 de 2,7 vezes e um valor da empresa sobre Ebitda (Ebitda = lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações), ou EV/Ebitda, de 13,3 vezes, que se compara com 1,9 vez e 12 vezes, respectivamente, para a ARZZ3.

“Embora o valuation não pareça barato, estimamos que os múltiplos de valor da empresa sobre Ebitda pós sinergias possam cair para patamares de 8 vezes a 6 vezes em 2023 e 2024. Por isso, vemos a aquisição como positiva e reiteramos nossa recomendação de compra e preço-alvo de R$ 115 por ação”, avaliam os analistas Danniela Eiger, Thiago Suedt e Gustavo Senday.

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Para a equipe de análise da XP, há um potencial de sinergia interessante a ser entregue, em um prazo relativamente curto.

Entre os pontos positivos: i) cadeia de fornecimento, já que a sede e rede de fornecedores da marca fica no Vale dos Sinos (RS), a mesma da Arezzo, que deve permitir com que a companhia tenha melhores condições comerciais com a integração; ii) faturamento, principalmente pelo aumento das vendas online e cross-selling com a operação de multimarcas da Arezzo (Schutz tem 1,4 mil lojas versus Vicenza com 700, sendo 115 em comum); iii) pessoas, uma vez que os acionistas e fundadores da Vicenza, Rafaela e Ariovaldo Furlanetto, devem fazer parte do time da Arezzo e contribuir com pesquisa e desenvolvimento de calçados da companhia; e iv) economias fiscais.

Os analistas da Eleven ressaltam que a Vicenza está presente em centenas de lojas multimarcas em todo o Brasil, além de ter iniciado sua internacionalização em 2007, expandindo para a Europa e exportando seus calçados desde então. Atualmente 11% do faturamento vem dos canais digitais (416 mil seguidores no Instagram), uma penetração baixa quando comparada à Arezzo&Co (cerca de 25%).

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A Eleven cita entre sinergias e oportunidades: (i) cross sell nas multimarcas; (ii) a Vicenza possuir mais de 15 anos de experiência com exportação, além de estar presente em mais 50 países em todos os continentes, possibilitando assim a entrada de outras marcas do grupo em novas geografias; (iii) integração do e-commerce da marca na plataforma Arezzo&Co, potencializando as vendas e aumentando a penetração desse canal de vendas; (iv) abertura de lojas físicas; (v) sourcing, dado que a Vicenza possui fábrica própria. Os analistas da casa reforçaram recomendação de compra para a ação da Arezzo, com preço-alvo de R$ 110.

O JPMorgan também tem recomendação equivalente à compra para ARZZ3 (overweight, ou exposição acima da média do mercado).

“No geral, vemos a operação como um pequeno negócio que complementa a oferta da Arezzo em seu negócio principal com potencial para sinergias significativas. E vemos ganhos potenciais provenientes de: 1) fabricação e aquisição; 2) gerenciamento de canais de varejo e digital; e, 3) back-office, enquanto as operações de Vicenza são de uma cidade próxima à sede da Arezzo”, avaliam.

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Assim como a XP, os analistas do banco também veem que a operação não foi barata. Contudo, apesar do prêmio, a magnitude dos valores é baixa enquanto há valores intangíveis que acompanham o negócio, como designers e novos gerentes de marca para ajudar a apoiar a inovação e diferenciação contínuas da empresa. “De forma líquida, embora pequeno e improvável de ser financeiramente material, damos as boas-vindas ao acordo”, avalia o JP.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.