Ação da PetroRio se destaca cada vez mais em meio à turbulência na Petrobras, mas ela tem espaço para novas altas?

Nesta semana, Bradesco BBI elevou recomendação para as ações PRIO3, enquanto BBA iniciou cobertura com recomendação equivalente à compra

Lara Rizério

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SÃO PAULO – O ano de 2020 já tinha sido bastante positivo para a petroleira PetroRio (PRIO3), com as ações saltando 112% no período com aquisições promissoras para a companhia e boas perspectivas para o mercado de petróleo.

O ano de 2021 veio e as ações da companhia, cujo modelo de negócios está focado na aquisição de ativos maduros do segmento, seguiram com ganhos; contudo, em fevereiro, a atenção para os papéis aumentou ainda mais, com os investidores em busca de alternativas dentro do setor. Isso depois da forte fuga dos investidores da Petrobras (PETR3;PETR4) em meio à mudança repentina no comando da companhia, decorrente da insatisfação do presidente Jair Bolsonaro com o reajuste de preços feito pela estatal.

Enquanto as ações da Petrobras tiveram uma forte queda em fevereiro, com os ativos ON caindo cerca de 19%, os papéis da PetroRio  se destacaram entre as maiores altas do período, com ganhos de 19%.

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No final de fevereiro, o Bradesco BBI destacou que o cenário relativamente pior para a Petrobras acabou favorecendo a visão para a PetroRio, que já era mais bem vista por muitos analistas exatamente pela visão negativa – que piorou – de sua “rival” na bolsa ser estatal e estar fortemente sujeita a decisões do governo.

A recomendação de Vicente Falanga e Gustavo Sadka, analistas do BBI, até então era neutra para os papéis PRIO3. Contudo, nesta semana, os analistas elevaram a recomendação para o ativo para equivalente à compra, ou recomendação outperform (desempenho acima da média do mercado), com o preço-alvo também sendo elevado de R$ 90 para R$ 126 por ação.

Parte da visão positiva vem do tema de fusões e aquisições, que segue em destaque após a companhia anunciar, no início de março, a aquisição da participação de 28,6% da Total no campo Wahoo, elevando a participação da empresa no campo para 64,3%. “Acreditamos que esta aquisição acelerou e reduziu os riscos da agenda de fusões e aquisições da empresa”, avaliam.

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Agora, os analistas incorporam a aquisição da participação remanescente de 35,7% na Wahoo (atualmente de propriedade do IBV) nas estimativas, que acreditam ter grandes chances de se concretizar.

“Vemos a PetroRio como a proprietária natural do Wahoo, uma vez que poderá operar o campo com o mesmo FPSO (plataforma) usado no Frade proporcionando sinergias significativas. Os custos incrementais de produção de 40-45 mil barris por dia do Wahoo por meio do FPSO de Frade serão de US$ 10 milhões ao ano além da atual base de opex (despesas operacionais) de US$ 70 milhões ao ano (e produção de 18 mil barris por dia). A proposta de risco-retorno para parceiros não operacionais em Wahoo é bem menos interessante, e, portanto, vemos as chances da transação com o IBV serem altas”, afirmam.

Eles também reforçam a avaliação de que a PetroRio é uma boa adição aos portfólios de ações para capturar a boa tendência dos preços do petróleo.

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Para Falanga e Sadka, apesar da recente valorização das ações, ainda há espaço para a compra, apontando que Wahoo agora representa R$ 53 por (assumindo 100% de propriedade) do preço-alvo de R$ 126, o que significa que os riscos agora estão muito concentrados neste ativo.

“Embora a Wahoo tenha 3 poços perfurados com sucesso e apoiados por testes de fluxo, as reservas reais somente serão atribuídas por consultorias independentes no futuro. Há dois fortes pontos positivos para o caso de investimento do PRIO: (i) forte impulso dos preços do petróleo, alimentado pela coordenação da Opep [acordo realizado na última semana de seguir com os cortes de produção fez com que o petróleo atingisse os maiores patamares desde o início de 2020] ; e (ii) intensa agenda de fusões e aquisições que, além da potencial aquisição da participação do IBV na Wahoo, poderia incluir outros ativos como Albacora, Peregrino e Argonauta”, avaliam.

Já os principais riscos do Wahoo estão concentrados apenas em 2022, à medida que a campanha de desenvolvimento dos campos avança.

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Os analistas apontam que, a princípio, o múltiplo da PetroRio, com uma relação de 5,5 vezes o valor da empresa sobre o lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebtida) esperado para 2021 representa um prêmio de 38% sobre a média de das empresas da América Latina (com foco no petróleo). Ou seja, a ação, a princípio, estaria cara.

Contudo, a avaliação é de que este prêmio é garantido – e deve ser ainda mais acentuado – dado o cronograma de crescimento de longo prazo da PetroRio, que nas estimativas implica um CAGR (taxa de crescimento médio ponderada) de Ebitda de 2021-24 de 35% contra um crescimento muito mais lento para seus pares latino-americanos.

Na mesma linha, na última quarta-feira, o Itaú BBA iniciou a cobertura para as ações PRIO3 com recomendação outperform e preço-alvo de R$ 110, destacando que a PetroRio tem se destacado como um player importante no cenário brasileiro de petróleo e gás devido à criação de valor e crescimento entregou nos últimos anos.

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“A empresa conseguiu isso de forma orgânica e inorgânica, enquanto extrai sinergias significativas combinando seu portfólio atual com aquisições. No futuro, a atividade de fusões e aquisições provavelmente levará a novos catalisadores (não considerado nas nossas estimativas)”, apontam os analistas, destacando que um novo mercado secundário de ativos maduros está surgindo – e as oportunidades são grandes.

PetroRio X Petrobras

Mesmo com as indicações positivas, nesta semana, as ações PRIO3 caíram cerca de 6% e foram aos R$ 93, após chegarem a ultrapassar os R$ 100 na sexta-feira passada, ainda assim, acumulando ganhos de mais de 30% no ano. Já os papéis PETR3 e PETR4 avançam cerca de 3% na semana, ainda que caiam cerca de 20% no acumulado de 2021.

Ainda que em uma semana turbulenta, entre terça e quinta as ações da Petrobras tiveram um alívio em meio a maiores definições sobre a composição do novo Conselho de Administração da estatal, mas o cenário que se aponta ainda é de muitas incertezas. Enquanto os papéis PRIO3 tiveram a recomendação elevada pelo BBI e a cobertura iniciada pelo Itaú BBA, os ativos da Petrobras tiveram, no final de fevereiro (no auge da crise), a recomendação cortada para equivalente à venda pela primeira instituição e em revisão pela segunda.

O BBI até aponta que, com a perspectiva de elevação da Selic na semana que vem pelo Banco Central e a maior tranquilidade do lado fiscal com a votação da PEC Emergencial, o real pode ganhar impulso ante o dólar, o que seria positivo para a Petrobras por ser um instrumento a menos de pressão para o reajuste de preços interno dos combustíveis para alinhamento com as cotações internacionais.

Contudo, avalia, o fluxo de notícias recentes mostra que os eventos pré-eleitorais começaram, principalmente após a decisão do ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), de anular as condenações do ex-presidente Lula na Operação Lava-Jato, o que o colocou de volta ao cenário eleitoral.

“Isso pode adicionar volatilidade às ações da Petrobras mais cedo do que o esperado, quando se olha para as eleições presidenciais de 2022. Dependendo de quem sai vencedor das eleições de 2022, as políticas da Petrobras podem passar por uma grande mudança. O que seria um fator positivo para a companhia é o destravamento da nova política de dividendos da Petrobras já em 2022. No entanto, como a venda das refinarias pode ser atrasada, esse evento permanece incerto”, avaliam. Assim, enquanto o ambiente segue bastante incerto para a estatal Petrobras, a PetroRio ganha mais destaque – e ganha a visão positiva dos analistas.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.