Ação da Natura &Co cai na semana, com a empresa no centro de uma polêmica nas redes sociais: coincidência ou impacto real?

O influenciador Raiam Santos e o empreendedor Tallis Gomes entraram em uma discussão pública envolvendo um investimento na startup Singu

Lara Rizério

Loja da Natura (Divulgação)

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Referência na B3 em ESG (adoção de melhores práticas ambientais, sociais e de governança corporativa), a Natura – controlada pela Natura & Co (NTCO3) – se envolveu em uma polêmica entre “influenciadores-empreendedores” desde o último domingo, em meio a acusações de conflito de interesses depois do aporte feito na startup Singu.

O influenciador digital Raiam Santos, que tem 1,5 milhão de seguidores no Instagram, acusou a Natura de irregularidades ao investir na Singu, negócio criado em 2015 por Tallis Gomes, fundador da EasyTaxi.

Em agosto, a Natura anunciou um investimento de valor não divulgado na startup, aplicativo que conecta profissionais de beleza e bem-estar a usuários finais. Na época, a gigante de beleza informou que realizaria novos aportes ao longo dos próximos quatro anos, com possibilidade de compra total do aplicativo no final do período.

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Contudo, Santos destacou que a empresa não comunicou que o negócio estava sendo feito com Matheus Farah de Godoy,  enteado de Guilherme Leal, acionista e co-presidente do conselho da Natura. Matheus investiu R$ 600 mil de recursos próprios na startup. Recentemente, ele também passou a adotar o sobrenome Leal.

Para o influenciador, o negócio é uma operação de “salvamento” da Singu, que vinha enfrentando dificuldades financeiras. Em stories no Instagram no último domingo, Santos apresentou dados do balanço da startup que constam na Junta Comercial do Estado de São Paulo (Jucesp) e questionou: “Por que a Natura compraria uma empresa cujo patrimônio líquido contábil é de R$ 15 milhões negativos?”

Raiam Santos disse que recebeu um processo por danos morais de Tallis Gomes de R$ 20 mil depois de afirmar em um postagem que a Singu estava quebrada e, por isso, fez publicações mais detalhadas nas redes sociais, reforçando as suas acusações.

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Não é a primeira vez que o influenciador se envolve em polêmicas devido a suas postagens e declarações públicas. Recentemente, por conta de uma piada feita contra nordestinos, a sua conta no Instagram saiu do ar, com diversos veículos de mídia afirmando que a rede social havia bloqueado a conta por causa de denúncias feitas pelos usuários. Raiam, por sua vez, afirmou que foi ele mesmo quem suspendeu a sua página.

Santos tem uma empresa – sem sede – de cursos e consultoria. Ele também vende um leque de outros produtos digitais – livros, áudio livro, mentoria, entre outros.  Suas ofertas são amplas: vão desde cursos de como aprender russo em 2 horas (que custa R$ 297) até como ficar milionário com o Youtube (com o preço de R$ 2.997). Carioca, ele vive atualmente na Rússia.

Em declaração em vídeo publicada no Instagram, Tallis Gomes não citou o nome de Raiam Santos, mas afirmou que acredita no negócio da Singu e que, por conta disso, não tem nem recebido salário. “Eu banco o crescimento da empresa”, apontou, destacando que o investimento da Natura ajuda a subsidiar o crescimento da plataforma que, segundo ele, paga três vezes mais para as suas profissionais na comparação com a média do mercado.

“O que eu aprendi durante essa jornada gerindo pessoas e empreendendo é que a gente deixa quem está na arquibancada falando e a gente que está jogando bola se preocupa em fazer gol”, afirmou Gomes.

Em nota, a Natura afirmou que realizou um investimento na Singu e não é controladora da empresa. Com o investimento, apontou, espera acelerar a sua intenção estratégica de ampliar a oferta de serviços de suas consultoras de beleza.

“Pelos termos do acordo, a Natura tem o direito de adquirir 100% da Singu, a depender do atingimento de metas previamente estipuladas entre as partes. A Singu, como é típico do ambiente de startups, possui mais de 30 investidores, entre os quais Matheus Farah Leal, que possui apenas um contrato de mútuo e não integra a base de acionistas da companhia. Ele jamais participou da administração da Singu ou teve qualquer influência na sua gestão. Além disso, ele também não se envolveu no processo de negociação com a Natura e não foi favorecido de qualquer forma”, destacou ainda na nota.

Depois da polêmica, as ações da Natura &Co caíram. Na última terça-feira (1), enquanto o Ibovespa subiu 2,3%, os papéis NTCO3 da companhia fecharam em queda de 2,6%, após chegar a atingir uma queda de 4,38% no intraday.

O movimento de queda continuou no começo do pregão de hoje, mas a desvalorização foi zerada durante a tarde. No acumulado da semana, as ações registram baixa de mais de 4%, ante alta de mais de 1% do Ibovespa.

Analistas consultados pelo InfoMoney dizem que a queda se deve mais ao movimento de rotação na Bolsa, com os investidores vendendo ações que subiram no ano para comprar papéis mais baratos do que às acusações de Raiam Santos. Mesmo com a baixa recente, as ações da Natura acumulam alta de 25% em 2020.

Ainda assim, uma analista que preferiu não ter seu nome relevado destacou que seria de “bom tom” para a Natura ter informado ao mercado sobre as partes relacionadas na operação. Para ela, são necessários mais desdobramentos, como uma investigação sobre possível conflito de interesses com a operação entre Singu e a Natura para entender melhor o impacto na ação.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.