Ação da Hering salta 8,6% após resultado com e-commerce e investimentos no radar, mas analistas preferem esperar para ver

Iniciativas da varejista são bem-vindas, mas recomendação dos analistas ainda é majoritariamente neutra ou de venda para os papéis HGTX3

Lara Rizério

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SÃO PAULO – As ações da Cia. Hering (HGTX3) registraram fortes ganhos na sessão pós resultado, mesmo depois de números considerados fracos – ainda que em linha com o esperado pelos analistas de mercado. Os ativos HGTX3 fecharam com alta de 8,62%, a R$ 16,00, após chegarem a subir 9,78%, a R$ 16,17, na máxima do dia.

O ano de 2020 foi bastante conturbado para as varejistas de moda como um todo em meio às medidas de restrição à mobilidade por conta da pandemia do coronavírus, o que tornou o desafio ainda maior para a Hering, que já passava por um processo de reestruturação para se livrar dos resultados ruins antes mesmo da pandemia.

Neste sentido, alguns pontos foram comemorados pelos analistas que cobrem a ação, principalmente a maior digitalização e a expectativa por maiores investimentos – ainda que a esmagadora maioria deles prefira esperar para ver os resultados das iniciativas antes de se tornar mais otimista com o papel.

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“O resultado do trimestre veio fraco e não foi suficiente para reverter os impactos negativos da pandemia no resultado de 2020. Porém, no último trimestre, houve uma recuperação puxada pelo desempenho do e-commerce e maior integração multicanal”, destaca a equipe de análise da Levante Ideias de Investimentos.

A Cia. Hering divulgou na quarta baixa de 12% no lucro líquido do quarto trimestre ante mesmo período de 2019, para R$ 55,6 milhões, com receita líquida quase estável. Já o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda)  somou R$ 68,5 milhões, queda de 17% ano a ano, com a margem recuando 3,3 pontos, para 16,1%. A empresa registrou alta de 1% vendas mesmas lojas ante uma queda de 4% nos últimos três meses de 2019.

Segundo a empresa, enquanto a venda das lojas físicas caiu 11,6% no trimestre, a R$ 115,6 milhões, as vendas do canal online subiram 230,6%, para R$ 70,7 milhões. Já as vendas para franqueados caíram 2,9%, para R$ 177,4 milhões.

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Mesmo com os números impactados pelas restrições nas lojas físicas, os analistas do Credit Suisse ressaltam que o webcommerce cresceu 231% na base de comparação anual, agora totalizando 14,3% de vendas domesticas. Enquanto isso, a  margem bruta vem melhorando sequencialmente (alta de 4,8 pontos percentuais na comparação com o terceiro trimestre de 2020 e quase estável frente o mesmo período de 2019) principalmente dada a participação mais alta no portfolio de venda de canais sell-out, com a venda direta da indústria para o consumidor final. Também entre os pontos positivos, está a geração de fluxo de caixa livre de R$ 46 milhões, um dado a ser destacado mesmo em tempos difíceis.

Para Victor Saragiotto e Pedro Pinto, analistas do banco, a mudança na mentalidade dentro da companhia, no caminho de ser mais flexível e voltada ao digital, é encorajadora.

A empresa ainda anunciou investimento de R$ 131 milhões em 2021, seu “maior investimento da história”. Os recursos irão para tecnologia, reestruturação de sistemas, plataformas digitais e modernização de parque industrial e logístico. Além disso, há o plano de de expansão de lojas/conversão, num total de 135 pontos de venda.

A Levante também destacou esses movimentos como pontos positivos. A aceleração de investimentos em logística, digitalização e integração das operações já permitiu um forte crescimento do e-commerce como vertente para contornar as dificuldades nas vendas presenciais. “Hoje a empresa opera com 100% de sua rede de lojas integrados ao e-commerce, a omnicanalidade (retirada, entregas da loja a partir da loja), além do lançamento do app com mais de 38 mil downloads em 30 dias”, ressaltam.

Os indicadores também parecem promissores, com os clientes via omnicanalidade tendo 2,4 vezes maior frequência de compras do que em canais tradicionais e ticket médio de 2,6 vezes maior. Outro ponto ressaltado pelos analistas é que a empresa reduziu seu tempo de entrega para 2,4 dias, enquanto a continuidade da abertura de lojas e expansão geográfica foi possível devido à integração do digital com o físico de maneira bem-sucedida.

Já nas lojas físicas próprias, também houve evolução nos indicadores de eficiência de operação no quarto trimestre, com 12% de crescimento de ticket médio, e maior taxa de conversão em 5,1 pontos percentuais (calculado pela quantidade de clientes que compram na loja dividido pelo total transitado nas lojas). Isso apesar da queda de 36% no fluxo de clientes e 11,6% na receita total.

Bons números, mas…

Em meio a indicações positivas, por que o ceticismo ainda toma conta dos analistas? De acordo com compilação feita pela Refinitiv com casas de análise que cobrem o papel, 8 têm recomendação neutra, 5 recomendam venda e apenas 1 recomenda compra. Os motivos para isso são tanto a conjuntura atual do mercado quanto ainda os desafios internos que a varejista terá que superar.

De acordo com o Credit Suisse, em meio a esse cenário de pandemia, os fundamentos das empresas estão sendo menos importantes do que a situação externa – ou seja, as mudanças por conta do coronavírus devem continuar afetando negativamente as varejistas de moda. Desta forma, os analistas destacam ainda preferir os nomes mais defensivos do varejo, como Carrefour (CRFB3) e Pague Menos (PGMN3).

Além disso, apesar da mudança de mentalidade da companhia ser bastante importante para a criação de fundamentos sustentáveis para crescimento no médio e no longo prazo, os analistas do banco suíço ressaltam ainda cautela com os ativos. “A empresa não apresentou alta de receita nos últimos nove anos e tem lutado para reverter as operações. Com isso, preferimos aguardar um cenário menos incerto e uma melhoria consistente dos resultados”, avaliam Saragiotto e Pinto. A recomendação do Credit para o papel é neutra, com preço-alvo de R$ 24.

O Itaú BBA, que possui preço justo de R$ 18 para o ativo e recomendação marketperform (desempenho em linha com o desempenho do mercado), avalia que os investidores devem se concentrar agora em dois fatores: i) a penetração e sustentabilidade do digital e ii) sinais claros de uma recuperação acelerada nas vendas das lojas físicas – embora sujeita a incertezas macro econômicas. Assim, à luz das incertezas atuais, os analistas mantêm a recomendação equivalente à neutra para os papéis.

Neste sentido, o Santander, que possui recomendação underperform (desempenho abaixo da média do mercado) para a ação com preço-alvo de R$ 20, aponta que, conforme o foco do mercado se volta para a recuperação esperada nas vendas para 2021, os analistas acreditam esta melhora pode estar em risco devido às crescentes restrições de mobilidade em estados importantes para a companhia, como São Paulo.

A Levante avalia que os resultados vieram interessantes no quarto trimestre de 2020, porém não há perspectivas de melhora significativa para a empresa e para o setor de varejo de moda no curto prazo, com possibilidade de um novo “lockdown” devido à pandemia. “O ponto de observação é a continuidade do crescimento forte do e-commerce e o retorno das vendas via canais físicos, além da possível melhora de margem com o ganho de escala da estratégia multicanal”, avalia a equipe de análise.

Assim, a cautela deve seguir pautando o cenário para a Cia. Hering, ainda que os números da companhia tenham animado nesta sessão.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.