Ação da CSN dispara até 10%, enquanto Gerdau cai 5%: o que foi tão diferente no resultado das siderúrgicas?

CSN viu seu lucro saltar 369% e animou o mercado, enquanto anúncios de aumento de preços do aço e contrato de fornecimento de minério de ferro impulsionaram ainda mais a ação; já resultado da Gerdau foi visto como "pontualmente fraco"

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Após a Usiminas (USIM5) divulgar na semana passada números que não agradaram o mercado, nesta sessão foi a vez de CSN (CSNA3) e Gerdau (GGBR4) na bolsa repercutirem os resultados do quarto trimestre.

E, pelo menos com relação aos balanços, já houve uma clara vencedora do setor: justamente a muitas vezes classificada como problemática CSN, que viu seus papéis saltarem até 10% nesta quinta-feira (21), enquanto os ativos GGBR4 chegaram a cair 5%. Os ativos CSNA3 fecharam com ganhos de 9,39%, a R$ 11,53, enquanto a Gerdau fechou com baixa de 4,43%, a R$ 15,10. 

Os ativos da CSN, que atua no setor de aços planos e também na mineração, disparam por uma combinação de fatores positivos. A siderúrgica viu seu lucro líquido saltar 369%, para R$ 1,77 bilhão, no quarto trimestre, favorecido pelo reconhecimento de créditos fiscais. O Ebitda (lucro antes de impostos, juros, depreciação e amortização, na sigla em inglês) ajustado da companhia somou R$ 1,56 bilhão no quarto trimestre, um aumento de 30% sobre um ano antes.

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Após o balanço, a ação da companhia teve a recomendação elevada para outperform (desempenho acima da média do mercado) pelo Itaú BBA, também de olho na perspectiva de preços mais altos do minério nos próximos anos, menor risco de alavancagem e uma redução no custo de capital.

“Nós temos consciência de que a CSN apresenta uma história de investimento de risco, mas acreditamos que ela poderia se beneficiar desse cenário de maior cotação do minério (a perspectiva para 2019 passou de US$ 64 a tonelada para US$ 75), melhora na demanda de aço e cimentos no Brasil, além da menor taxa de juros, o que ajuda a companhia uma vez que ela ainda é bastante alavancada”, avalia a equipe de análise do banco. 

Além do resultado, outras notícias explicam o forte desempenho das ações da CSN durante o pregão. A CSN Mineração anunciou ter fechado um contrato de fornecimento de minério de ferro de longo prazo para a suíça Glencore. Em fato relevante, a empresa afirma que a transação envolve um pré-pagamento de US$ 500 milhões, e o contrato prevê o fornecimento de 22 milhões de toneladas de minério em 5 anos.

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Com a conclusão do negócio, a CSN estima que a relação dívida líquida/Ebitda Pro Forma será reduzida para 4,1 vezes, considerando o câmbio atual. A alavancagem da companhia fechou 2018 em 4,55 vezes. “Embora o anúncio vinha sendo antecipado pelo mercado, ele é bem recebido, trazendo liquidez adicional”, avalia a XP Research. 

Durante a teleconferência, a CSN trouxe ainda mais razões para os investidores se animarem: de acordo com os diretores da empresa, a siderúrgica irá aumentar de 10% a 15% o preço do aço a partir do dia 25 de março.

Para o diretor comercial da companhia, Luiz Martinez, existe hoje uma situação perfeita de oferta e demanda “para poder melhorar a rentabilidade do setor” em meio ao preço do minério e levando em conta os contextos de mercado doméstico e nos Estados Unidos. Segundo ele, “a capacidade de placas no mundo está ficando cada vez mais restrita”. Foi logo após a fala dos diretores que as ações da CSN chegaram à máxima da sessão.

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Em meio a esse ambiente, a perspectiva é positiva para as ações. Além do Itaú BBA, a XP Research mantém recomendação de compra para as ações da CSN destacando que, além dos preços de minério de ferro mais fortes do que o esperado por mais tempo, os potenciais desinvestimentos devem dar suporte às ações nos próximos meses.

Gerdau: resultado pontualmente ruim…

Já na Gerdau, à primeira vista, os números pareciam positivos. Afinal, a siderúrgica focada em aços longos apresentou lucro líquido de R$ 389 milhões no quarto trimestre de 2018, revertendo o prejuízo de R$ 1,38 bilhão registrado em igual período de 2017. No ano, o lucro líquido foi para R$ 2,3 bilhões, também revertendo o prejuízo de R$ 339 milhões no encerramento de 2017.

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Contudo, os números da companhia não foram bem recebidos pelo mercado e os papéis registraram forte queda durante a sessão. Isso porque o segmento de aços Especiais e a América Latina decepcionaram por conta de custos maiores do que esperado, assim como volumes mais fracos.

Além disso, o Ebitda ficou 12% abaixo do consenso, enquanto a margem Ebitda no Brasil também ficou abaixo do esperado ao atingir 16,4%, 1 ponto percentual abaixo da expectativa do mercado. Boa parte do desempenho ruim do mercado interno pode ser explicado pela postergação de compra de alguns clientes por conta da perspectiva de um preço menor ao longo do início deste ano. 

As vendas físicas de aço foram de 14,6 milhões de toneladas no ano, apresentando 3% de redução devido à venda de algumas unidades produtoras de vergalhões e fio-máquina nos Estados Unidos, assim como das operações no Chile e na Índia. Os desinvestimentos da Gerdau também influenciaram os volumes de produção no período, que foram de 15,3 milhões de toneladas, uma diminuição de 5% perante o exercício anterior.

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Contudo, apesar dos números do quarto trimestre não terem agradado, a visão geral dos analistas é de que o resultado negativo foi algo pontual. Segundo a XP Research, o segmento de aços especiais e a região da América Latina devem ter a operação normalizada nos próximos meses, enquanto destacam também que os resultados na América do Norte foram sólidos. Nos EUA, a continuidade das tarifas sobre importação e a demanda ainda sólida em aços longos são fatores que guiam uma visão positiva sobre a operação. 

A alavancagem da siderúrgica também seguiu em trajetória de queda, passando de uma relação dívida líquida/Ebitda de 3 vezes para 1,7 vez em apenas um ano. 

“Mantemos nossa recomendação de compra para a ação com preço alvo de R$ 22 por ação, à medida que o preço da ação negocia a uma relação de 4,75 vezes o Ebitda e a companhia deve gerar forte fluxo de caixa em 2019”, avalia a XP Research. 

A companhia ainda divulgou seu programa de investimento em 2019-2021. O capex (despesa de capital) total deve chegar a R $ 7,1 bilhões, o que representa uma elevação de R$ 2,3 bilhões, sendo destinado principalmente a dois pontos: i) modernização da usina de Ouro Branco e ii) atualização tecnológica das usinas atuais da empresa. 

A Gerdau ainda anunciou uma nova política financeira que reduz os riscos futuros de alavancagem e liquidez. com uma meta de dívida líquida em relação ao Ebitda entre 1 e 1,5 vez e uma dívida bruta abaixo de R$ 12 bilhões. Em meio a esses fatores, o Itaú BBA também segue com recomendação outperform para os ativos, com preço-alvo de R$ 20 por ação. Outro a manter essa recomendação foi o Bradesco BBI, ressaltando que espera uma melhora de margens no Brasil e margens mais saudáveis nos EUA, de olho na recuperação dos preços de aço. 

Em teleconferência com jornalistas, o CEO Gustavo Werneck corroborou as perspectivas positivas, afirmando que a siderúrgica está “plenamente preparada para atender a demanda brasileira” após um último trimestre difícil, destacando que haverá “continuidade da evolução da indústria e início da recuperação da construção civil”. No mercado internacional, espera-se recuperação dos preços ao longo do ano e aumento do consumo de aços longos. 

Desta forma, apesar de desempenhos tão diferentes na bolsa hoje, os analistas estão otimistas para as duas companhias. A velocidade de desalavancagem, as cotações das commodities e o ritmo da retomada da economia serão determinantes para definir qual será o fôlego das duas companhias na Bolsa em 2019. 

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.