Ação barata e carteira de crédito defensiva: os trunfos do BB destacados por analistas após o balanço do 1º tri

Contudo, há a ponderação sobre os riscos de ser uma empresa estatal em meio ao cenário de crise

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Com um comportamento errático em uma sessão de forte volatilidade para o Ibovespa, olhar o desempenho das ações do Banco do Brasil (BBAS3) pode não ser o ideal para entender se a instituição estatal registrou um resultado positivo no primeiro trimestre de 2020. As ações chegaram a subir até 1,70%, mas passaram a ter queda durante a tarde, chegando a ter perdas de mais de 3% e fechando em queda de 2,70%, a R$ 26,26.

A queda do lucro por conta das provisões de devedores duvidosos já era esperada, principalmente após os concorrentes do setor privado Bradesco e Itaú divulgarem seus números – e foi o que aconteceu.

O lucro líquido ajustado totalizou R$ 3,395 bilhões no primeiro trimestre, queda de 20,1% frente igual período de 2019, decepcionando ao vir 25% abaixo do esperado por analistas de mercado, com as provisões para possíveis calotes (créditos de liquidação duvidosa) atingindo R$ 2,0 bilhões.

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Além disso, houve maiores custos de crédito que vieram em R$ 5,5 bilhões (versus R$ 3 bilhões no quarto trimestre e R$ 3,1 bilhões no primeiro trimestre) e uma maior taxa efetiva de imposto em 25% (versus um percentual entre 16% e 17% nos mesmos períodos).

O resultado, desconsiderando imposto e provisões, veio 16% maior anualmente e 10% maior trimestralmente.” Porém, destacamos que o maior nível de provisionamento não foi prospectivo, uma vez que o índice de cobertura – relação entre empréstimos inadimplentes e provisões -permaneceu trimestralmente em cerca de 200%”, ressalta em relatório Marcel Campos, analista da XP Investimentos. Não obstante, os administradores suspenderam o guidance devido às incertezas causadas pela pandemia da Covid-19.

A XP Investimentos destacou que o lucro desapontou as estimativas. Mas, embora o lucro tenha decepcionado, o banco estatal está reforçado para os eventuais desafios criados pela pandemia. Marcel Campos, analista da XP, destaca três pontos: i) cobertura de inadimplência de 200%; ii) maior índice de capital nível I (que engloba o patrimônio dos acionistas e os lucros retidos) entre os bancos incumbentes em 13,9%; e iii) uma carteira de crédito defendida, com 40% entre crédito consignado e rural.

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Conforme aponta o analista, ainda houve surpresas positivas, com destaque para as despesas de pessoal subindo abaixo da inflação anualmente em 1% e caindo 11% trimestralmente pra R$ 4,9 bilhões. Outras despesas administrativas também apresentaram boa queda de cerca de 20% anualmente e trimestralmente para R$ 3,6 bilhões, uma vez que provisões para processos de clientes e funcionários tiveram baixa considerável de R$ 2,1 bilhões no segundo trimestre de 2019 para R$ 700 milhões no primeiro trimestre. O banco está trabalhando com 360 menos agências e 4 mil funcionários a menos desde o primeiro trimestre do ano passado.

O BB afirma que a chegada da epidemia do coronavírus acelerou o uso do aplicativo do banco a partir de março, com 1,5 milhão de novos usuários na plataforma, que chegou a 15,8 milhões de clientes. “Em abril, a média diária de clientes que passaram a usar o app foi 358% superior aos últimos seis meses”, informou o banco.

Também em destaque, a XP ressalta que, embora as receitas de serviço como um todo tenham vindo em linha com estimativas em R$ 7,1 bilhões, houve surpresa nas receitas de gestão de recursos do BB, que vieram 7% maior trimestralmente em R$ 1,6 bilhão (já desconsiderado intercompany), uma vez que o banco diminuiu suas taxas e a performance do mercado não foi positiva no período, com os ativos sob gestão inclusive baixando R$ 75 bilhões no trimestre, para R$ 1 trilhão.

Se não fosse o coronavírus…

Conforme destaca o Bradesco BBI, depois de muitos investidores esperarem por resultados melhores nos últimos trimestres, o banco deveria finalmente atender às expectativas neste período.

Afinal, a rentabilidade do BB vinha melhorando até então como resultado da estratégia de atuar em segmentos com melhores margens. No entanto, o coronavírus acabou por adiar os planos.

Assim, aponta Victor Schabbel, analista do BBI, se não fosse pelo maior custo de risco observado no trimestre, os resultados provavelmente teriam surpreendido positivamente, com margens financeiras líquidas (NIMs, na sigla em inglês) resilientes e melhora da eficiência.

Outro ponto a se destacar é que, embora a inadimplência tenha aumentado apenas 10 pontos-base no trimestre, para 3,1%, o aumento de 7% na carteira de empréstimos escondeu um aumento de R$706 milhões no saldo de inadimplência.

O Bradesco BBI ainda apontou que, conforme publicado por seus pares do setor privado, a expectativa por maiores índices de inadimplência está crescendo à frente da deterioração esperada com a crise do Covid-19. “Isso pode ser uma indicação de que deve haver muito mais por vir e os bancos devem se preparar para uma deterioração relevante na qualidade dos ativos”. Assim, se no primeiro trimestre de 2020 o BB adicionou cerca de R$ 2,0 bilhões às provisões, o banco deve adicionar mais R$ 18 bilhões até o primeiro trimestre de 2021, afirma o analista. Consequentemente, as despesas de provisionamento devem permanecer altas.

Já em teleconferência para comentar os resultados, os executivos do banco destacaram que as lições aprendidas com crises anteriores fizeram o BB ficar mais preparado para cenários como o atual, o que o deixou em condições de prever um crescimento menor dos índices de inadimplência nos próximos meses.

“O BB tem uma posição relativamente privilegiada em relação aos demais bancos, considerando a origem de seus resultados”, disse Rubem Novaes, presidente-executivo da instituição.

A potencial vantagem reside na exposição relativamente baixa da carteira do banco a pequenas e médias empresas, público diretamente afetado pela crise atual; a forte fatia do consignado no crédito a pessoas físicas; e o fato de mais da metade do empréstimo do agronegócio ter mitigadores de risco, destacaram os executivos. O banco apontou que o índice pode subir, mas não deve ir muito além do pico de 4,11% atingido no meio de 2017.

Assim, a carteira de crédito mais defensiva é destacada como um ponto positivo dentro do setor. Neste cenário, e também apontando os múltiplos atrativos, a XP Investimentos coloca as ações do Banco do Brasil como top pick do setor, mantendo a recomendação de compra e um preço-alvo de R$ 43,00, com potencial de valorização de 59% frente o fechamento dos ativos de quarta-feira.

Na mesma linha, o Itaú BBA segue com a recomendação outperform, com preço-alvo de R$ 48 (potencial de valorização de 78%), destacando ver a ação negociada a níveis historicamente baixos. “É a ação mais barata entre a que cobrimos”, avalia o banco, apontando os resultados operacionais como sólidos, bons números de margens financeiras e redução de custos. O Morgan Stanley também segue com recomendação overweight para os ativos, com o mesmo preço-alvo.

Por outro lado, o Bradesco BBI, mesmo vendo os números como positivos e vendo a ação como descontada, mantém a recomendação neutra para a ação, esperando que mais provisões venham e pesem sobre os resultados. “Além disso, também somos cautelosos quanto ao risco de ter o Banco do Brasil desempenhando um papel mais anticíclico durante esta crise”, afirmam os analistas. O preço-alvo para o ativo BBAS3 é de R$ 35 (upside de 29%).

Assim, se de um lado, a carteira mais defensiva é um trunfo, o fato de ser uma empresa estatal acaba por pesar negativamente nesse ambiente de crise que leva a uma maior participação do estado na economia.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.