Abrindo a safra de resultados, Fibria tem um “Horizonte” lindo pela frente (literalmente)

Megainvestimento foi inaugurado antes do previsto a um orçamento menor que o esperado e com resultados acima da expectativa; consequência disso: ações sobem quase 40% em menos de um mês

Thiago Salomão

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TRÊS LAGOAS (Mato Grosso do Sul) – A cantoria rítmica e suave do pássaro preto – ave que se alimenta de pequenos animais que vivem em eucaliptos, por isso muito comum em regiões de produção de celulose – que invadiu a sala da coletiva de imprensa da Fibria, embora não tenha sido planejada, teve total sintonia com o momento atual da produtora de celulose. No evento de inauguração do seu mais novo projeto, a Horizonte 2, a companhia tem soado como música aos ouvidos dos seus acionistas.

A convite da Fibria, o InfoMoney esteve junto com uma comitiva de jornalistas no último dia 5 de outubro a Horizonte 2, nova fábrica inaugurada em Três Lagoas (Mato Grosso do Sul). O megaempreendimento foi anunciado em maio de 2015 e custou R$ 7,345 bilhões, mas aos olhos do mercado parece que cada real investido valeu muito a pena. A começar pelo investimento total, que ficou R$ 300 milhões abaixo do estimado dois anos atrás, e também pela entrega do projeto três semanas antes do previsto. Se a entrega foi antes do previsto e o “capex” menor que o estimado, a Fibria ainda conseguiu entregar dados iniciais de produção melhores que a estimativa.

Isso tudo, somado ao cenário de continuidade do crescimento da demanda de celulose no mundo, mantém um cenário bem favorável para os resultados futuros da empresa, aponta Aires Galhardo, diretor de operações da Fibria. A produção de Horizonte 2 deve atingir o teto de 1,95 milhão de toneladas por ano em 2020 – número 37% superior aos níveis atuais – e quando atingir esse pico o Ebitda (lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização) deve crescer em 50% e o fluxo de caixa livre em 85%, isso tudo mantendo o mesmo patamar de câmbio no período, explicou o diretor durante a coletiva.

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“Conseguimos estudar um momento de crise – o que barateou a mão-de-obra e outros custos do projeto – com um crescimento no mercado mundial de celulose, com a demanda superando a oferta”, resume Galhardo.

Sobre o mercado da principal matéria-prima da Fibria, a visão do diretor é ludicamente animadora: no lado da demanda, ele não enxerga nenhum sinal de “aperto”, enquanto na ponta da oferta não há nenhum novo projeto a ser inaugurado algum player do setor, o que deve manter a produção “flat” até 2020 (tempo que demoraria para colocar de pé um projeto que fosse anunciado agora). Como o consumo de celulose cresce em média entre 1,5 milhão e 2 milhões de toneladas por ano, a demanda deverá sobrepor a oferta até o fim da década; com mais demanda do que oferta, os preços tendem a subir – ou, pelo menos, não cair.

Todo esse céu de brigadeiro, no entanto, já tem sido precificado pelo mercado financeiro nas ações da Fibria. Uma semana antes da visita dos jornalistas, a Fibria recebeu um grupo de 100 gestores de recursos e analistas de investimentos, que fizeram o mesmo roteiro de reconhecimento da unidade produtiva. Após a visita, uma série de relatórios de recomendações otimistas invadiu as caixas de email dos investidores, o que reverteu em valorização para estes papéis. No dia 27 de setembro, as ações FIBR3 valiam R$ 38,90; no dia 16 de outubro, elas já estavam R$ 54, alta de 38% em menos de um mês e maior patamar da história do papel na Bovespa. Em 2017, a valorização já chega a 70%.

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“Prevemos um ‘yield’ do FCF [fluxo de caixa livre] da Fibria de 15% e 17% em 2018/19”, avaliam os analistas do Bradesco, esperando uma rápida desalavancagem nos próximos 18 meses. Já a Citi Corretora elogia a “impressionante automatização da plantação” – a Fibria instalou uma série de robôs que ajudam a aumentar a velocidade e a eficiência da produção de celulose -, o que pode fazer com que a desalavancagem supere as expectativas do mercado. “O capex industrial totalizou US$ 2,2 bilhões, 21% abaixo do orçamento”, exalta a corretora do Citi. Além de Citi e Bradesco, BTG Pactual e Itaú BBA atribuem recomendação de compra às ações da Fibria.

Os primeiros “bons sinais” da Fibria devem surgir nesta terça-feira (24), quando a empresa divulga os resultados do 3º trimestre antes da abertura do pregão. Como os preços da celulose de fibra curta aumentaram em 32% na China na comparação com o mesmo tri de 2016 (média de US$ 654,66), a receita da Fibria deve chegar a R$ 2,98 bilhões, com Ebitda de R$ 1,28 bilhão. “A trajetória de resultados positivos está só começando” diz Bradesco em relatório.

Também nesta terça-feira, a Fibria fará uma teleconferência o mercado ao meio dia.

Entrevista com CFO
Ainda na semana de visita ao Horizonte 2, o InfoMoney entrevistou o CFO (Chief Financial Officer) da Fibria, Guilherme Cavalcanti, para falar sobre o que pretende fazer neste momento pós-investimentos. As respostas foram enviadas em 6 de outubro – antes do período de silêncio da companhia. Confira:

InfoMoney: a Fibria planeja aproveitar a janela aberta pelo Tesouro com a emissão de global para fazer novas emissões externas?
Guilherme Cavalcanti:
Apesar do nosso bond que vence em 2017 estar sendo negociado acima de 106% do valor de face e com um yield de 4,65%, não pretendemos fazer novas emissões no mercado internacional, pois estamos com uma posição de caixa bastante robusta e bem acima da nossa política de caixa mínimo.

IM: O projeto Horizonte 2, da Fibria,  saiu antes do previsto, mais barato do que o esperado e já tem entregado resultados melhores que o esperado. O que vocês vão fazer com esse orçamento que restou?
GC:
Esse excedente está nessa posição robusta de caixa. Não vamos pagar dívida antecipada com esses recursos porque todas as dívidas estão com custo muito atrativo, pois foram captadas em bons momentos de mercado. No ano que vem vamos, com certeza, pagar 25% do lucro líquido deste ano, como manda a Lei das S/A. O pagamento de dividendo extraordinário vai depender da perspectiva de geração de caixa e nível de alavancagem para o ano que vem, de acordo com uma análise probabilística em cima do orçamento esperado para 2018, que ainda está em elaboração.

IM: Muitas empresas têm se movimentado por conta das eleições de 2018. Tendo em vista que a Fibria i) terminou um investimento bilionário esse ano; ii) está com o setor de atuação bem aquecido e que independe da economia doméstica e; iii) se beneficia em um cenário de dólar apreciado (o que pode acontecer dependendo do resultado da eleição), podemos concluir que a Fibria não está preocupada com o resultado das eleições em 2018?
GC:
De fato, nosso resultado não depende de demanda doméstica, pois exportamos quase tudo que produzimos. Mas é sempre melhor que tenhamos um ambiente político e econômico mais estável para continuarmos investindo no Brasil com tranquilidade.

Thiago Salomão

Idealizador e apresentador do canal Stock Pickers