A razão dualista de Dilma: corte de despesas e aumento de receitas

A opção da presidente por Joaquim Levy, o “mãos-de-tesoura” das despesas, ou por Nelson Barbosa, o “artesão do aumento de impostos”

Francisco Petros

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Dilma Rousseff já sabe que o PT nada tem a lhe oferecer. Trata-se de um partido atolado na corrupção mais comezinha da política nacional. Um partido proletário, nascido orgânico e que traiu profundamente os ideais reformistas que lhe deram origem. Agora a polícia investiga na antessala da presidente, nos gabinetes de Aloizio Mercadante e Edinho Silva, o ex-Merlin das finanças de campanha de Dilma Rousseff.

Dilma já sabe que o PMDB tem algo a lhe oferecer. Trata-se de um partido baseado no regionalismo oligárquico, alimentado igualmente pela corrupção da política brasileira e disposto a ser um pêndulo a favor de governos e oposições conforme a temperatura do momento. Nesta hora pode dar uns votos no Congresso Nacional para aprovar medidas à esquerda e à direita, dependendo da verba de emendas e os empregos que terá no governo. Há que considerar que o vice-presidente Michel Temer tem razões de sobra para mediar este apoio. Por interesse próprio, diga-se.

O dilema de Dilma, contudo, não está na escolha entre as propostas pseudosocialistas do PT ou o fisiologismo do PMDB. A presidente sabe que terá de ser pendular no discurso, mas que não lhe resta mais espaço para sê-lo na política econômica. Em matéria de condução da economia a presidente terá de compor sua estratégia em única direção: a estabilidade monetária, cambial e financeira. Se fugir do trilho, será punida, conforme o rito: o a inflação pode subir ainda mais (no campo monetário), o dólar seguirá a rota de alta (no campo cambial) e o Brasil perde o grau de investimento (dificultando estruturalmente as suas finanças). Enquanto a ocupante do Planalto se decide, trabalhadores perdem empregos e os capitalistas se acovardam ainda mais.

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Se o raciocínio acima estiver correto, a escolha política de Dilma Rousseff é simples, mesmo que os processos anteriores e posteriores à tal escolha sejam complexos: ou opta por Joaquim Levy, o “mãos-de-tesoura” das despesas, ou por Nelson Barbosa, o “artesão do aumento de impostos”. Alguém poderia alegar que este cenário é excessivamente “maniqueísta” e que a presidente pode escolher as duas alternativas: elevar receitas, via aumento de tributos, e, ao mesmo tempo, cortar despesas. Bem, sempre há essa possibilidade, mas aqui escrevo sobre a essência do processo, ou seja, se a política fiscal será exercida com mais cortes de despesas que aumento de tributos ou vice-versa.

A depender desta escolha a presidente terá de mandar para casa um dos dois ministros que protagonizam os dois lados da política dual, ora ensaiada. Por enquanto, Joaquim Levy está em queda livre em relação ao Planalto, mas a prometida punição à presidente já inundou o imaginário planaltino e, assim, Dilma Rousseff teve de recuar. De outro lado, Lula e seu partido pressionam pela saída do aumento de tributos e a arregimentação das hostes fisiológicas do Congresso por meio de melhores “negociadores”, tipo Jaques Wagner. Neste segundo cenário, Nelson Barbosa pontificará na política econômica.

Há mais um inconveniente para a presidente neste momento: o cenário externo turbulento e negativo que desaba sobre a economia do país. Os diversos segmentos do mercado financeiro internacional estão em rota negativa. A volatilidade se espalha dentre os investidores temerosos com o cenário chinês. A queda da atividade econômica naquele país é evidenciada pelos indicadores econômicos que são divulgados. O certo é que a produtividade exuberante das últimas três décadas da China não pode ser mantida no mesmo patamar. A queda de produtividade implica diretamente o PIB pelo lado negativo. Para o Brasil, que tem na China o seu principal parceiro comercial, os efeitos relativos da queda da atividade econômica chinesa são muito mais relevantes. Com efeito: a conta do ajuste dilmista será mais elevada. O bônus do passado é o ônus do presente.

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Por fim, há o “tempo político” da presidente da República. Este é escasso e quem segura a ampulheta, com sorriso de Gioconda, é o vice-presidente Michel Temer. Somente ele unirá o PMDB oligárquico e regionalista com a oposição famélica por poder. Temer não é propriamente o líder forjado em ideias ou ideais. Trata-se de personagem forjado pelo momento, como tantos na história política brasileira, tais como, Café Filho, João Goulart e Itamar Franco. Todos eles acostumados às operações políticas nas caladas das noites e que, por diferentes razões e com resultados diversos, chegaram ao Poder.

A fogueira do impeachment ou da pressão pela renúncia que recai sobre Dilma, parece refrescar a vida do atual vice-presidente. Ele sabe disso e, doravante, fará pouco para facilitar as escolhas presidenciais, especialmente no que se refere ao dualismo entre aumentos de receitas e corte de despesas.

Setembro é o mês da independência do Brasil. Para Dilma é o mês para decidir sobre o dualismo que ela construiu, mas que terá de destruir ao escolher um dos lados do ajuste econômico, ato político necessário para sanear as imensas bobagens que cometeu em seu primeiro mandato presidencial.