À procura do próximo Dubai? Atente menos ao mundo árabe e mais à Europa

Grécia é grande apontada por analistas como possível próximo alvo; Brasil e América Latina estariam "fora de perigo"

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SÃO PAULO – Em pleno auge da euforia dos investidores quanto a recuperação frente à crise econômica e financeira, um calote de nada menos que US$ 59 bilhões. Não é difícil entender por que a moratória do Dubai World impactou tanto os mercados na semana passada.

A notícia trouxe lembranças nada agradáveis dos dias de congelamento de fundos, quebra de bancos, prejuízos recordes e colapsos de instituições que tanto marcaram o ano passado. “Que Dubai seja um lembrete a todos nós de que a crise financeira ainda tem muitos efeitos retardatários a serem revelados”, afirmam os analistas da Pimco.

Mitigadas as tensões imediatas, sobram dúvidas entre os investidores. Qual a real dimensão do problema? Haverá maior repercussão sobre os mercados? A dívida conseguirá ser renegociada? Todas estas questões são importantes. Mas uma em especial é significativa: onde está o próximo Dubai?

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Não são poucos os especialistas que acreditam que o emirado não está sozinho em sua situação de deterioração financeira. E ao contrário do que muitos possam pensar em primeira instância, o perigo não está em seus vizinhos árabes, mas sim em outro continente.

O joio do trigo

“A reação imediata dos mercados é agregar todos os países da região, como se eles tivessem características semelhantes somente por sua proximidade geográfica”, diz a equipe da Pimco. A frase já traz implicitamente a visão de que tal atitude não poderia ser mais errada.

A Pimco não está sozinha em sua avaliação. Alexander Moseley, chefe da equipe de análise econômica da Alliance Bersntein, compartilha de opinião semelhante. “Os sólidos fundamentos dos outros seis emirados que compõem os Emirados Árabes Unidos os diferenciam e permitem com que estejam mais preparados a enfrentar a crise financeira na região”, diz.

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O mesmo vale para todo o restante do mundo árabe, e não somente para os outros emirados dos EAU. “Dubai tem mínimas reservas de petróleo; tímidos superávits fiscais enquanto seus vizinhos registram superávits de mais de 15% do PIB; e sua bolha imobiliária e extrema alavancagem eram particularmente excessivas”, afirma Moseley.

Grécia: o próximo alvo?

Se o “próximo Dubai” não está na Península Arábica nem no Oriente Médio, onde poderia estar? A resposta é quase unânime entre os analistas: “nos países da Europa Central e Oriental”, diz, por exemplo, a equipe da Roubini Global Economics.

Não é de hoje que a situação fiscal de países como a Romênia, Hungria e Ucrânia vem preocupando. Mas o grande foco de tensão na região está na Grécia. O país vem registrando, ano após ano, uma trajetória crescente em seu déficit orçamentário, culminando em 2009 em alarmantes 12% do PIB.

A deterioração fiscal grega não preocupa somente os analistas. Em outubro deste ano, a oposição venceu as eleições presidenciais do país fortemente baseada em uma plataforma de redução do rombo fiscal para 9% do PIB, o que seria bem-vindo, mas ainda assim insuficiente.

Cabe lembrar que o limite imposto pela União Europeia – obviamente ignorado – é de uma relação déficit/PIB de apenas 3%. “Outras economias maiores, como a Espanha e a Irlanda, embora mais desenvolvidas e diversificadas, também estão ameaçadas por suas preocupantes bolhas imobiliárias”, dizem analistas.

E o Brasil nisso tudo?

De qualquer forma, realmente parecem ter ficado para trás os dias em que, se um país emergente apresentasse qualquer dificuldade, todos os outros emergentes também se viam afetados. “O episódio traz duras lições, mas também mostra a evolução dos países asiáticos e latino-americanos, com melhores perfis em suas balanças de pagamentos”, afirmam os analistas do Barclays.

A equipe da Pimco, por sinal, cita o Brasil como um dos países com melhores fundamentos econômicos e cujo mercado, por isso, pouco seria afetado por uma eventual onda de novos calotes, seja nos Emirados Árabes Unidos ou na Grécia.

Ainda assim, é válido manter-se atento aos novos desdobramentos em Dubai – especialmente na posição a ser mantida por seu vizinho, Abu Dhabi, quanto a um possível resgate – e à evolução da saúde fiscal dos países da Europa Oriental. “Não acreditamos em um risco sistêmico global, mas a situação ainda levará tempo para ser completamente resolvida”, conclui a equipe da Pimco.