A paciência do povo brasileiro

Os políticos acabam se aproveitando da ausência de condições para o exercício da cidadania da (pequenina) classe média e (da imensa) massa pobre para arbitrarem relações promíscuas com os detentores do poder econômico que se acomodaram com o estado das coisas atual

Francisco Petros

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Ninguém pode acusar o povo brasileiro de ser pouco paciente. A cada mudança de política econômica os homens de Brasília, em seus paletós alinhados e taylor made, pedem paciência ao distinto público, das favelas aos edifícios envidraçadas da Paulista e da Faria Lima. Sinceramente…

Não é preciso estudar os Ensaios de Montaigne ou a Política de Aristóteles para obter a certeza que há tremendo descompasso entre o esforço dispendido pelas autoridades que deveriam cuidar da coisa pública e as pessoas que todo dia vão trabalhar em troca de um salário ou de um dividendo honesto de seu empreendimento.

O Brasil atingiu uma maturidade tributária que leva cerca de 2/3 do PIB para financiar o Estado antes de construir uma economia na qual caiba grande parte da população do país. Somos um país com excesso de tributos e, sobretudo, impostos diretos, taxas, contribuições, etc. que acabam por onerar muito mais os mais pobres e/ou produtivos em relação aos mais ricos e/ou improdutivos.  

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Estou convencido que a reforma tributária não tem futuro visível no Brasil porque teria de ser construída em bases mais justas pelas quais os mais ricos e poderosos pagariam mais e os mais pobres e/ou produtivos seriam libertados para forjar o crescimento do país e fazê-lo, de fato, capitalista.

Quem tem o poder de mudar esta realidade é quem se beneficia deste sistema absurdamente injusto. Basta verificarmos que quando se cogita tributar o sistema financeiro e/ou os mais ricos, os políticos da estirpe de Eduardo Cunha e Renan Calheiros ganham os holofotes da mídia e vocalizam afirmações pretensamente “liberais”. É de rir.

Além disso, há um perverso dado político em tudo isso: o voto apurado nas eleições vem de imensas parcelas mais pobres e menos educadas da população. A ignorância e o exercício débil da cidadania não respaldam mudanças efetivas na realidade brasileira. Quando respaldam o fazem tardiamente. “Tudo parece mudar, mas fica como está” – eis a corrupção da famosa frase de Maquiavel reproduzida no Il Gattopardo de Giuseppe Tomasi di Lampedusa que foi feito filme em 1963 por Luchino Visconti.

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Por esta lógica percebe-se que, mesmo numa observação que recaia exclusivamente sobre as elites brasileiras, não se encontra um equilíbrio razoável entre aqueles que querem um país mais produtivo e outros que arrancam renda fácil de um PIB menor e no qual não cabe grande parte do país – os alijados do processo econômico são a maioria de nosso povo, tem-se de reconhecer esta realidade.

Basta se verificar a qualidade das lideranças dos setores comercial e industrial do país. Não se vê da parte destes nenhum plano que eleve o desenvolvimento brasileiro para além da situação atual. O que produzem são resmungos na mídia e, quando vão à Capital Federal, querem evitar o pior e/ou tirar uma vantagem aqui e ali.

A situação é muito diferente dos anos 1930 em diante, até os anos 1980, quando o interesse pela industrialização e desenvolvimento do país encontrava sólido respaldo político das elites. Estas tinham evidente viés autoritário – tanto é que apoiaram ditaduras -, mas tinham caráter modernizante no que tange à economia brasileira.

Com efeito, se não se pode reclamar da paciência da parcela majoritária do povo pobre, se deve reclamar da falta de brilho e consistência da elite “improdutiva” brasileira na defesa de um país melhor. Os políticos acabam se aproveitando da ausência de condições para o exercício da cidadania da (pequenina) classe média e (da imensa) massa pobre para arbitrarem relações promíscuas com os detentores do poder econômico que se acomodaram com o estado das coisas atual.

A crise moral que vivemos no âmbito da coisa pública é consequência direta desta triste realidade. Ao povo não falta paciência.