A inflação vai criar um vácuo político. Será que o Bitcoin consegue preenchê-lo?

Os preços estão subindo em um momento de desconfiança geral no governo. Isso abre as portas para o Bitcoin, o principal hedge anti-inflação

CoinDesk

(Bermix Studio/Unsplash)

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*Por Michael J. Casey

O nome era A Grande Moderação.

Após Paul Volcker, ex-presidente do Federal Reserve, resolver a parte mais difícil da inflação americana nos anos 1980, os Estados Unidos e outros países ocidentais desfrutaram de décadas de tendência de preços favoráveis ao consumidor, com aumentos modestos e previsíveis de cerca de 2% ao ano.

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Essa contribuição foi essencial para um ciclo de feedbacks positivos: a confiança nas políticas monetárias independentes de bancos centrais cresceu e se fortaleceu e, como resultado disso, as economias e os mercados de ações dispararam.

Houve alguns contratempos no caminho — dois grandes exemplos são o colapso da bolha da Internet em 2000 e a Grande Crise Financeira de 2008 —, e a distância cada vez maior entre aqueles que têm e os que não têm fomentava a desilusão com o modelo político de geração de riquezas de Wall Street.

Todavia, o fato de a inflação, com toda a incerteza e estresse que traz nas tomadas de decisões da economia, ter se tornado uma memória distante significava que a expansão econômica estava de vento em popa.

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E agora? O que a experiência atual com o aumento dos preços significa para o panorama econômico global a longo prazo? E o que isso pode indicar para o Bitcoin (BTC)? Seus apoiadores colocam-no como um hedge de inflação, mas, nos últimos meses, não chegou a merecer esse status, com os picos e principalmente as baixas do mercado de ações.

Para pensar sobre esses questionamentos, deve-se considerar o impacto que a incerteza constante dos preços tem nas tomadas de decisões econômicas e também políticas.

A incerteza voltou

Com a inflação a 8,5% em março e o Fed estabelecendo o maior aumento de taxas em 22 anos para tentar diminuí-la, americanos de todas as classes econômicas — não só das mais baixas — estão lutando todos os dias com dilemas econômicos que não enfrentavam há décadas.

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Eu compro um carro novo agora, caso ele fique mais caro no futuro, ou devo me preocupar com a segurança no meu emprego, por conta de toda essa conversa sobre uma recessão iminente? Esse tipo de incerteza, que ocorre em toda a sociedade, tem um impacto profundo na economia como um todo.

Essa incerteza é uma experiência desagradável para qualquer um que não seja esperto (e sortudo) o suficiente para descobrir como ganhar dinheiro em um ambiente inflacionário. Inevitavelmente, isso traz consequências políticas. Lembre-se que o único mandato de Jimmy Carter foi afetado pela inflação em 1980. E considere as rotações constantes em governos cujas economias são atormentadas pela inflação, como a Argentina.

Muitos já acreditam que o presidente Joe Biden vai ter o mesmo destino de Jimmy Carter. Na última pesquisa da Gallup, sua aprovação era de apenas 41,3%.

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Biden ainda tem outra preocupação: a estagflação, uma combinação de inflação com desemprego que a quebra das cadeias de fornecedores, relacionada à pandemia, pode trazer. Mesmo se o Fed nos levar até uma recessão, ainda há o medo de que, mesmo diminuindo a demanda agregada, o ciclo inflacionário não seja quebrado, por causa do efeito de apreciação de preço dos custos impactados pela oferta.

A Amazon e a Apple já sinalizaram os problemas de abastecimento causados pelo último lockdown por conta da Covid na China. O potencial de estagflação é grande. E isso é o pesadelo de qualquer político.

Mudando a equação política

Além dos perigos relacionados à urna para os líderes encarregados, é possível que a política da inflação seja bem diferente daquela de 1980. Naquela época, havia uma maior confiança quanto à maneira como a sociedade era governada.

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Ao longo do tempo, coincidindo com a disrupção causada pela globalização e pela internet, a confiança no governo, nas corporações, na polícia, na imprensa e em outras instituições importantes tem decaído, como documentado pelo relatório anual  da Edelman, o Trust Barometer (algo como “barômetro da confiança”, em inglês).

O crescente aborrecimento traz outra camada de imprevisibilidade para as decisões econômicas e políticas das pessoas. Por exemplo, se Donald Trump se candidatar novamente pelo partido republicano em 2024, o que isso vai significar para os votos indecisos que, em 2020, votaram contra ele com nojo? Talvez eles virem o rosto e coloquem Trump de volta no poder, mesmo que não fiquem felizes com isso. Quanto aos democratas, bem… eles certamente vão ficar deprimidos. O nível de desconfiança no resultado político e no sistema vai aumentar, o que não foi o caso da vitória de Ronald Reagan contra Carter em 1980.

Ou seja, existe um sentimento crescente de que a política tradicional não vai ser a solução dos nossos problemas econômicos.

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O dinheiro é importante

De que forma essa desilusão política vai afetar como as pessoas pensam no dinheiro?

É bom reconhecer que, durante milênios, o dinheiro tem sido um projeto largamente político, com governos procurando controlar sua emissão e circulação. A era da moeda fiduciária dos últimos 50 anos foi o ápice desse esforço.

No entanto, ao longo da história, quando a confiança no sistema político caía para níveis mais baixos, as pessoas buscavam alternativas, sendo o ouro o principal exemplo.

Agora, o Bitcoin fornece uma alternativa, tendo propriedades valiosas que vão além de ser uma reserva de valor. Acima de tudo, o BTC é digital, ou seja, ele pode ser integrado à economia predominante da internet com capacidades programadas. E sua funcionalidade — tanto a escassez forçada quanto os mecanismos de transação e registro — é determinada por um processo de consenso essencialmente popular.

Ou seja, o Bitcoin é, na verdade, um sistema de governança alternativo para o nosso dinheiro. Não há garantias de que as pessoas vão escolhê-lo em massa, mas a era atual de incerteza econômica e governamental e a desconfiança que gera nas instituições oferece a elas um motivo para adotar a criptomoeda.

*Michael J. Casey é diretor de comunicações da CoinDesk.

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CoinDesk é a plataforma de conteúdos e informações sobre criptomoedas mais influente do mundo, e agora parceira exclusiva do InfoMoney no Brasil: twitter.com/CoinDeskBrasil