A inadiável independência de Renan Calheiros

Nas mãos do senador alagoano está parte do sucesso das políticas de ajuste fiscal do ministro Joaquim Levy.

Francisco Petros

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Renan Calheiros é mesmo um sobrevivente. Líder de Collor de Mello no Congresso Nacional, soube romper com o capo na hora certa e escapar dos efeitos do impeachment do primeiro civil eleito após o golpe de 1964. Posteriormente, pouco a pouco foi conquistando espaços na oligarquia alagoana e deu o “pulo do gato” para a senatoria, inviabilizando muitos candidatos que o subestimaram.

Montou o seu grupo de poder e, instalado no PMDB e associado ao já cristalizado José Sarney, conseguiu dominar boa parcela do partido e de senadores “associados” de outros partidos. Assim, assumiu a presidência do Congresso pela primeira vez.

No alto de seu pódio foi pego em cheio: pagava por meio de uma empreiteira a pensão de um filho que teve com uma bela jornalista da Rede Globo de Brasília, chamada Mônica Veloso – ela também lançou um livro sobre a relação com Calheiros denominado O Poder Que Seduz. Acabou tendo de renunciar, depois de sete ações de cassação, e, além disso, a história fez a festa das revistas masculinas o que incluiu a ex-amante em nudez pouco inocente.

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A renúncia evitou a cassação e com o voto de seus conterrâneos de Alagoas, um dos estados onde grassa o analfabetismo, retornou ao Senado Federal para continuar mandando na Casa. É sócio político de quem estiver no Poder. Muda rápido quando necessário à sua sobrevivência, como neste momento. É um verdadeiro rato de porão: difícil de saber onde está, mas sabe-se que é guloso.

Neste exato momento está sob os holofotes do STF em investigação relacionada à operação Lava Jato. Vale lembrar também que o senador percorreu os céus do Brasil com o avião da FAB, a Força Aérea Brasileira, para fazer tratamento de implante de madeixas em sua cabeça. Pego na “operação capilar” pela imprensa acabou tendo de retornar para a res publica a grana de seus voos pouco patrióticos.

Não se sabe ao certo o que pensa o senador Alagoano, mas isso não o impede de portar bandeiras aparentemente republicanas, tais quais, a independência do Banco Central e a proposição de cortes profundos no orçamento, incluso a redução do número de ministérios dos atuais 39 para no máximo 20.

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Isso não evita que negocie com o Erário, nas mãos do efetivo e genuíno Joaquim Levy, a redução do pagamento de juros da dívida de Estados e municípios. Afinal de contas, seu pimpolho é o atual governador das Alagoas e, como já aprendeu com papai, o governador sabe que para manter uma oligarquia é necessário a implementação de programas de obras para dali extrair o melhor em termos eleitorais e, eventualmente, pessoais. Nem tudo é a República, não é mesmo?

Pois bem: a presidente Dilma Rousseff terá de lidar com boa parcela do PMDB associada com Renan Calheiros. Em meio ao seu governo que parece sucumbir logo na sua alvorada, também tem de se relacionar politicamente com Eduardo Cunha que, aqui e ali, é comparado comFrancis Underwood, personagem central da série norte-americana House of Cards, caracterizado pela ausência de escrúpulos e pela parceria com sua charmosa esposa com quem tudo faz, exceto sexo.

Tanto de Cunha como de Calheiros, a sociedade brasileira terá de avaliar as bandeiras pró-modernização que hão de hastear pelos tempos vindouros. Enquanto corre o inquérito da Lava Jato, os instrumentos de negociações políticas de ambos com o governo e dentro do Congresso são as reformas que o Brasil não faz há tempos. Quem os observa é capaz de acreditar. Quem os conhece tem alguma dúvida fundada em certezas que são difíceis de escrever, pois requerem mais luzes antes de saírem das cavernas…