A Igreja, a proteção dos biomas brasileiros e a defesa da vida

Uma das maiores riquezas do Brasil está ameaçada – o meio-ambiente e a biodiversidade. Esta é a razão da Campanha da Fraternidade deste ano.

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Dom Sérgio Eduardo Castriani é arcebispo metropolitano de Manaus, desde 2012, paulista de Regente Feijó, 62 anos, e missionário da Congregação do Espírito Santo. 

Olhai os lírios do campo… Olhai os pássaros do céu… Estas duas frases do Evangelho foram proclamadas na abertura e nos acompanham no encerramento da Campanha da Fraternidade deste ano. O tema é: Biomas brasileiros e a defesa da vida. O local escolhido em Manaus foi o Parque do Mindu. Aqui e por todo o Brasil, esses parques sinalizam a diversidade biótica que estamos descuidando, ao deixar de entrar em contato com a natureza que resiste – até que ponto? – ao processo de urbanização.

A civilização predatória não a respeitou e a degradou derrubando as árvores, poluindo rios e igarapés, destruindo a casa comum de tantos seres vivos. Entre eles os mais visíveis e audíveis são os pássaros do céu que necessitam tanto da terra. Eles não semeiam, nem colhem, nem guardam em celeiros. Não precisam fazer isto porque são um com a natureza. Simplesmente vivem. Estão inseridos na ordem natural das criaturas. Portanto é o Pai celeste que os alimenta. 
A rigor, os alimentava, até que o poder destrutivo da intervenção humana entrou em ação. O desejo de acrescentar dias à própria vida, o esforço para acumular para lucrar com o excedente quebrou a ordem divina e natural colocando em perigo a sobrevivência de muitas espécies e condenando várias à extinção. Não só o canto dos pássaros deixou de ser ouvido, e suas plumagens admiradas, mas a biodiversidade escondida em cada centímetro da floresta em grande parte desapareceu. Nos igarapés que cortavam o espaço onde agora está a cidade, os peixes também desapareceram, e o que se vê é o lixo e os dejetos entupindo tudo. 

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Ainda há tempo, entretanto, de salvar este  bioma Brasil, especialmente a Amazônia. Ela ainda é imenso e pode ser preservada. E possível a criatura humana integrar-se na natureza, reconhecendo que esta a antecede. Durante milênios povos inteiros viveram em harmonias com a floresta. E as populações ribeirinhas são prova disso. Para tanto é necessário uma conversão. Acreditar que somos imagem e semelhança de Deus que cuida de nós e que aquilo que ele criou é bom. 

O Evangelho nos convida a olhar também para os lírios do campo em toda sua plenitude de significados. Eles não trabalham nem fiam. Seu crescimento é natural e eles simplesmente existem. Os seres humanos precisam se vestir e para fazê-lo montaram industrias e derrubaram florestas para produzir a matéria prima que alimentaria os teares. E com isto veio o lucro e algumas nações se tornaram poderosas. E este paradigma de progresso sujou os mares, cavou crateras, aqueceu a terra. Tudo se tornou fonte de lucro e objeto de compra e venda. Veio a miséria, a escravidão e a fome. E perdemos a fé no criador e na capacidade da criação em gerar e sustentar a vida.

A Campanha da Fraternidade nos convida a olhar nos biomas os dons de Deus que precisam ser respeitados e cuidados. Neles nós vivemos em busca de uma fraternidade que promova a vida e respeite as culturas. Antes de tudo devemos voltar a contemplar a beleza de cada bioma e de novo nos encantarmos com o canto dos pássaros, com a exuberância das flores, com a riqueza da biodiversidade. É necessário entender a relação da cidade em que vivemos com o bioma no qual ela se insere. O Brasil e o mundo precisam conhecer, amar e proteger a Amazônia pois dela dependem para rever os paradigmas deste civilização deletéria. Ou seja, para sobreviver.

Sonhamos ativamente com uma cidade integrada com a natureza e sustentável. E podemos antecipar esta utopia. Não percamos a esperança. Este reencontro com a Natureza é factível na medida a criatura descobre o amor de seu criador. Ele nos enviou  seu Filho ao mundo, sinal eloquente de  compromisso com a condição humana e com o mundo no qual vivemos. E Ele está no meio de nós.