A história da Black Monday, o maior tombo da história das bolsas

InfoMoney volta a 1987 para levantar as causas, contexto e lições deixadas pelo crash de 22,6% do Dow Jones

Equipe InfoMoney

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SÃO PAULO – Para quem enfrenta o dia-a-dia das bolsas, a InfoMoney conta a história das sessões mais importantes, aquelas que abalaram de alguma maneira a estrutura do mercado e sempre serão lembradas na lista dos pregões mais incríveis.

Para a matéria de estréia, vamos voltar a 19 de outubro de 1987 e lembrar da Black Monday, que muitos preferem esquecer. Conheça o contexto, causas e lições deixadas pelo maior tombo da história dos mercados até aqui.

A segunda-feira negra também é conhecido como o crash de 1987, pela magnitude das perdas. Os tombos começaram já na abertura das bolsas asiáticas e se espalharam pelo mundo. O grande destaque ficou para a variação do índice acionário norte-americano Dow Jones, que despencou 22,6% naquele dia. As origens deste crash ainda são debatidas, com diferentes teorias tentando justificar o surpreendente.

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O Contexto
A economia norte-americana passava por uma transição. Vinha de um período de forte recuperação, com crescimento rápido na passagem de 1986 para 1987, mas começava a dar sinais de crescimento mais moderado da atividade, o que acompanhava uma elevação das pressões inflacionárias. De janeiro a agosto de 1987, o índice Dow Jones acumulava expressiva valorização de 44%.

As bolsas conseguiam dar sequência a um impressionante bull market que se estendia desde 1982 nos Estados Unidos. O sentimento da época se voltava à tentativa de crescimento das empresas via uma onda de aquisições. Com crescimento associado a consolidação, as companhias faziam de tudo para abocanhar rivais, se alavancando e emitindo junk bonds – títulos de dívida de elevado risco – para captar recursos.

Em 25 de agosto daquele ano, o índice atingiu seu topo histórico até então, 2.722 pontos. Mas a chegada de outubro representou para o mercado a reviravolta que a economia experimentara. Até a sessão de 16 de outubro, o índice já havia perdido 17% de seu recorde, fechando a sexta-feira anterior à Black Monday com recorde de volume negociado, queda de 4,6% e 2.246 pontos.

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As causas
Na ocasião, o então secretário de Tesouro norte-americano James Baker tecera comentários a respeito do princípio da tendência de queda do preço das ações, o que fez muitos investidores reavaliarem suas posições no momento. O bull market que os mercados vinham apresentando acompanhava o boom dos computadores pessoais, que ganham força no mercado e colocam empresas do setor como as mais promissoras da bolsa na época.

A segunda-feira começava sob a pressão vendedora do final da semana anterior, que passou a questionar a alavancagem das empresas e credibilidade de seus títulos. Ainda observava os mercados asiáticos despencarem em sua abertura, com destaque para a bolsa de Hong Kong, que repercutia a notícia de que navios militares norte-americanos haviam bombardeado uma plataforma de petróleo iraquiana no Golfo Pérsico.

Program trading
Somente a iminência de um conflito entre os países já comprometia a pregão, que ainda contava com a pressão vendedora advinda da semana anterior. Até aí, tudo para uma sessão de perdas consideráveis, mas nada que pudesse justificar o movimento histórico que caracterizou a Black Monday.

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De fato, ainda não há consenso para apontar as razões de tamanha queda. As proporções que levaram o índice Dow Jones a despencar 22,6%, para alguns, são explicadas pela utilização do chamado “program trading”. 

Com a popularização dos computadores pessoais, os grandes investidores institucionais passaram a utilizar o program trading, uma ferramenta de execução rápida de operações que, ao se deparar com as fortes baixas, ia acionando seguidas vendas para limitar perdas; uma espécie de stop loss sequencial.

Falta consenso
Outros minimizam a culpa do program trading como causador principal das baixas no dia, argumentando que Hong Kong e Austrália, mercados que também desabaram, não possuíam a ferramenta de maneira tão desenvolvida. 

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Também circulam teorias de que o crash foi causado, em sua maior parte, por uma crise de confiança em relação ao dólar, após a quebra da bolsa de Hong Kong e a disparidade de política monetária entre as nações desenvolvidas. 

O crash de 1987 provou que, após 1929, os mercados ainda estavam expostos à possibilidade de uma quebra, de uma onda de pânico entre os investidores. Avaliando causas, contexto e conseqüência, a Black Monday evidencia o comportamento de manada do mercado, lembra dos perigos da exposição a ferramentas computadorizadas de negócio e deixa mais uma lição sobre os riscos da sobrevalorização dos ativos. Entre outras coisas, deixou de herança o desenvolvimento dos circuit breakers.

*Créditos do Gráfico à Business Week