A falta de apetite estrangeiro pelo pré-sal muda as projeções para o dólar?

Havia uma expectativa (que não aconteceu) de que petroleiras estrangeiras fossem trazer dólares para o Brasil para pagar os lances no certame

Anderson Figo

Dólar (Shutterstock)

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SÃO PAULO — A falta de apetite dos investidores estrangeiros pelo megaleilão do pré-sal pressionou a taxa de câmbio nesta semana. Anteontem, o dólar subiu mais de 2% e ontem, mais 0,3%.

Havia uma expectativa de que petroleiras estrangeiras fossem trazer dólares para o Brasil para convertê-los em reais a fim de pagar os lances no certame.

Como a participação dessas companhias no leilão foi baixíssima, o dinheiro não veio — e, consequentemente, a cotação do dólar subiu. Mas isso muda as projeções para o dólar?

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Por enquanto, não. Pelo menos essa é a opinião de especialistas ouvidos pelo InfoMoney, que seguem acreditando que a atual cotação do dólar ainda está acima do patamar considerado justo — entre R$ 3,50 e R$ 3,80.

Luiz Carlos Mendonça de Barros, ex-presidente do BNDES e ex-ministro das Comunicações, disse que o sumiço das estrangeiras foi uma surpresa negativa, e criticou o governo pela falha ao não prever isso, mas afirmou que outros fatores devem reduzir a pressão sobre o câmbio no médio prazo.

“Quando acontece um megaleilão como este, quem está comandando tem a responsabilidade de avaliar as condições efetivas de demanda antes de o certame ocorrer”, disse. “Eu não esperava tanta incompetência por parte do governo na administração desse leilão.”

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“Eu mesmo, durante meu período no BNDES, no governo do Fernando Henrique, comandei vários leilões importantes, como da Vale. Sempre havia a preocupação de passar ao mercado a real demanda dos pretendentes em relação ao preço estabelecido”, continuou.

“Agora, nós sabemos que houve desde o começo uma leitura errada da demanda pelo megaleilão do pré-sal. Por um lado, a Petrobras colocou uma exigência absurda para recuperar parte dos investimentos que ela já fez. E, por outro lado, quem cuidou disso no governo colocou um bônus de assinatura também fora da realidade do mercado.”

Mendonça de Barros acredita, contudo, que, do ponto de vista do câmbio, não faz diferença. “Não muda o cenário de expectativa de entrada de recursos de longo prazo no país. Houve a aprovação da PEC complementar da Previdência, que mostra que o governo e o Congresso estão realmente dispostos a seguir a agenda de reformas.”

“Quando o mercado cria uma situação de aposta, no dia seguinte, quem perdeu a aposta é obrigado a ajustar suas posições. Ou seja, nos próximos dias o câmbio deve ser pressionado pelo ajuste de posições de quem acreditou que entraria bastante recurso gringo no megaleilão”, analisou.

O ex-ministro acredita que o otimismo em relação à melhora da economia diante da agenda de concessões e privatizações vai continuar atraindo os olhares de investidores internacionais para o Brasil e, com isso, haverá uma retomada da normalidade no fluxo de entrada e saída de dólares do país.

Na semana passada, ele havia afirmado ao InfoMoney que “havia muito capital estrangeiro especulativo no Brasil quando os juros eram altos. Hoje, com a Selic em seu menor patamar histórico, os gringos estão desfazendo suas posições por aqui porque já não vale mais a pena o risco.”

As saídas de dólares superaram as entradas em US$ 8,494 bilhões em outubro, segundo o Banco Central. No ano, o saldo do fluxo cambial é negativo em US$ 21,904 bilhões até o dia 1º de novembro.

Luiz Fernando Figueiredo, ex-diretor do Banco Central e fundador da gestora de recursos Mauá Capital, concorda que a falta de apetite estrangeiro no megaleilão do pré-sal apenas adiou a entrada de recursos no país, mas, para ele, isso é algo que vai acontecer mais cedo ou mais tarde.

“O que se esperava não aconteceu. O dinheiro não entrou [no país] já. (…) De qualquer forma, existe uma situação estrutural do balanço de pagamentos que é muito superavitário, em US$ 60/US$ 70 bilhões, pelo menos, por ano”, disse.

“E temos tido um processo de desalavancagem. O estoque de dívida brasileira lá fora tem reduzido. A dívida externa das empresas brasileiras era de US$ 300 bilhões há dois anos e hoje está em US$ 240 bilhões”, continuou.

“Embora o pré-sal tenha decepcionado bem, no médio e longo prazo nós temos uma tendência bem razoável de apreciação do real, caso o dólar se mantenha lá fora na linha do que está hoje”, concluiu.

O ex-diretor do BC manteve a declaração que havia afirmado ao InfoMoney na semana passada sobre o futuro do dólar: “a nossa visão é de que o câmbio fique mais próximo de R$ 3,50 do que acima de R$ 4 nos próximos 12 meses.”

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Anderson Figo

Editor de Minhas Finanças do InfoMoney, cobre temas como consumo, tecnologia, negócios e investimentos.