A desigualdade que Piketty não examinou começa no útero nos EUA

Economista francês começou um debate internacional sobre a desigualdade argumentando que os ricos avançam colhendo recompensas díspares do capital financeiro

Bloomberg

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15 de julho – O economista francês Thomas Piketty começou um debate internacional sobre a desigualdade argumentando que os ricos avançam colhendo recompensas díspares do capital financeiro. Ele poderia estar ignorando a metade humana da história.

Na sua definição de capital, Piketty exclui o tipo que “consta do poder de trabalho de um indivíduo, suas habilidades, seu treinamento e suas capacidades” porque este não pode ser possuído nem trocado em um mercado, segundo seu livro, o best-seller “O Capital no Século XXI”.

A distribuição deste capital humano é uma área de foco crescente, pois alguns economistas observam que as brechas estão se ampliando desde o começo com base no que o dinheiro pode comprar. Crianças de famílias mais pobres poderiam não ter vantagens como o tempo compartilhado com seus pais e a educação no começo da infância, que está ligada a um melhor desenvolvimento do cérebro, a maiores médias em provas e, por sua vez, a maiores lucros, disse Sean Reardon, professor de Educação e Sociologia na Universidade de Stanford.

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“As crianças de baixa renda possuem menos acesso a muitas oportunidades de desenvolvimento das suas habilidades cognitivas”, disse Reardon em uma entrevista. “Muitas dessas diferenças no desenvolvimento cognitivo emergem nos primeiros anos de vida e depois ficam mais ou menos assim para sempre”.

A educação pré-escolar de alta qualidade e visitas domiciliares para instruir pais de filhos pequenos como ser professores efetivos podem adicionar mais de US$ 89.000 em lucros ganhos na vida de uma pessoa média, ao passo que custam US$ 11.600 por criança, segundo uma análise publicada neste mês pela Brookings Institution em Washington.

Distribuição igualitária
“Seria bom, mas muito difícil, tornar mais igualitária a distribuição da riqueza e do capital”, disse Robert Solow, vencedor do Premio Nobel de Economia em 1987 e professor emérito do MIT, em um painel organizado em abril pelo Instituto de Políticas Econômicas em Washington, onde Piketty participou. Contrariamente, espalhar a distribuição do capital humano é “algo muito valioso, e definitivamente vale a pena fazê-lo. Thomas, Deus o ajude, não fala muito sobre o capital humano. Ninguém poderia carregar o livro se ele tivesse falado”, disse Solow, referindo-se ao tomo de 700 páginas de Piketty.

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O capital humano é “crucial” para entender a desigualdade, escreveu Piketty em resposta por e-mail a questões. “Da próxima vez vou escreveu um livro ainda mais longo!”.

Os critérios para designar a educação pré-escolar como de alta qualidade incluem a inserção de padrões abrangentes de aprendizagem inicial, um tamanho máximo das turmas de 20 crianças e professores com pelo menos um bacharelado completo, segundo o Instituto Nacional de Pesquisa sobre Educação Inicial. As escolas também deveriam fornecer pelo menos uma refeição, exames e indicações de especialistas sobre vista, audição e saúde e serviços de apoio, como educação para pais e visitas domiciliares.

Não somente dinheiro
Não é somente o dinheiro que deixa algumas crianças um passo à frente. As vantagens custeadas pelos pais com mais tempo e outros recursos intangíveis para investir também ampliam a brecha desde o começo, já que seus filhos desenvolvem mais rapidamente as habilidades necessárias para terem sucesso quando entram na sala de aula.

Logo com dois anos de idade, as crianças de famílias de baixa renda estão seis meses atrasadas no desenvolvimento de habilidades de linguagem e vocabulário em comparação com crianças de famílias mais ricas, o que cria impedimentos para o posterior sucesso educacional e oportunidades profissionais daquelas, segundo uma pesquisa feita em 2013 por Anne Fernald, professora associada de Psicologia em Stanford, perto de Palo Alto, Califórnia.

“Suas primeiras experiências na vida têm uma influência maior do que aquelas experimentadas, digamos, na adolescência”, disse Isabel Sawhill, membro sênior da equipe de estudos econômicos da Brookings. “As experiências se acumulam umas sobre outras e interagem entre elas. Se alguém não aprendeu a ler ou não desenvolveu a língua com poucos anos de idade, não é impossível, mas sim difícil remediar isso quando essa pessoa for mais velha”.