5 surpresas positivas e 5 negativas que podem atingir o mercado global em 2020, segundo o Credit Suisse

Em longo relatório, analistas comparam atuais projeções com chances de surpresas nos mercados globais este ano

Rodrigo Tolotti

Publicidade

SÃO PAULO – O ano passado encerrou com um grande otimismo no mercado financeiro, com as bolsas batendo recordes nos Estados Unidos, mesmo que do lado econômico a visão ainda seja mais temerosa, com risco de recessão na maior economia do mundo, Brexit e guerra comercial.

E como tem feito nos últimos anos, o Credit Suisse analisou alguns de seus cenários bases para o mundo em 2020 para levantar dez possíveis surpresas que os mercados globais poderão ter nos próximos meses, sendo cinco positivas e cinco negativas.

Em um documento de 62 páginas, os analistas explicam de forma bastante técnica quais fatores podem levar estes cenários a surpreenderem as projeções. Confira abaixo um resumo das análises:

Masterclass

As Ações mais Promissoras da Bolsa

Baixe uma lista de 10 ações de Small Caps que, na opinião dos especialistas, possuem potencial de valorização para os próximos meses e anos, e assista a uma aula gratuita

E-mail inválido!

Ao informar os dados, você concorda com a nossa Política de Privacidade.

Surpresas positivas

1. S&P 500 subir 25% em 2020

Em seu cenário base, o Credit vê o índice da bolsa americana em 3.425 pontos, o que representa uma valorização de cerca de 6% sobre o nível que estava na virada do ano.

Entre os motivos apontados pelos analistas para esta arrancada nos preços das ações estão um prêmio de risco (retorno dos papéis em relação aos títulos do governo) muito alto, fluxos de ações mais cautelosos e condições monetárias frouxas.

2. Japão se torna a região de melhor performance

Os analistas acreditam que o Japão terá uma performance levemente acima da média global este ano, o que tornaria uma surpresa se o país se tornasse o de melhor desempenho.

Continua depois da publicidade

Porém, esta possibilidade existe já que atualmente o Japão negocia com um desconto de 35% contra os mercados globais. Além disso, o Credit aponta como motivos para esperar uma surpresa dessas o fato do país ser o mais alavancado para um recuperação da economia global e que os investidores estrangeiros ainda estão “underweight” (abaixo da média) com a nação asiática.

3. O euro se aprecia para US$ 1,25

Atualmente, os analistas projetam uma leve valorização no euro, chegando a US$ 1,15 no fim deste ano, mas acreditam ser possível uma alta mais forte da moeda europeia principalmente se o Produto Interno Bruto (PIB) da região vier mais forte.

Segundo eles, o crescimento da economia europeia pode ficar 50 pontos-base acima do atual consenso, de 1%, sustentado por uma política fiscal mais frouxa, aumento das exportações e recuperação da demanda doméstica.

“Se, como esperamos, os PMIs europeus subirem para 55 e os do EUA permanecerem aproximadamente fixos em 53, então o euro/dólar deverá subir para 1,25”, avaliam os analistas.

4. Petróleo termina o ano como um dos 3 setores de melhor desempenho

Enquanto a projeção atual é que o petróleo tenha um desempenho marginalmente acima de média, alguns fatores podem levar a commodity a ter uma performance muito mais forte nos próximos meses.

Os analistas apontam, entre outras coisas, que um crescimento forte da economia global podem puxar a demanda pleo combustível fóssil. Além disso, eles ressaltam o estresse no Oriente Médio, com as questões entre Estados Unidos e Irã podendo levar a uma arrancada dos preços.

5. Investimento público em infraestrutura verde aumenta

A expectativa hoje é que haja apenas pequenos aumentos nestes investimentos de tecnologias sustentáveis. Porém, os analistas acreditam que esta será a grande surpresa dos próximos anos. “É muito difícil identificar exatamente quando isso acontecerá”, afirmam.

Entre alguns catalisadores, o Credit destaca a mudança climática como pressão para estes novos desenvolvimentos, assim como o aumento do interesse político conforme novos eleitores se interessem mais por este tipo de proposta de campanha, e também possíveis mudanças fiscais para incentivar os investimentos.

Por fim, eles apontam ainda para o fato de que, com os rendimentos dos bonds zerados, “em teoria” o custo para “salvar o planeta” também é zero.

“Os gastos com infraestrutura relacionados ao verde podem ser uma política popular e de baixo custo para os políticos, à medida que impulsionam o crescimento e apaziguam o movimento verde no momento em que os custos dos empréstimos são zero”, afirmam.

Surpresas negativas

1. Crescimento do PIB da China recua para menos de 4%

Apesar de ainda esperar um forte crescimento de 5,9% do PIB chinês, os analistas alertam para um grande risco de isso mudar nos próximos meses.

A equipe do Credit Suisse aponta para uma bolha tripla em crédito, imóveis e investimentos e diz que no Japão, EUA, Irlanda e Espanha, as recessões ocorreram dentro de um ano após a queda dos preços das casas.

Hoje, o segmento de habitação responde por metade da riqueza das famílias na China, 9,5% do PIB local, sendo quase um quarto da receita do governo local e um quarto dos ativos dos bancos, explicam os analistas.

2. Rendimento dos títulos americanos chega a 3%

A projeção atual do Credit é que os títulos do Tesouro dos EUA de 10 anos subam para 2,4% em 2020, mas eles lembram que no ano passado a expectativa era de alta, enquanto os rendimentos caíram.

Segundo eles, o mercado de ações pode viver com um yield de 2,5% dos bonds, mas uma alta para 3% pode prejudicar o setor de habitação, além de aumentar o custo de juros para as empresas e pesar no prêmio de risco para as ações.

3. Crédito se torna a pior classe de ativos em desempenho

O Credit destaca que o atual nível de alavancagem nos EUA geralmente está associado a um nível muito maior nos spreads (diferença entre o custo de captação e o de empréstimo).

Isto ocorre no cenário atual em um momento em que a qualidade do grau de investimento está anormalmente baixa, com 51% das notas estando apenas um nível acima do “junk” (lixo).

Segundo os analistas, a Moody’s recentemente alertou para os altos yields, sugerindo que os spreads deveriam estar entre 420 e 480 pontos-base, contra atuais 350 pontos, segundo o modelo da agência de rating.

“Isso é ruim para todas as classes de ativos e provavelmente levaria a um bear market”, concluem

4. Setor de tecnologia tem desempenho abaixo da média

A projeção é que o setor de tecnologia, que tem sido o de melhor performance todos os anos desde 2010, siga com um desempenho acima da média.

Por outro lado, os analistas destacam que as empresas de tecnologia no mundo estão sobrecompradas e que o lado vendedor está muito positivo com o setor de semicondutores. Além disso, eles ressaltam que, estatisticamente, os três setores com melhor desempenho nos EUA e na Europa tendem a ter um desempenho inferior à média no ano seguinte.

Pesa ainda o fato de que as pressões regulatórias estão aumentando, o que pode prejudicar as companhias do setor.

5. Crise financeira italiana

A Itália já está com dificuldades faz tempo, e apesar da projeção ser de que as ações locais tenham um desempenho abaixo da média, o Credit não vê uma crise financeira por conta das taxas de juros baixas e da recuperação da economia europeia.

Apesar disso, o pior não foi descartado. O crescimento per capita da Itália é o mais fraco da Europa, está perdendo participação no mercado de exportação, possui um dos níveis mais baixos de ensino médio na região e tem dados demográficos muito desafiadores.

Uma crise política ou um rebaixamento de rating da dívida italiana poderia desencadear uma crise financeira, o que poderia gerar spreads muito mais altos em títulos do governo italiano contra a dívida alemã, provocando uma recessão na Itália e derrubando as ações de toda a Europa.

Quer investir melhor o seu dinheiro? Clique aqui e abra a sua conta na XP Investimentos

Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.