3R Petroleum (RRRP3): as dúvidas do mercado que fizeram a ação desabar mais de 15% após o anúncio do aumento de capital

Potencial de diluição dos acionistas e tamanho do desconto nas ações no âmbito da oferta é visto como negativo

Felipe Moreira

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A 3R Petroleum (RRRP3) anunciou um aumento de capital de R$ 600 milhões até R$ 899,999 milhões, que foi considerado surpreendente e levou a muitas questões para o mercado. Analistas apontaram, antes mesmo da abertura do mercado, uma reação negativa, que se efetivou.

As ações RRRP3 desabaram 15,70%, a R$ 27,71, nesta segunda-feira (17), de longe a maior baixa do Ibovespa na sessão desta segunda-feira (17).

Na opinião do Goldman Sachs, a petrolífera já havia garantido financiamento para os custos de aquisição deste ano (principalmente em relação ao ativo Potiguar, que se espera levar a um pagamento de cerca de US$ 1,38 bilhão quando concluído). Dessa forma, analistas do banco americano apontaram uma reação negativa do mercado devido ao potencial de diluição e ao tamanho do desconto nas ações no âmbito da oferta.

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O preço de emissão das novas ações será de R$ 24,45 por papel. O preço por ação foi baseado no preço médio ponderado por volume (VWAP) do 3R Petroleum nos últimos 30 pregões anteriores a 11 de abril, com um desconto de 20%, traduzindo em um desconto de 26% em relação ao preço de fechamento da última sexta-feira.

Na mesma linha que o Goldman Sachs, o Itaú BBA disse que o anúncio foi uma surpresa: “não antecipamos que a 3R teria necessidades de capital adicionais no curto prazo, considerando que a empresa já havia concluído a captação de recursos para pagar o fechamento da aquisição Potiguar”.

Segundo relatório do BBA, esses fundos, combinados com o crescimento prospectivo da produção deste ano e os altos preços do petróleo, devem fornecer todo o dinheiro que a empresa precisa no curto prazo, levando-a a terminar o ano em um nível confortável de dívida líquida / Ebitda (mesmo após o pagamento pela Potiguar).

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A 3R Petroleum não mencionou os fatores específicos por trás dessa decisão e quais serão os usos exatos dos recursos do aumento de capital. Nesse sentindo, analistas BBA comentam que não está claro para a maioria do mercado se a empresa realmente precisa levantar capital, considerando a curva de produção divulgada e a alocação planejada de capital. “Isso pode levantar preocupações entre os investidores, dada a combinação de um preço de emissão significativamente descontado e pouca visibilidade sobre o que pode ter provocado a decisão”, explicam analistas.

O Morgan Stanley também pontua que o anúncio de capital foi uma surpresa, pois em seu modelo a 3R não precisa de mais capital. “Embora mais caixa contribua com a estrutura de capital e o financiamento do capex, a diluição implícita de 11% em nosso valor justo e a diluição de cerca de 15% no lucro por ação (EPS, na sigla em inglês) provavelmente pesarão sobre as ações”.

Depois de conversa com administração da empresa, a equipe de research do Morgan comenta que a 3R Petroleum quer ser conservadora e ter níveis de endividamento baixíssimos após a aquisição da Potiguar, mesmo que seja um efeito temporário.

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“A empresa vinha estudando opções de entrada de capital nos últimos quatro meses, incluindo opções de dívida e ações. Dado o cenário desfavorável para emissão de dívida, a administração viu a emissão de direitos com desconto como a mais adequada, e acredita que terá amplo apoio de seus acionistas”, completa.

Na mesma linha, o Bradesco BBI apontou que o momento do anúncio é questionável, pois, com base em suas estimativas, a empresa não precisaria levantar capital. Mesmo com a aquisição da Potiguar, a 3R encerraria 2023 com dívida líquida/Ebitda em 1,1 vez, segundo as estimativas da casa.

“Com base em nossos cálculos, mesmo que a empresa usasse todos os recursos para pagar dívidas de 10% ao ano em dólares, a diluição do lucro por ação variaria de 9% a 12%”, aponta.

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Eles também destacaram não esperar que a 3R levantasse mais capital antes de executar seu plano de desenvolvimento. Levantar capital antes dessa execução tem sido bastante caro.

Abaixo, os analistas destacaram diversas questões do mercado que levantam o risco da tese de investimento no curto prazo:

1) Qual é o nível ótimo de caixa da empresa e quais são os covenants? Por que a preocupação repentina com os covenants? Em que nível de preço do petróleo eles poderiam ser alcançados? [Covenants são cláusulas de garantia em contratos de financiamento ou empréstimos que servem para proteger os interesses dos credores]

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2) A empresa não poderia esperar o fechamento da Potiguar?

3) A Gerdau GGBR4 subscreverá integralmente sua parcela de capital?

4) Qual a composição da aplicação dos recursos em amortização de dívidas e capex [investimentos em capital]?

5) O mercado deve continuar trabalhando com a curva de capex do relatório de certificação? Há algum capex em potencial que o mercado deva estar ciente?

6) Alguma operação de M&A [fusão e aquisição] no horizonte?

O analista Ricardo Schweitzer destaca a surpresa com o anúncio, também apontando uma falta de transparência da empresa com o mercado.

“Nos tempos recentes, a tese de 3R esteve (e está?) sob forte escrutínio em função da insegurança produzida pela nova gestão da Petrobras em relação à conclusão ou não da transação envolvendo o Polo Potiguar. Tal incerteza se traduz em um mau desempenho de preço. Mau desempenho, este, tolerado por acionistas pacientes, mas não insensíveis ao fato”, avalia Schweitzer.

A despeito disso, pontua, a companhia optou por precificar o aumento de capital tomando a média de preço dos últimos trinta dias e aplicando um desconto de 20%. Esse desconto é totalmente discricionário, afirma o analista, uma vez que a própria 3R apontou que não houve laudo de avaliação que o embasasse. “Em outras palavras, a precificação se deu a partir de uma média extraída de um intervalo temporal desfavorável, ao qual ainda foi imposto um pênalti alto e arbitrário”, afirma.

Após conferência da empresa com o mercado, Schweitzer aponta a alegação da empresa que temia que a operação não ocorresse caso as condições não fossem suficientemente atrativas. “O fato de enxergarem tamanha necessidade de jogar a si mesmos no corner só serve para reforçar, dentre outros fatores, i) que a oferta é inoportuna em sua forma e ii) que o trabalho junto a investidores no sentido de construir confiança na tese – que vem da combinação de um bom histórico de entregas com uma comunicação efetiva – deixa bastante a desejar”, afirma.

O Itaú BBA apontou, após a conferência com o mercado, que não houve mudanças significativas em suas perspectivas de produção para o ano ou surpresas negativas em instalações Potiguar que podem ter alterado significativamente a perspectivas de geração de caixa da empresa para este ano.

“Com base no desconto médio em transações similares, o desconto de 20% pretende garantir a atratividade da assinatura para todos acionistas. Além disso, a empresa comentou que ainda não há um pedido firme de seus acionistas atuais, mas que está confiante na participação dos maiores acionistas bem como os acionistas minoritários”, avalia.

Muitos questionamentos seguem no radar sobre a petroleira, o que torna a notícia sobre o aumento de capital repentino e sem grandes explicações um ponto para a deterioração na confiança do mercado com relação à 3R.