110 mil, 135 mil e 150 mil pontos: XP traça três cenários para Ibovespa até fim de 2021 e vê ambiente bom para stock picking

Em relatório, os estrategistas também apontam importância de ter exposição internacional em meio aos mares turbulentos da Bolsa brasileira

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Em relatório publicado nesta segunda-feira (13) chamado “Navegando águas incertas: onde investir em tempos voláteis”, a XP traça um panorama sobre o investimento no mercado brasileiro e também nas bolsas internacionais em um cenário de bastante volatilidade.

A equipe de análise da XP destaca que, falando especificamente de Brasil, após um 2020 imprevisível em meio ao avanço da Covid-19, a virada de página para 2021 trouxe certo alívio no que diz respeito à pandemia, principalmente no segundo semestre, com o avanço da vacinação.

“Mas o cenário segue particularmente incerto em outros aspectos”, avalia, destacando que, enquanto os mercados mundiais se recuperam, alguns deles praticamente em linha reta, com pouca volatilidade, como é o caso dos Estados Unidos, a Bolsa brasileira amarga queda de 3,8% até agora no ano em reais e 5,4% em dólares, mesmo diante de um cenário micro favorável às empresas.

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Um clima de tensão entre os poderes toma conta do noticiário, com o desentendimento entre Executivo, Judiciário e Legislativo também dificultando a resolução de questões econômicas (como o imbróglio dos precatórios e o avanço de reformas e privatizações no Congresso) e agrava o risco fiscal, que já era alto. Nesse ambiente, apontam os analistas, o momento é de cautela. Contudo, o investidor não deve tomar decisões precipitadas.

Especificamente sobre Bolsa, Fernando Ferreira, estrategista chefe e head de Research, e Jennie Li, estrategista de ações, destacam manutenção de uma visão construtiva, ainda que tenham recentemente revisado para baixo o cenário-base para o Ibovespa, passando a projeção para o final do ano de 145 mil pontos para 135 mil pontos. Cabe ressaltar que esse target ainda representa um potencial de valorização de cerca de 18% em relação ao fechamento de sexta-feira (10).

Ferreira e Jennie destacam que o Brasil vive um clássico debate entre uma sólida história micro, na qual as empresas estão reportando lucros sólidos, contra um cenário macro preocupante.

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Nesse ambiente, eles traçam três cenários para o benchmark da Bolsa. O base, como o já citado, é com o Ibovespa terminando o ano em 135 mil pontos. Em um cenário pessimista, ele pode chegar a 110 mil pontos, ou queda de 3,75% em relação ao patamar do dia 10 e, em um otimista, em 150 mil pontos, ou uma alta de 31,25%.

Os estrategistas apontam que, ao longo dos últimos três meses, a Bolsa brasileira tem se descolado dos mercados globais.  Enquanto os índices americanos sobem quase 20% em dólares, o Ibovespa voltou a negociar em território negativo, primordialmente, por conta de riscos domésticos, com o movimento de queda da Bolsa se acelerando após as manifestações durante o feriado de 7 de setembro, quando o presidente Bolsonaro elevou a tensão entre os poderes constitucionais.

A Bolsa teve recuperação parcial desde a nota publicada pelo Presidente Bolsonaro no dia 9 de setembro em que acenou aos outros poderes, mas o aumento das incertezas tem pressionado a curva de juros, principalmente as taxas de longo prazo, o que afeta o preço da Bolsa diretamente. Isso porque aumenta o custo de capital das empresas, o que compete com os fluxos de capital para renda fixa e eleva o custo da dívida para as empresas, impactando as perspectivas de lucro por ação.

De qualquer forma, os estrategistas lembram que a temporada de resultados do segundo trimestre de 2021 surpreendeu expectativas.

Durante o período, o lucro por ação das empresas do Ibovespa mais que dobrou em relação ao primeiro trimestre deste ano e cresceu mais de 9 vezes em relação ao mesmo período no ano passado. “Embora isso tenha sido amplamente explicado pela base de comparação fraca devido à pandemia no ano passado, os analistas continuaram a revisar os ganhos para cima.  E desde o início deste ano, os lucros do LPA foram revisados para cima em mais de 50%, indicando que as perspectivas têm melhorado cada vez mais”, avaliando Ferreira e Jennie.

Ao avaliarem o que esperar para a renda variável a partir de agora, os estrategistas atualizaram os cálculos para o Ibovespa, levando em consideração o aumento do custo de capital (taxas de juros de longo prazo) e o rápido aumento dos resultados.

“Dados os riscos fiscais e políticos, também reduzimos as metas de múltiplos P/L [preço sobre o lucro] e EV/Ebitda [relação entre o valor da empresa e o lucro antes juros, impostos, depreciações e amortizações] de 12 vezes para 9,5 vezes, e de 7 vezes para 6 vezes, respectivamente”, apontam, avaliando que o mercado levará mais tempo para “voltar às médias históricas”.

Além dos riscos no radar, há uma discussão sobre a sustentabilidade dos altos preços das commodities, que têm impulsionado parte significativa das revisões de resultados nos últimos tempos.

Porém, apontam que, com a maior volatilidade nos mercados e mudança rápida das variáveis, faz sentido analisar diferentes cenários pra entender como poderia ser a trajetória da Bolsa.

Assim, como destacado nos quadros abaixo, usaram as seguintes premissas para traçarem os cenários de projeções pessimista, base e otimista para o Ibovespa:

“A conclusão dessa análise de cenários corrobora com nosso otimismo para a Bolsa, pois ela indica uma pequena queda potencial frente a um ganho expressivo potencial no cenário conservador, 110 mil no conservador 135 mil pontos no base e 152 mil no cenário otimista”.

Stock picking favorecido

Para os estrategistas o ambiente favorece o “stock picking” (técnica que consiste em adquirir papéis de empresas que têm maior possibilidade de superar a média esperada para o mercado de ações em geral) e apontam que gostam de empresas exportadoras com mais exposição ao mercado internacional ao invés de companhias expostas ao cenário macroeconômico doméstico.

“Gostamos também de ações de empresas com teses seculares de crescimento, isto é, que são ganhadoras independentemente do cenário macro no Brasil. Estas são empresas que tendem a ser as líderes de mercado e conseguem ser mais resilientes em ambientes mais desafiadores”, avaliam.

Eles destacam duas listas de ações: uma com 20 ações entre as que mais caíram nos últimos três meses, e que são recomendadas como “ pelos analistas do consenso de mercado, e a segunda com 20 ações com crescimento robusto pela frente e que têm sólidos balanços. Confira a lista abaixo:

“Daqui para frente, as tensões políticas devem continuar a pressionar os ativos brasileiros no curto prazo. Apesar desse cenário de maior cautela, manter se investido continua sendo a melhor estratégia”, apontam.

Importância de investir em outros países

Os estrategistas também reforçam  importância de investir globalmente, sendo a diversificação internacional é premissa de uma carteira equilibrada.

“O Brasil é o 5 º maior território do planeta, mas representa menos do que 1% do mercado acionário global”, apontam, ressaltando ainda que diversas teses estruturais de longo prazo são inacessíveis via empresas locais. Assim, o investidor concentrado em ativos locais está de fora de 99% das oportunidades oferecidas por empresas globais.

“Para se ter uma ideia, a Apple possui uma capitalização de mercado de US$ 2,5 trilhões, ou seja, é 2,5 vezes maior que a soma de todas as empresas brasileiras listadas em bolsa (cerca de US$ 1 trilhão)”, complementam.

Além disso, ativos globais expõem o investidor em moeda forte, estabilidade macro e menor volatilidade.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.