Os 8 motivos pelos quais XP e Itaú BBA seguem confiantes em JBS após a alta de 150%

Combinação de bons resultados, impactos da peste suína africana, recuperação econômica do Brasil e abertura do mercado chinês devem beneficiar o frigorífico

Ricardo Bomfim

(Bloomberg)

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SÃO PAULO – A ação da JBS (JBSS3) já mais do que dobrou de valor em 2019. Nestes oito meses, o papel acumula alta de 150% e, na avaliação da analista Betina Roxo, da XP Investimentos, não dá sinais de esgotamento. 

Betina escreveu em relatório que a JBS segue como nome preferido da XP no setor de alimentos, graças à entrega de fortes resultados e à incorporação do impacto da peste suína africana (que pode reduzir o rebanho de suínos da China em até 50%, segundo estudo do Rabobank). 

A recomendação de compra para as ações da companhia vem acompanhada de uma revisão no preço-alvo de R$ 27,00 para R$ 37,00 por cada papel. A ação ordinária da JBS fechou cotada a R$ 28,64 no pregão passado, de modo que o atingimento do objetivo da XP corresponderia a uma alta de 29% sobre o patamar atual. 

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Os analistas Antonio Barreto, Gustavo Troyano e Renan Moura, do Itaú BBA, também estão confiantes com o case do ativo e estabelecem recomendação outperform (desempenho acima da média do mercado) para JBS, com preço-alvo em R$ 35,00 (potencial de valorização de 21%). 

No research do banco, os motivos colocados são parecidos com os da XP: fortes resultados operacionais, tendência de desalavancagem (os juros pagos pelos títulos da JBS caíram de 7% ao ano em agosto do ano passado para 5,5% em julho deste ano) e ganhos de capital de giro.  

Estes são os oito motivos para as projeções otimistas para o frigorífico. Confira cada um: 

Peste suína

Para Betina, o potencial impacto da doença que dizima plantéis na China não está totalmente refletido no preço das ações. “Um aumento nos volumes e preços das exportações brasileiras para a China já está sendo visto, contudo, as empresas acreditam que o impacto nos resultados ainda foi tímido”, explica. 

A analista lembra que se as projeções dos analistas se concretizarem e os estoques de suínos chineses durar somente até setembro, há espaço para um aumento da demanda que pode ficar entre 30% e 50% em 2019. 

Vale ressaltar que depois da China, Vietnã, Laos, Camboja e Coreia do Norte já registraram casos da doença. 

Recuperação econômica do Brasil

O Relatório Focus do Banco Central mostra que os economistas preveem um crescimento de 0,84% no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em 2019 e de 2,1% em 2020. O melhor ambiente econômico no cenário doméstico poderia sustentar preços mais altos e melhorar o portfolio dos frigoríficos. 

Novas plantas habilitadas para a China

Foi adiada a visita da ministra da Agricultura do Brasil, Tereza Cristina, para a China em agosto, de modo que o encontro deve ficar para o mês que vem. Quando ocorrer e se souber o resultado da primeira rodada de inspeções às plantas de frangos e suínos daqui, a JBS poderia aumentar entre 15% e 20% seu volume de exportação de aves para a maior economia da Ásia segundo projeção da XP. 

Já os analistas do Itaú entendem que assim que os estoques de proteína da China se esgotarem, o país deve habilitar mais 30 matadouros brasileiros, abrindo espaço para uma expansão da margem pelos frigoríficos daqui em um futuro próximo. 

Incêndio na fábrica da Tyson

O incêndio que destruiu parte da fábrica de carne bovina da Tyson Foods no sudoeste do Kansas, nos Estados Unidos, afetou a produção da empresa, concorrente da JBS.  

“A Tyson afirmou que a produção da unidade está sendo transferida para plantas alternativas, mas vemos o evento como outro fator positivo para os frigoríficos brasileiros no curto prazo, especialmente para a JBS e Marfrig (MRFG3) que possuem operações relevantes no país”, aponta a XP. 

Carne vegetal

A JBS e a Marfrig estão investindo na produção de carne à base de vegetais, para o público vegetariano. As margens das vendas para este segmento são bastante elevadas, o que, na visão de Betina, ajuda o investidor a esperar bons frutos desse front. 

Listagem nos EUA

A JBS deve abrir capital nas bolsas norte-americanas em breve, o que poderia destravar valor, visto que a empresa negocia a múltiplos de 5,5 vezes preço da ação dividido pelo Ebitda – lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações, na sigla em inglês – contra 6,5 vezes da Pilgrim’s Pride e 7,5 vezes da Tyson. 

Desinvestimento do BNDES

O governo tem sinalizado que pretende enxugar a carteira de R$ 111 bilhões em ações que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) possui. O banco é dono de 21,3% de todo o capital do frigorífico da família Batista, o equivalente a 90-100 dias de negociação. 

“De fato, a venda por parte do BNDES poderia pesar na performance das ações, mas tendo em vista o tamanho das participações, esperamos que o processo de venda possa ser realizado de forma organizada e gradual, a fim de evitar um impacto negativo no preço dos ativos”, explica Betina. 

O Itaú avalia que o melhor cenário possível para o IPO nos EUA se daria por oferta secundária do BNDES e que a oferta é necessária para reduzir o custo das emissões de dívida da empresa. 

Gestão de passivos

A JBS deve avançar na gestão da sua dívida por conta dos cortes contínuos na taxa de juros básica do Brasil, a Selic, e também porque 30% do endividamento da empresa está no País, contra 20% da geração de fluxo de caixa livre. 

“Vale destacar que com todos os esforços de gerenciamento de passivos, a JBS acredita que a empresa está em uma posição muito confortável para analisar potenciais oportunidades de crescimento orgânico, via ativos que tenham sinergia, sem deixar de lado a disciplina financeira, o que seria muito positivo”, defende a analista da XP. 

Ricardo Bomfim

Repórter do InfoMoney, faz a cobertura do mercado de ações nacional e internacional, economia e investimentos.