Por que a ação que mais se animou com Bolsonaro caiu 25% no dia seguinte à eleição?

Empresa reporta prejuízo há cinco anos, clientes reportam falhas em produtos e presidente eleito pretende aumentar sua concorrência

Weruska Goeking

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SÃO PAULO – A fabricante de armas Forjas Taurus viu a sua ação ordinária (FJTA3) despencar até 32% e o seu ativo preferencial (FJTA4) derreter até 42% no dia seguinte à eleição de Jair Bolsonaro à Presidência da República.

Os papéis amenizaram as baixas, mas ainda fecharam com queda de 24,73% para os ativos ON e de 25,91% para as ações PN.  Antes, os papéis registraram ganhos de quase 1.000% desde setembro e os negócios, anteriormente com liquidez baixíssima, passaram a frequentar o ranking dos maiores volumes na Bolsa. 

Sem nenhuma notícia nova ou mudança nos fundamentos da empresa, a corrida eleitoral deu novo fôlego para uma ação antes esquecida e desacreditada pelo mercado simplesmente pelo fato de Bolsonaro ser amplamente favorável ao uso de armas de fogo. 

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O movimento, no entanto, é puramente especulativo e acabou gerando um efeito manada entre os investidores pouco informados. Isto porque Bolsonaro já disse que pretendia “quebrar o monopólio da Taurus” no mercado brasileiro de armas e munições.

A empresa é uma das duas fabricantes de pistolas no Brasil e fornecedora de armas para as políticas e as Forças Armadas. Ou seja, com a eleição de Bolsonaro, a empresa pode perder espaço no mercado, ainda que haja liberação do posse de armas. 

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Além disso, os fundamentos da empresa não corroboram a alta. A companhia tem elevado nível de endividamento no curto prazo e possui baixa reserva financeira.

Os balanços trazem prejuízos há cinco anos consecutivos e o patrimônio líquido da companhia está negativo (mais passivos que ativos) em R$ 510 milhões, tornando, com isso, a relação dívida líquida/patrimônio líquido também negativa.

“Com esses dados, não é necessário se aprofundar em maiores detalhes sobre a sua saúde financeira para constatar que, de fato, se encontra bastante preocupante a situação da Forjas Taurus nesse momento”, avaliou Tiago Reis, CEO e fundador da Suno Research, em reportagem publicada pelo InfoMoney em meados de outubro, em um dia de glória da Forjas Taurus da Bolsa

Por fim, a empresa deve enfrentar dificuldade em lidar com a concorrência – se o mercado for aberto a estrangeiros -, uma vez que seus produtos são vistos com desconfiança pelo público-alvo após falhas e acidentes registrados nos últimos três anos. Não há nenhum fator que justifique uma valorização da ação. 

Projeto polêmico

O projeto do deputado Rogério Peninha Mendonça (PMDB/SC) está pronto para ser votado no plenário da Câmara, depois de tramitar em comissões desde 2012. O texto prevê o “direito de possuir e portar armas de fogo para legítima defesa ou proteção do próprio patrimônio”, reduz a idade mínima para a compra de armas de 25 para 21 anos, e as taxas pagas ao governo.

Apesar de o assunto ser polêmico, é relativamente fácil de ser aprovado, já que requer maioria simples de votos. Com a adesão suprapartidária a Bolsonaro entre os congressistas, ele teria apoios suficientes para mudar as regras. Veja aqui o projeto na íntegra

Assim, a análise corrente entre diversos analistas do mercado é de que não há justificativa para uma valorização dos papéis da companhia e que o governo de Bolsonaro, ao contrário do que poderia se pensar, impactarão negativamente os papéis da empresa. 

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