Corinthians: Augusto Melo troca advogado e concentra defesa em ex-ministro de Dilma

Alvo de um processo de impeachment e indiciado no caso Vai de Bet, o dirigente passará a ser assessorado juridicamente por José Eduardo Cardozo

Estadão Conteúdo

Ex-presidente do Corinthians, Augusto Melo, antes de partida contra o Vasco. REUTERS/Carla Carniel
Ex-presidente do Corinthians, Augusto Melo, antes de partida contra o Vasco. REUTERS/Carla Carniel

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O presidente afastado do Corinthians, Augusto Melo, anunciou nesta segunda-feira que o advogado Ricardo Cury não faz mais parte de sua defesa. Alvo de um processo de impeachment e indiciado no caso Vai de Bet, o dirigente passará a ser assessorado juridicamente por José Eduardo Cardozo, ex-ministro da Justiça do governo Dilma Rousseff.

Cury integrava a equipe jurídica de Melo desde a campanha eleitoral de 2023, que culminou na derrota de André Negão, representante do grupo político Renovação e Transparência. O advogado esteve ao lado do dirigente em duas entrevistas coletivas ao longo de maio, sendo a segunda delas após Melo ser indiciado por lavagem de dinheiro, associação criminosa e furto qualificado por abuso de confiança.

Em nota, o escritório de advocacia Cury e Augusto Neves afirmou que deixa de atuar para Melo após discordâncias em relação à estratégia de defesa, que foi alterada pelo cliente sem aviso prévio. “A estratégia de defesa foi reorientada nos últimos dias por outros colegas e ações foram decididas e executadas sem que o nosso escritório tivesse ciência prévia ou qualquer concordância. A atuação do escritório, desde o início, foi pautada pela serenidade, temperança, respeito aos órgãos e à institucionalidade do Corinthians, além da sustentação de argumentos jurídicos sólidos”, diz um trecho do comunicado.

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“Seguro da consistência das teses de defesa e estratégias construídas ao longo de vários meses de trabalho, mas desautorizado na mudança abrupta de rumo e alijado do processo de decisão, o escritório renuncia a todos os poderes que lhe foram outorgados e deseja toda a sorte a Augusto Melo no retorno à função presidencial para a qual foi eleito democraticamente”, conclui a nota.

Cardozo, por sua vez, já auxiliava o presidente afastado em algumas questões pontuais. Contratado por Marcos Ragazzi e José Trucilio Junior, aliados de Melo, o ex-ministro tentou junto à Justiça de São Paulo uma liminar para suspender a votação do impeachment, mas o pedido foi indeferido. Com isso, no dia 26 de maio, a destituição foi aprovada por 176 votos a 57 no Conselho Deliberativo do clube.

Responsável por defender Dilma no processo que levou ao impeachment da ex-presidente e filiado ao Partido dos Trabalhadores (PT), Cardozo também já foi deputado federal, advogado-geral da União e procurador do Ministério Público de São Paulo (MP-SP).

A troca de equipe jurídica ocorre no momento em que Augusto Melo tenta voltar ao poder no Corinthians. Embora o impeachment tenha sido aprovado pelo Conselho Deliberativo, ainda é necessário que a decisão seja referendada pela Assembleia de Sócios, marcada para o dia 9 de agosto. O dirigente permanece afastado até lá, mas tem se movimentado para reassumir a presidência, a ponto de causar grande confusão no Parque São Jorge, sede social do clube, no último sábado.

Melo alega que o presidente do Conselho, Romeu Tuma Júnior, está suspenso desde o dia 9 de abril e, por isso, todas as ações tomadas por ele desde então deveriam ser anuladas, inclusive a condução do processo de impeachment. A primeira secretária do Conselho Deliberativo, Maria Angela de Sousa Ocampos, se autoproclamou presidente interina do Conselho após a divulgação de um documento que determinava o afastamento de Romeu Tuma Júnior, resultado de dois processos disciplinares movidos pelo conselheiro Roberto William Miguel, mais conhecido como Libanês. Roberson de Medeiros é o vice de Tuma Jr. e seria o sucessor, mas pediu afastamento por licença médica, motivo pelo qual a função foi reivindicada por Ocampos, que é aliada de Melo.

Tuma Jr. afirma que não foi notificado e entende que não pode ser afastado, pois o tema, votado apenas no Comitê de Ética, não foi apreciado pelo plenário do Conselho Deliberativo.

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No domingo, Augusto Melo confirmou, via assessoria de imprensa, que sua defesa tomará medidas judiciais para validar a decisão. Antes de acionar instâncias externas ao clube, a defesa do dirigente encaminhou uma carta aos conselheiros, na qual pede a recondução imediata ao cargo de presidente e a anulação da Assembleia de Sócios que pode referendar seu impeachment, marcada para o dia 9 de agosto.

“Afirmo que, se necessário for, lutarei com todas as minhas forças, até as últimas instâncias deliberativas do nosso clube ou da Justiça brasileira, para manter o mandato para o qual fui democraticamente eleito e do qual algumas pessoas, por interesses feridos ou inconfessáveis, com evidente truculência, pretendem me afastar de modo ilegal”, diz o texto.