Agora vai, Eneva? Novos planos agradam mercado, mas riscos são consideráveis

Uma das primeiras empresas a deixar o Grupo de Eike Batista ano passado, ex-MPX entrega propostas para obras de Parnaíba II e programação para encontro com investidores

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – Comprometida em sua reestruturação no mercado, a Eneva (ENEV3) – antiga MPX Energia – recentemente fez dois anúncios importantes que agradaram os investidores da Bovespa. Na última quarta-feira (18), a companhia programou um “dia do investidor” em uma tentativa de estreitar relações com o mercado, além de apresentar à Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) uma proposta para adequação das obrigações de fornecimento de energia pela termelétrica Parnaíba II, com o objetivo de evitar novas multas por falhas no projeto.

Ambas medidas foram bem vistas pela analista do Santander Corretora, Maria Carolina Carneiro, que em relatório destacou o fato de a empresa ainda não ter fornecido seus guidances de longo prazo claros para os investidores desde que iniciou seu processo de reestruturação. Com o dia do investidor, será possível trazer alguns detalhes do novo plano e acalmar os ânimos tensos dos investidores na companhia. Vale lembrar que a Eneva está passando por um delicado momento de aumento de capital que pode chegar a R$ 1,5 bilhão, com minoritários tendo que subscrever novas ações.

“Acreditamos que esse guidance será importante para recuperar a confiança do mercado depois de muitos atrasos e problemas com as usinas termelétricas na carteira da Eneva, e, a nosso ver, é o meio mais apropriado para calcular um novo valor justo para a empresa”, afirma Carneiro. O Santander ainda não reviu seu preço-alvo sobre o papel, hoje de R$ 3,07, e argumenta que vai esperar o dia do investidor para tal – o preço-alvo embute um potencial de valorização de 136% em relação aos preços atuais.

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Já a segunda proposta feita pela Eneva refere-se à termelétrica de Parnaíba II. Para este empreendimento, a companhia projeta conclusão das obras até dezembro de 2014 e suspensão temporária do início dos Comercialização de Energia Elétrica no Ambiente Regulado (CCEAR) e a redução da receita fixa anual da usina pelo prazo remanescente dos contratos em valor a ser definido pela Aneel. A companhia também propôs assinar um acordo para o fechamento do ciclo das quatro turbinas a gás da usina Termelétrica Parnaíba II, agregando ao Sistema Interligado Nacional (SIN) uma capacidade instalada adicional de aproximadamente 360 MW.

Tais medidas também agradaram a equipe de análise do Santander, que estima que as perdas da empresa com as multas geradas pelo atraso das operações da termelétrica e custos para cobrir contratos podem superar o montante de R$ 350 milhões. Portanto, qualquer anúncio no sentido de regulamentar a situação e evitar novas perdas é vista como benéfica pelo mercado.

Teu passado te condena
Apesar de o aparente otimismo, a instituição financeira ressalta que o momento vivido pela antiga MPX inspira cautela aos investidores. Para os analistas do Santander, os principais riscos para a companhia incluem licenças ambientais, financiamento, projetos novos, oferta de gás, risco de engenharia, suprimentos e construção, custos de financiamento e exposição ao dólar não protegida por hedge.

“Apesar de continuarmos a ver riscos consideráveis na tese de investimento da Eneva, acreditamos que o plano de reestruturação deve trazer um alívio e as negociações com o regulador podem garantir a sustentabilidade do fluxo de caixa no futuro”, conclui a analista Maria Carolina Carneiro, do Santander, em relatório enviado ao mercado.

Alta no mês, queda no ano
Nesta sexta-feira, as ações subiam 1,59%, para R$ 1,28. Do dia 6 de junho pra cá, a alta chega a 20%; já no acumulado do ano, elas ainda reportam perdas na faixa de 57%.

Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.