Juros mais altos: qual o seu efeito sobre o comportamento da inflação

Temor com aumento dos preços estaria por trás das recentes decisões do Copom, mas fatores políticos também contribuem

Camila Schoti

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SÃO PAULO – Nas últimas reuniões do Copom (Comitê de Política Monetária), que é o colegiado do Banco Central responsável pela política de taxa de juro, parte da política monetária no Brasil, a taxa Selic vem sendo elevada com a justificativa de que é preciso controlar a inflação.

A Selic é a taxa de juro básica da economia brasileira e é com base nela que o governo, os bancos e as empresas trabalham. Ela serve de parâmetro para captação e custo do dinheiro e, por isso, é um dos principais fatores que dita também o custo dos empréstimos.

Depois de sucessivos cortes que fizeram com que a taxa Selic baixasse de 26,5% ao ano em maio de 2003 para 16% ao ano em agosto de 2004, alegando estar preocupado com o aumento da inflação, o Copom optou por sucessivas elevações da Selic de forma que no último dia 15 de dezembro a taxa alcançou o patamar de 17,75% ao ano, o maior nível verificado em 2004.

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Como elevação dos juros controla inflação?
Para quem não está familiarizado com o assunto fica a dúvida de como o aumento dos juros pode efetivamente reduzir o ritmo de elevação dos preços, ou seja, a inflação. Ao elevar os juros o Copom acredita poder conter a inflação de demanda, ou seja, o aumento dos preços causado pelo excesso de consumo.

A idéia básica é restringir o consumo através do encarecimento dos empréstimos. O mecanismo é simples, como a Selic é usada como referência na determinação dos juros cobrados aos consumidores e empresas, sua elevação acaba acarretando um aumento nos custos de se levantar um financiamento. Diante do maior custo de empresta dinheiro, a população tende a consumir menos e, ao menos teoricamente, isso ajuda a conter a inflação.

Preços sob controle, mas economia cresce menos
Este é na verdade o grande dilema por trás dos recentes aumentos da Selic. Se de um lado a elevação da Selic assegura o maior controle da inflação, por outro acaba diminuindo o potencial de crescimento da economia.

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Isso acontece porque com as taxas mais elevadas, as empresas têm que arcar com o custo mais elevado de financiar a expansão de suas atividades. Já as que têm recursos próprios podem acabar tentadas a não investir no aumento da produção, optando pela aplicação no mercado financeiro.

Se considerarmos que o aumento dos juros retrai o consumo, do ponto de vista da empresa não interessa investir no aumento da produção e na geração de novos empregos, simplesmente porque corre o risco de não ter procura para os produtos que irá produzir. Do lado do cidadão, a decisão das empresas de investir menos acaba prejudicando a geração de novos empregos.

Por que o Copom continua elevando a Selic?
Essa é uma questão bastante delicada. Existe uma corrente teórica, que é bastante respeitada e adotada pelas principais economias de mercado, que afirma que a contenção da inflação deve ser feita através de taxas de juros elevadas.

No Brasil, como os juros estão elevados, o impacto de novos aumentos no consumo é limitado, e por isso mesmo muito criticado por vários economistas preocupados com o impacto no crescimento da economia. Contudo, não se pode esquecer do aspecto político, particularmente importante em economias como a brasileira em que o Banco Central não é independente.

Como a meta principal do Banco Central é conter a inflação de forma independente, e boa parte da sua eficiência nesta tarefa depende de sua credibilidade junto ao mercado. Qualquer tipo de interferência política seja através de atitudes como comentários de outras partes do governo, que leve o mercado a duvidar do foco e da independência do Banco Central, pode provocar uma elevação dos juros. Neste contexto fica mais fácil entender o exagero e conservadorismo muitas vezes adotado pelo Copom, já que o mesmo reflete o complexo cenário político do nosso país.