Ganhos maiores e mais rápidos: corretoras adotam mercado de alta frequência

Estratégias personalizadas baseadas em algoritmos otimizam os ganhos e atraem cada vez mais investidores institucionais

Giulia Santos Camillo

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SÃO PAULO – Precisas e ágeis, as plataformas de alta frequência estão ganhando as graças de um número cada vez maior de fundos de investimento brasileiros. O movimento é inevitável: assim como aconteceu no mercado internacional, a tendência é que esse tipo de modelo abocanhe participações significativas no volume negociado nas bolsas de valores do País, num futuro bem próximo.

Sem ignorar o timing propício, as maiores corretoras do Brasil iniciam uma segunda fase na automação de seus negócios de balcão. “Nós temos um momento novo no mercado que é a entrada da BM&F nesse mercado eletrônico, coisa que a Bovespa já fazia há muitos anos”, explica Roberto Lee, diretor de marketing e produtos da Alpes Corretora.

Segundo ele, como a ponta de futuros não estava neste mercado eletrônico até recentemente, não dava para fazer nenhum tipo de execução em alta freqüência, o que inviabilizava a expansão desse tipo de modelo. Isso, entretanto, ficou no passado.

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Modelos de negociação
Tecnicamente, esse mercado de alta freqüência diz respeito a execuções de estratégias baseadas em algoritmos (fórmulas matemáticas que fornecem uma sequência de operações para resolver um problema específico), que executam milhares de ordens, algo impossível ao ser humano.

Para se ter uma noção, no mercado norte-americano alguns sistemas de roteamento chegam a processar mais de 120 eventos por segundo, conforme informado pelo diretor da Alpes. Segundo ele, no Brasil este número fica entre 20 e 30 eventos por segundo.

“O que acontece, de modo geral, é que as empresas criam determinadas estratégias, montam programas baseados em algoritmos e automaticamente eles disparam ordens dentro da estratégia estabelecida, ou de compra ou de venda, diretamento no book de preço da bolsa”, detalha Edison Marcelino, diretor de renda variável da corretora Finabank.

Para fazer esse tipo de roteamento em alta freqüência são necessárias duas coisas: canais diretos de linhas de dados entre as corretoras, as bolsas e os clientes e uma ferramenta de processamento de algoritmos, que pode ser desenvolvida pelas próprias instituições ou por empresas especializadas. É nessa ferramenta que as equipes das corretoras irão desenvolver os algoritmos, com estratégias personalizadas oferecidas ao cliente final.

As vantagens dos algoritmos
“O que são esses algoritmos de execução que nós oferecemos para o cliente final? É um algoritmo que garante que a ordem de execução dele será feita da melhor maneira possível. Quando eu digo isso, estou falando que vai ser uma execução com menor impacto de mercado possível. De forma que o produto final dessa execução são preços melhores para o cliente”, esclarece Francisco Valente, chefe da mesa de operações da Agora Corretora.

Um exemplo clássico de algoritmo é o chamado VWAP (Volume Weighted Average Price), que busca preços médios de ativos no mercado. Por exemplo, supondo que um cliente peça a uma corretora que venda R$ 500 milhões de ações da Petrobras. Caso isso seja feito de um dia para o outro, derrubará o mercado. Então o que o algoritmo faz é analisar o mercado e executar as ordens em cima de uma lógica matemática buscando o preço médio e otimizando os ganhos.

De acordo com Valente, os algoritmos são desenvolvidos para diferentes tipos de estratégia, como arbitragens entre ações e opções, compra e venda de volatilidade e operações de fluxo de um ativo, como dos tipos VWAP ou TWAP (Time Weighted Average Price). Para cada tipo de estratégia há um algoritmo customizado.

Para corretora, a vantagem é o ganho de escala. “Quando equipamos nossa mesa interna com algoritmos, conseguimos aumentar o número de clientes e aumentar o número de operações, sem ter que aumentar o número de operadores”, explica Valente. Por outro lado, Edison Marcelino ressalta que, “há uns dois anos, a bolsa vem cobrando por ordem colocada no livro e não por ordem executada”, o que seria a grande desvantagem do modelo.

Construindo e disponibilizando os algoritmos
Com todas as possibilidades oferecidas pelo roteamento de alta frequência, há dois tipos de clientes nas corretoras. Aqueles que utilizam os algoritmos pré-programados pelas instituições e aqueles que já possuem algoritmos próprios e apenas utilizam a ferramenta disponibilizada pela corretora.

“A primeira atende mais aos fundos que não têm dentro da própria empresa um know-how de programação focado em algoritmos. Já a segunda acontece quando há fundos com viés mais quantitativo de programação, os que querem nossos algoritmos e também pedem a plataforma para eles desenvolverem as estratégias que eles têm no fundo”, declara Valente, da Ágora.

Vale ressaltar, entretanto, que essa não é uma operação para pessoa física. Como a margem é muito pequena, o volume financeiro deve ser substancial para poder rodar um algoritmo desses. “Ele não funciona com R$ 1 milhão, ele vai funcionar com R$ 100 milhões”, afirma Roberto Lee, ressaltando que os custos envolvidos neste processo também são altos, distanciando-o ainda mais do investidor de varejo.

Esse é o futuro
De acordo com Roberto Lee, esse movimento em direção ao uso de algoritmos para roteamentos de alta frenquência deve segmentar as corretoras. “Eu acho que as corretoras vão passar a ser especialistas em alguns tipos de algoritmos”, afirma, ressaltando que a Alpes está posicionada para isso, pretendendo ser especialista em algumas estratégias de algoritmos, entre elas as arbitragens entre DIs.

Por outro lado, Francisco Valente ressalta que as execuções das corretoras tendem cada vez mais para um modelo 100% algoritmo. “É o caso da Agora, por exemplo, grande parte das nossas execuções via mesa é feita por algoritmo. Essa tendência já é comprovada pela demanda do cliente final. O volume de algoritmo vai aumentar muito e todas as corretoras com certeza vão adotar modelos de execução de algoritmo”, conclui.