Vendas do varejo sobem 0,1% em maio, bem abaixo do esperado, mas analistas não veem números como tão negativos

Projeções de mercado compiladas pelo consenso Refinitiv projetavam alta de 1% na comparação mensal e de 2,6% na base anual.

Equipe InfoMoney

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O volume de vendas do comércio varejista teve variação positiva de 0,1% em maio de 2022 na comparação com abril, informou nesta quarta-feira (13) o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Esta foi a quinta taxa consecutiva no campo positivo – em alta de 2,4% em janeiro, 1,4% em fevereiro, 1,4% em março e 0,8% em abril. Com isso, o patamar do setor está 6,0% acima do menor patamar dos últimos meses, que foi em dezembro de 2021. No ano, o varejo acumula crescimento de 1,8% e nos últimos 12 meses, queda de 0,4%. Na base anual, a queda foi de 0,2%.

O número veio bem abaixo do esperado. Projeções de mercado compiladas pelo consenso Refinitiv projetavam alta de 1% na comparação mensal e de 2,6% na base anual.

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“Este resultado mostra um cenário de estabilidade na passagem de abril para maio. Mas, apesar de vir de quatro resultados positivos, as taxas foram decrescentes. Observamos uma retomada no comércio varejista, mas que vem de uma base baixa, dezembro, e sempre fazendo um acúmulo menos intenso ao longo desses meses”, ressalva o gerente da PMC, Cristiano Santos.

Entre as oito atividades pesquisadas, seis tiveram taxas positivas em maio. A alta mais intensa foi a de Livros, jornais, revistas e papelaria (5,5%). Em termos de influência, destaque para os setores de Artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (3,6%) e Tecidos, vestiário e calçados (3,5%) no lado positivo. Já Móveis e eletrodomésticos (-3,0%) e Outros artigos de uso pessoal e doméstico (-2,2%) foram os destaques negativos.

“Móveis e eletrodomésticos é uma atividade que não superou seu patamar pré-pandemia, pois ao longo de 2021 teve perdas consideráveis. Durante a pandemia, esses itens tiveram um ganho importante devido às substituições que as pessoas fizeram pelo fato de estarem mais em casa. Após essa demanda extraordinária, esses produtos passaram a ter menos importância no orçamento das famílias, sobretudo eletrodomésticos”, analisa o gerente da PMC.

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Ele destaca que, no setor de artigos farmacêuticos, o crescimento do volume foi ancorado na indústria farmacêutica, e menos no segmento de perfumaria. “Esse já é o segundo mês consecutivo de alta, e coincide com os reajustes do setor, nos meses de abril e maio”, explica. “No caso de vestuário e calçados, tivemos alguns meses de crescimento especialmente vinculado ao setor de calçados e tênis esportivos, com todos os meses com variações no campo positivo”, complementa Santos.

Inflação e impacto no comércio

Outros destaques são os setores que sofreram o impacto da inflação. Houve um aumento de 0,4% na receita versus uma variação de 0,1% no volume, uma diferença que já sinaliza a inflação no varejo em geral. Só que em alguns setores o impacto inflacionário foi verificado com maior intensidade.

“O setor de combustíveis e lubrificantes vem, há alguns meses, com indicadores de receita muito maiores do que os de volumes. De abril para maio, a receita do setor subiu 3,5% enquanto o volume cresceu 2,1%. Outras atividades como a de Artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria a receita cresceu 5,0% e o volume 3,6%, devido aos reajustes de preços. Mas o maior exemplo é o setor de supermercados, que de abril para maio cresceu 1% no volume e 4,1% em receita, ou seja, quatro vezes mais, sinalizando sobretudo a inflação dos alimentos”, completa o gerente da PMC.

No comércio varejista ampliado, que inclui, além do varejo, veículos e materiais de construção, as duas atividades também sofrem impacto da inflação. Veículos e motos, partes e peças, apresentou variação de -0,2%, enquanto Material de Construção teve queda de 1,1% na passagem de abril para maio de 2022.

“O cenário de todos os indicadores do varejo é de perda de ritmo. O indicador da margem, sai de 2,4% em janeiro para 0,1% na passagem de abril para maio. O acumulado do comércio varejista cresce de 1,6% em março para 2,3% em abril e depois cai para 1,8% em maio, reduzindo a velocidade de crescimento no ano. Já o acumulado em 12 meses, -0,4%, é o primeiro resultado negativo desde setembro de 2017. Nesse indicador, passamos por toda a pandemia com resultados positivos ou nulo como em maio, junho e julho de 2020. Mas não havia ocorrido taxa negativa”, conclui Santos.

Resultados regionais

Na passagem de abril para maio, o comércio varejista apresentou resultados positivos em 18 das 27 Unidades da Federação, com destaque para: Minas Gerais (3,6%), Rio Grande do Sul (3,1%) e Roraima (3,1%). No campo negativo figuram 9 das 27 unidades da federação, com destaque para Rondônia (-2,8%), Rio Grande do Norte (-2,3%) e Tocantins (-2,1%).

Para a mesma comparação, no comércio varejista ampliado, a variação entre abril e maio de 2022 foi de 0,2% com resultados positivos em 15 das 27 Unidades da Federação, com destaque para: Tocantins (3,6%), Rio Grande do Sul (3,5%) e Sergipe (2,5%). Por outro lado, pressionando negativamente, figuram 12 das 27 Unidades da Federação, com destaque para Ceará (-5,3%), Amazonas (-3,1%) e Rio Grande do Norte (-3,0%).

Dados muito ruins? Não completamente

O Bradesco BBI destaca que, à primeira vista, as vendas no varejo de maio trouxeram uma surpresa muito decepcionante, com um número negativo em relação ao ano anterior e mostrando desaceleração contínua.

“De fato, embora o resultado definitivamente não tenha sido brilhante, alguns aspectos indicam que não foi o dado tão ruim que apareceu na manchete. Primeiro, porque os ajustes sazonais ultimamente têm mostrado mais descontinuidades do que o normal devido à necessidade de lidar com dois anos de fechamentos. Em segundo lugar, houve uma quebra relativamente importante observada entre a maioria das categorias no mês”, aponta o BBI.

Para o BBI, as medidas fiscais a serem aprovadas podem continuar a ajudar a demanda de curto prazo. No entanto, ainda esperam que a atividade continue desacelerando devido ao fim das medidas de estímulo fiscal e aos impactos do aperto monetário.

A equipe de análise econômica da XP avalia que as estimativas para as variações interanuais e mensais (com ajuste sazonal) mostraram uma não-linearidade significativa, o que exige cautela na interpretação dos resultados mensais.

“Os desvios entre as nossas estimativas e os resultados observados decorreram, em grande parte, das vendas muito abaixo do esperado nas seguintes categorias: Móveis e Eletrodomésticos (-3,0% em maio/abril; -12,6% em maio22/maio21) e Materiais de Construção (-1,1% em maio/abril; -7,7% em maio22/maio21). O aperto nas condições de crédito explica, ainda que parcialmente, o fraco desempenho dessas categorias no período recente”, destaca.

A XP ainda ressalta que, apesar dos números decepcionantes de maio, o efeito de carrego estatístico para o crescimento do 2º trimestre ante o 1º trimestre ainda é muito favorável (+1,2% para o índice de varejo ampliado e +2,2% para o índice de varejo restrito).

Além disso, a maioria das atividades de varejo avançou em maio em relação a abril. Sete entre os dez grupos acompanhados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Estatísticas) apresentaram crescimento no período.

“Embora reconheçamos alguns sinais negativos advindos das vendas varejistas de maio, não alteramos a avaliação do aumento do consumo das famílias no curto prazo. O aumento acentuado da massa de renda ampliada disponível é a principal razão por detrás deste cenário”, avalia.

De acordo com as estimativas da casa, esse conceito de renda ampliada cresceu quase 7% no 1º semestre de 2022 em relação ao 2º semestre de 2021, após ajuste sazonal, em linha com a sólida recuperação do emprego aliada ao novo programa de proteção social do governo (Auxílio-Brasil, com maiores transferências de recursos) e também estímulos fiscais de curto prazo. Em relação a este último, a XP chama a atenção para a liberação dos saques extraordinários do FGTS e a antecipação do 13º salário para aposentados e pensionistas do INSS.

Ademais, aponta a equipe de análise econômica, o enfraquecimento da atividade doméstica ao longo do segundo semestre deve ser mais suave do que o esperado inicialmente.

“Mantemos a visão de que a economia brasileira perderá força nos próximos meses, principalmente devido às condições financeiras mais apertadas. No entanto, o arrefecimento da atividade deve ser mitigado por novas medidas de estímulo recentemente aprovadas pelo Congresso – especialmente a Lei Complementar 194 e seu impacto baixista sobre a inflação de curto prazo, além da chamada PEC dos Benefícios Sociais, que permite mais de R$ 40 bilhões em gastos sociais”, avalia.

Assim, projeta que as vendas no varejo ampliado crescerão 2,7% em 2022, enquanto as vendas no varejo restrito aumentarão 2,3%.

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