Troca de governo, vacinação e ajuda trilionária catapultam indicadores econômicos nos EUA

Com vacinas disponíveis, ritmo acelerado de imunização da população americana garante avanço na confiança dos consumidores e retomada de empregos

Alexandre Rocha

(Shutterstock)

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SÃO PAULO — Após meses liderando as estatísticas da pandemia, os Estados Unidos passam por um momento de redução significativa de contaminações, hospitalizações e mortes por Covid-19, em função do ritmo acelerado de vacinação. E o impacto disso já aparece na atividade econômica.

Segundo o Centro de Controle e Prevenção de Doenças do país (CDC, na sigla em inglês), a média móvel diária de mortes estava em 991 nos sete dias encerrados em 26 de março, ante quase 3,4 mil falecimentos em média no pico de 13 de janeiro. Os EUA, porém, ainda lideram no total de mortos desde o início da pandemia, com 545 mil.

Cerca de 91,7 milhões de pessoas receberem pelo menos uma dose de alguma das vacinas disponíveis até o momento, o que representa 27,6% população, e 50,1 milhões estão completamente imunizadas, ou 15,1% do total. Estão sendo aplicadas 2,5 milhões de dose por dia, em média, de acordo com o jornal The New York Times (NYT).

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“A intensidade da vacinação está bastante acelerada e eles têm vacinas disponíveis”, disse o médico Juarez Cunha, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm). “No Brasil, embora nós tenhamos capacidade para vacinar, não temos produto”, acrescentou.

Cunha observa que ainda na administração Donald Trump, o governo americano encomendou vacinas de diferentes fabricantes. Com a posse de Joe Biden, em 20 janeiro, houve também uma mudança em relação às medidas de contenção não farmacológicas, como uso de máscaras, higiene das mãos e distanciamento social. “Além da compra de mais vacinas, os EUA retornaram às bases científicas que deveriam ter seguido desde o início”, declarou.

Relaxamento

Com a vacinação produzindo efeitos, o CDC relaxou um pouco suas recomendações de isolamento no início deste mês. Ao mesmo tempo, alguns estados estão anunciando flexibilização de restrições, como Nova York. Texas e Mississipi acabaram com a obrigatoriedade do uso de máscaras.

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“Pela situação epidemiológica dos EUA, permite-se começar a reduzir algumas restrições”, observou Cunha, que recomenda cautela. “Eles têm um percentual mais alto de vacinação e a doença está em declínio, mas as medidas precisam ser avaliadas”, afirmou.

Já o médico e neurocientista Miguel Nicolelis, professor titular de Neurobiologia da Universidade Duke, nos EUA, acha a reabertura prematura. Para ele, a situação do país é complexa, pois há divisão entre a população, estados adotam políticas diversas e variantes do vírus estão em circulação.

“Os Estados Unidos estão saindo do abismo, mas vão ter problemas”, afirmou Nicolelis, citando como exemplo a multidão de turistas que, na semana passada, invadiu Miami Beach, na Flórida, durante o Spring Break, uma espécie de “Semana do Saco Cheio” dos estudantes americanos. “Lá, provavelmente, haverá uma explosão de casos”, destacou.

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Pelo cronograma de Biden, todos os norte-americanos poderão tomar a vacina a partir de 01 de maio, independentemente da faixa etária, e ele espera um retorno à normalidade de 04 de julho em diante, Dia da Independência dos EUA. Cunha acha factível, Nicolelis, não.

Na semana passada, Biden dobrou a meta de vacinação da população dos EUA, e encurtou os prazos — quando foi eleito, disse que aplicaria 100 milhões de doses até 8 de dezembro, e agora acredita que esse número pode chegar a 200 milhões de doses até o centésimo dia de seu governo.

No atual ritmo de imunizações, as 200 milhões de doses devem ser atingidas em 23 de abril, uma semana antes do centésimo dia de governo Biden. Os EUA têm, ao todo, 30 milhões de casos de Covid-19 confirmados.

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Impacto na economia

Na economia, a vacinação e o pacote de estímulo de US$ 1,9 trilhão, anunciado por Biden no início de março, já produzem efeitos positivos. O pacote prevê pagamentos diretos de US$ 1,4 mil para cidadãos de renda baixa e média, e a extensão até setembro de um benefício semanal de US$ 300 para desempregados.

O Índice de Confiança do Consumidor calculado pela Conference Board avançou de 88,9 pontos em janeiro para 91,3 pontos em fevereiro. Está ainda abaixo dos 132,6 pontos registrados em fevereiro de 2020, mas avaliação de especialistas é que o indicador está em tendência crescente.

Na seara do trabalho, o governo americano informou no início de março que foram criados 379 mil empregos em fevereiro, o maior volume desde outubro de 2020. Houve um aumento expressivo no número de postos em bares e restaurantes, de acordo com o NYT. A taxa de desemprego no país está em 6,2%, muito menor do que o ápice de 14,8%, atingido em abril do ano passado.

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“Com a reabertura e a vacinação em massa, as pessoas ganham confiança, o que gera boas perspectivas”, disse Alberto Amparo, analista de Investimentos Internacionais da Suno Research. “O caixa volta a fluir, os custos fixos param de ‘assassinar’ e as empresas deixam de sofrer tanto”, acrescentou.

O brasileiro Julio Terra, 45, que mora em Nova York com a mulher, Andrea, e a filha Mila, de dois anos, conta que as pessoas parecem menos apreensivas. “Com a vacinação, as pessoas parecem estar se sentindo melhor, mais seguras”, comentou. “Tem mais gente na rua, mas em parte também porque o tempo melhorou”, destacou, referindo-se ao fim do inverno e início da primavera no Hemisfério Norte.

É comum, segundo ele, ver lojas com filas na porta, pois há limitação do número de consumidores no interior, e os restaurantes estão mais cheios. “As pessoas estão vendo uma luz no fim do túnel”, observou Terra, que é CEO e cofundador da Launch Studio, empresa que oferece cursos online sobre financiamento coletivo.

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Na mesma linha, o brasileiro Luiz Carvalho, 59, que mora nos EUA há 30 anos, contou que o clima é de otimismo. “Você vê isso claramente ao andar na rua, as pessoas estão mais relaxadas, às vezes até relaxadas demais”, afirmou ele, que é sócio da Winston Capital Advisors, empresa de consultoria financeira com sede em Nova York. “O clima é claramente positivo, há uma grande animação com as perspectivas da economia”, ressaltou.

A Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) estima que a economia dos EUA vai crescer 6,5% este ano, mais do que o dobro da previsão realizada em dezembro de 2020 e a maior expansão desde 1984. Em 2020, o Produto Interno Bruto (PIB) caiu 3,5%, o maior tombo desde 1946.

“Os dados que nós acompanhamos mostram que a economia está reabrindo num ritmo constante, alinhada com nossas e expectativas”, disse por e-mail o chefe da Divisão dos Estados Unidos no Departamento de Economia da OCDE, Ben Westmore.

O mercado de trabalho, segundo ele, é um dos melhores termômetros da retomada. Além da redução do desemprego, em fevereiro o número de trabalhadores em afastamento temporário caiu em 517 mil.

Brasil

No Brasil, a situação é inversa. O país passa pelo pior momento da pandemia e o número de mortos ultrapassou 310 mil neste sábado (27), depois de ter registrado pela terceira vez mais de 3 mil falecimentos em 24 horas, segundo o consórcio de imprensa que compila dados das secretarias estaduais de saúde.

Foram vacinadas 15,2 milhões de pessoas com a primeira dose, ou 7,2% da população. Apenas 2,2% já receberam a segunda. “A média de vacinação está baixa, de 200 mil a 300 mil doses por dia”, afirmou Juarez Cunha. Ele espera uma melhora entre o final deste mês e o próximo, com novos lotes de imunizantes.

“O Brasil precisa de uma mudança de liderança. Em menos de dois meses, os Estados Unidos conseguiram resultados impressionantes, com a saída de um negacionista e a chegada de alguém que entende que esta é a maior crise sanitária que já enfrentamos”, acrescentou Nicolelis.

Na economia, Westmore, da OCDE, lembra da necessidade de políticas fiscais anticíclicas. “Os benefícios de uma política fiscal anticíclica defensiva, combinada como uma distribuição bem planejada de vacinas com recursos adequados, estão em evidência nos Estados Unidos. O aumento da projeção macroeconômica para o país em nosso mais recente relatório se deve a estes dois fatores”, concluiu.

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Alexandre Rocha

Jornalista colaborador do InfoMoney