Tratamento VIP de Trump para coronavírus pode enviar sinal errado, dizem médicos

O uso agressivo de terapias exóticas e não comprovadas pode ser uma faca de dois gumes caso médicos tenham de se desviar do tratamento padrão

Bloomberg

Donald Trump (Foto de: John Minchillo-Pool/Getty Images)

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(Bloomberg) — O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tem recebido quase todos os medicamentos disponíveis para ajudá-lo a combater o novo coronavírus. Isso pode não ser bom.

É um fenômeno bem estabelecido, a chamada síndrome VIP. Pacientes ricos e conhecidos geralmente têm fácil acesso aos tratamentos médicos mais modernos. Cuidar de personalidades importantes pode aumentar a pressão sobre médicos para que testem novos remédios e procedimentos.

O uso agressivo de terapias exóticas e não comprovadas pode ser uma faca de dois gumes caso médicos tenham de se desviar do tratamento padrão. Doenças não levam em conta prestígio ou poder político. Tratamentos experimentais geralmente não se sustentam com mais tempo e estudo. Ainda assim, a tentação de tomar todas as medidas disponíveis é forte.

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“Presidentes são tratados de maneira diferente”, disse Art Caplan, diretor de ética médica da Escola de Medicina Grossman da Universidade de Nova York. Segundo ele, nesses casos, médicos adotam terapias mais agressivas. “Você não quer ser culpado por perder a vida do presidente.”

A disposição de Trump em apostar em tratamentos experimentais é conhecida. Ele tomou o medicamento contra a malária hidroxicloroquina como medida de proteção em maio, depois que um assistente testou positivo para o vírus. Trump não se contagiou, mas estudos posteriores não mostraram que o medicamento ofereça qualquer benefício.

Desde seu diagnóstico, Trump recebeu uma combinação de medicamentos experimentais, a maioria ainda não aprovada individualmente e que, em grande parte, não foi testada em conjunto. O presidente também toma medicamentos sem prescrição médica, como zinco, melatonina e o antiácido Pepcid, disse a Casa Branca.

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Um dos primeiros compostos usados no tratamento de Trump foi o coquetel de anticorpos da Regeneron Pharmaceuticals, que apenas algumas centenas de pessoas tomaram. Embora tenha se mostrado promissor em estudos em estágio inicial, não há evidências de sua segurança e eficácia em combinação com o remdesivir da Gilead Sciences, medicamento antiviral que também foi administrado a Trump.

Médicos de Trump disseram no domingo que também adicionaram dexametasona ao tratamento. O esteroide é usado há décadas, mas parece não haver dados sobre como pode interagir com o remdesivir e o coquetel da Regeneron.

Sean Conley, médico pessoal de Trump, disse que não vai abrir mão de nenhuma terapia que possa beneficiar o presidente.

“Estamos maximizando todos os aspectos de seu cuidado, atacando esse vírus em uma abordagem multifacetada”, disse Conley durante seu primeiro boletim sobre a saúde de Trump.

A ideia de que fazer algo é melhor do que a inação é um mito difundido na medicina, disse Vinay Prasad, professor associado de medicina da Universidade da Califórnia, em São Francisco. Mais de 90% das pessoas se recuperam da Covid-19 sem fazer nada, disse.

“A razão pela qual fazemos os estudos em primeiro lugar é que não sabemos se os medicamentos funcionam, muito menos quando são administrados com outros medicamentos que não foram comprovados.”, disse Prasad.

A impressão de que pessoas proeminentes têm acesso a mais opções de tratamento, mesmo que ainda não tenham demonstrado nenhum benefício em estudos extensos e rigorosos, pode ser prejudicial, segundo médicos.

“Não é cientificamente uma abordagem sólida e envia uma mensagem à população americana que, se você for um VIP, há algo que pode conseguir que o resto de nós não pode”, disse Jeremy Faust, médico de emergência do Hospital Brigham & Women’s, em Boston, e editor do Brief19, uma newsletter diária sobre o SARS-CoV-2.

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