Temores sobre tarifas foram o centro das atenções na reunião de março do BCE

Naquela reunião, o BCE cortou as taxas de juros pela sexta vez desde junho do ano passado e manteve a porta aberta para novo afrouxamento

Reuters

Prédio do Banco Central Europeu em Frankfurt - 06/06/2024 (Foto: Wolfgang Rattay/Reuters)
Prédio do Banco Central Europeu em Frankfurt - 06/06/2024 (Foto: Wolfgang Rattay/Reuters)

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FRANKFURT (Reuters) – Autoridades do Banco Central Europeu já estavam contabilizando o custo potencial das tarifas dos Estados Unidos muito antes de sua adoção, argumentando que elas pesarão sobre o crescimento mas terão um impacto mais incerto sobre a inflação, mostrou a ata da reunião de 5 e 6 de março do BCE nesta quinta-feira.


Naquela reunião, o BCE cortou as taxas de juros pela sexta vez desde junho do ano passado e manteve a porta aberta para novo afrouxamento, mas não assumiu nenhum compromisso em relação a abril dada a incerteza em torno dos planos tarifários de Donald Trump, que ainda estavam a um mês de distância.


“Foi dito que os prováveis choques no horizonte, incluindo a escalada das tensões comerciais e a incerteza de modo mais geral, podem pesar significativamente sobre o crescimento”, mostrou o documento nesta quinta-feira.


“Foi argumentado que esses fatores podem aumentar o risco de não atingir a meta de inflação no médio prazo.”


Essa combinação de fatores poderia até mesmo exigir uma ação decisiva do BCE, argumentaram alguns em março.


“Sob essa perspectiva, argumentou-se que ser prudente diante da incerteza não equivalia necessariamente a ser gradual no ajuste da taxa de juros”, disse o BCE.

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Entretanto, as autoridade alertaram que as barreiras comerciais também poderiam causar um aumento de curto prazo nos preços, especialmente se a Europa responder com suas próprias medidas.


“A combinação de tarifas e medidas de retaliação dos EUA também pode representar riscos de alta para a inflação, especialmente no curto prazo”, acrescentou o BCE.


Nas semanas que se seguiram à reunião, os investidores aumentaram suas apostas em outro corte na taxa de juros em 17 de abril e agora veem uma chance de aproximadamente 90% de um movimento, a ser seguido por mais dois cortes no final do ano, já que as pressões inflacionárias estão se dissipando.

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As tarifas anunciadas pelo presidente dos EUA, Donald Trump, provavelmente pesarão sobre o crescimento e seus danos econômicos poderão pesar sobre os preços, disseram as autoridades.


O euro também subiu nas últimas semanas, os rendimentos dos títulos aumentaram e os preços da energia estão caindo rapidamente, o que aponta na direção de aliviar a pressão dos preços.


Mas a perspectiva está longe de ser clara. A Europa deve retaliar as tarifas, o que certamente aumentará os preços.

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É provável que um mundo fragmentado também aumente os custos para as empresas e eleve a inflação, enquanto o aumento dos gastos com defesa também pode impulsionar a demanda agregada e, portanto, os preços.


“Foi argumentado que os altos níveis de incerteza (…) exigiam cautela na definição de políticas e, especialmente, na comunicação”, acrescentou o BCE.