Taxa de desemprego repete mínima histórica. Atingimos o piso ou dá para melhorar?

Avaliação é de que não há muito espaço para o indicador continuar caindo, o que implica em possível reversão nos próximos meses, ainda que em ritmo gradual

Élida Oliveira

Homem mostra carteira de trabalho no centro de São Paulo (Foto: Amanda Perobelli/Reuters)
Homem mostra carteira de trabalho no centro de São Paulo (Foto: Amanda Perobelli/Reuters)

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A taxa de desemprego divulgada nesta sexta-feira (31) repetiu a mínima histórica pela 3ª vez seguida, o que pode indicar que ela está próxima do piso e até de uma reversão na leitura dos próximos trimestres. A taxa ficou em 5,6% no trimestre encerrado em setembro, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), do IBGE.

O número veio ligeiramente acima da mediana das estimativas, que era de 5,5%.

Taxa de desocupação
PeríodoPercentual
Jul-ago-set 20255,60%
Abr-mai-jun 20255,80%
Jul-ago-set 20246,40%
Fonte: Pnad/IBGE

“Vemos o terceiro mês consecutivo de estabilidade, o que sugere que não há muito espaço para continuar caindo”, avalia André Valério, economista sênior do Inter.

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Segundo ele, dado o contexto de aperto monetário – com a taxa básica de juros em 15% – e uma desaceleração captada pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgado na quinta (30), a tendência é de que a taxa de desocupação comece a aumentar, com a abertura de um menor número de vagas nos próximos meses.

Ele alerta que a PNAD capta a média móvel trimestral, e por isso é um indicador com dados mais suavizados e defasado frente a outros indicadores.

Mercado de trabalho robusto

O quadro geral ainda é de mercado de trabalho robusto, segundo Valério, e com uma desaceleração mais lenta do que o esperado, de acordo com Daniel Buarque, pesquisador do FGV/Ibre. 

Tatiana Pinheiro, economista-chefe da Galapagos Capital, observa um “princípio de enfraquecimento” nos dados. Ela aponta que o resultado do mercado de trabalho foi sustentado pelo avanço do emprego formal, que cresceu 2,7% na comparação anual, enquanto o emprego informal teve queda de 4%.

Os rendimentos médios também tiveram crescimento, de 2% no mercado formal e 6,5% no informal, ambos acima da inflação.

Para Leonardo Costa, economista do ASA, o dado aponta a perda de fôlego do mercado de trabalho na margem, ainda que o nível siga historicamente baixo. 

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Buarque destaca que os menores níveis históricos da taxa de desemprego também se explicam pela mudança de demografia e qualificação da população brasileira. “Hoje temos trabalhadores mais velhos e mais qualificados do que há 10 ou 20 anos, de modo que isso permite manter a taxa de desemprego mais baixa”, avalia.

Atividade econômica

Igor Cadilhac, economista do PicPay, afirma que os indicadores sugerem que o Banco Central deve continuar atento à abertura do hiato do produto, o que indica demanda ainda aquecida. “Esperamos que o aquecimento persista por um período prolongado, ainda que em processo gradual de desaceleração”, diz.

A projeção é de uma taxa média de desemprego em 6% em 2025, encerrando o ano em 5,5%.