Só 29% das empresas brasileiras usam transporte via mar e rios, mostra estudo da CNI

Pouco explorado, transporte por cabotagem pode ganhar força com regulamentação do programa BR do Mar

Anna França

Área de contêineres no Porto de Itajaí, em Santa Catarina (Foto: Divulgação)
Área de contêineres no Porto de Itajaí, em Santa Catarina (Foto: Divulgação)

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Ainda pouco explorado pelas empresas brasileiras, o transporte por cabotagem, ou seja, por hidrovias, pode ganhar força a partir da regulamentação do programa BR do Mar, feita em julho de 2025. Levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI) aponta que hoje 29% das indústrias usam o modal. Entre as que não usam, 20% demonstram interesse em aderir, desde que haja condições adequadas de transporte e redução dos custos.

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Apesar do potencial da costa e dos rios brasileiros, a cabotagem responde por apenas 11% da matriz de transportes nacional, ficando concentrada principalmente entre petróleo e derivados (75% do total). O estudo mostra ainda que 76% dos empresários que já usam o modal desconhecem o BR do Mar. Entre os que conhecem, nove em cada dez acreditam que o programa trará benefícios, sobretudo na redução de custos.

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O programa BR do Mar

Criado em 2022, o BR do Mar reúne medidas para ampliar a oferta de embarcações e reduzir os gastos logísticos. Com a publicação do Decreto nº 12.555/25, foram definidas as regras para que Empresas Brasileiras de Navegação (EBNs) possam afretar embarcações estrangeiras, conforme as condições previstas no programa.

A cabotagem prevê o transporte entre portos do mesmo país, sem cruzar fronteiras internacionais. Trata-se de uma alternativa ao transporte rodoviário, com vantagens como movimentação de grandes volumes, redução de custos, maior segurança contra roubos e menor impacto ambiental.

“O Brasil tem uma costa extensa, mas ainda usa pouco a navegação de cabotagem. Para a indústria, que transporta grandes volumes, o modal pode ser decisivo para aumentar a competitividade”, afirma o diretor de Relações Institucionais da CNI, Roberto Muniz.

Custos e barreiras

A redução de despesas é o principal benefício esperado por 85% das empresas que já utilizam a cabotagem e por 70% das que ainda não a utilizam. Entre os desafios, quase 70% dos entrevistados pela CNI, seja usuário ou não do modal, apontam os baixos investimentos em infraestrutura portuária como entrave.

Outros obstáculos incluem a incompatibilidade geográfica (45%), a falta de rotas disponíveis (39%), o maior tempo de trânsito (15%) e a distância até os portos (15%). Já a segurança do modal foi destacada por 21% como fator decisivo.

Os estados com maior interesse em ampliar a utilização do modal são Rio Grande do Sul (17%), Bahia (13%), Rio Grande do Norte (13%) e Santa Catarina (13%).

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Competitividade e sustentabilidade

Segundo Paula Bogossian, analista de infraestrutura da CNI, a maior utilização da cabotagem poderia reduzir em até 13% os custos logísticos do País. “Hoje o Brasil usa de forma equivocada o transporte rodoviário em longas distâncias. O equilíbrio da matriz de transportes é fundamental para a competitividade”, afirma.

O estudo também aponta que empresas que recorrem à cabotagem percorrem distâncias médias maiores (1.213 km) em comparação às que não a utilizam (862 km). O uso do modal cresce conforme o porte da companhia: apenas 7% das pequenas empresas recorrem a ele, contra 22% das médias e 44% das grandes.

Apesar da regulamentação, ainda faltam portarias para definir pontos-chave, como contratos de afretamento de longo prazo e critérios para o conceito de “embarcação sustentável”. A CNI defende que a agenda ambiental seja conciliada com a expansão da cabotagem.

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“O modal já é seis vezes menos poluente que o transporte rodoviário. Precisamos de parâmetros equilibrados, que não inviabilizem o crescimento da indústria naval brasileira”, pondera Muniz.

A pesquisa ouviu 195 empresas de 29 setores industriais, distribuídas por todas as regiões do país.

Anna França

Jornalista especializada em economia e finanças. Foi editora de Negócios e Legislação no DCI, subeditora de indústria na Gazeta Mercantil e repórter de finanças e agronegócios na revista Dinheiro