Situação política no Peru continua tensa e regiões do país estão em estado de emergência

Manifestantes pedem a renúncia da presidente Dina Boluarte, que tem 71% de desaprovação, segundo pesquisa; cerca de 50 pessoas já morreram

Roberto de Lira

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A situação política no Peru segue tensa nesta semana, com várias caravanas saindo do interior em direção à capital Lima para engrossar os protestos pedindo a renúncia da presidente Dina Boluarte, a dissolução do Congresso e a antecipação das eleições. Desde ontem (15) três regiões, quatro províncias e um distrito peruanos estão em estado de emergência, após protestos e bloqueios de rodovias, cuja repressão já causou cerca de 50 mortes desde dezembro.

O país está em convulsão desde 7 de dezembro, quando o já deposto presidente Pedro Castillo tentou um golpe de Estado, decretando o fechamento do Congresso. Sem respaldo político, nem militar, ele foi preso no mesmo dia, quando sua vice (Boluarte) assumiu o poder.

A instabilidade tem sido a marca do país desde 2016, quando o presidente Martin Vizcarra, que governou de 2018 a 2020, dissolveu o Congresso em 2019 e determinou a realização de novas eleições. A nova legislatura, destituiu Vizcarra do cargo no ano seguinte.

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Na sequência, veio o presidente Manuel Merino, que durou menos de uma semana no cargo. Na época, a repressão a protestos deixou um saldo de dois manifestantes mortos e 200 feridos. Seu sucessor, Francisco Sagasti, durou nove meses, antes de Castillo assumir o poder.

As mobilizações contra o governo de Dina Boluarte e pelo marcação das eleições para 2023 devem continuar nesta semana na cidade de Arequipa. Segundo o membro do Comitê de Luta de Arequipa, Jorge del Carpio Lazo,  marchas de protesto estão marcadas para hoje na Plaza España del Cercado.

Segundo pesquisa do Instituto de Estudos Peruanos (IEP), Dina Boluarte tem desaprovação de 71% dos peruanos. Na última sexta-feira (13), ela discursou em rede nacional negando a intenção e renunciar ao cargo.

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Enquanto isso, seguem os protestos, bloqueios de rodovias e relatos de vandalismo em representações públicas em várias localidades. Um greve geral está agendada para quinta-feira (19), em meio às comemorações do aniversário dos 488 anos da fundação de Lima, no dia 8.

O mesmo instituto IEP apontou que o apoio dos cidadãos a uma mudança na Constituição está aumentando, embora não atinja a maioria da população, informou o jornal La Republica: 40% dos peruanos acreditam que é mais conveniente para o país mudar para uma nova Constituição. Em julho de 2021, apenas 23% sustentavam essa posição. Para 45%, são necessária apenas mudanças parciais na lei e 12% querem que ela permaneça como está

O problema é que não há confiança no Congresso para essas reformas, comentou o cientista político Martín Tanaka, pesquisador do IEP e professor da Universidade Católica (PUCP).

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“Sobre o que mudar, existem critérios muito conservadores com alto apoio e pouco apoio a bandeiras progressistas. É uma caixa de Pandora. Uma Constituição melhor não sairia necessariamente. Corremos o risco de seguir um caminho como no Chile, em que a constituinte não resolve os problemas, mas é uma continuação dessa dinâmica de enfrentamento e pouca representatividade”, alerta.