Situação inédita pode levar Brasil a juro negativo, diz Gustavo Franco

Neste caso, o BC teria de voltar a ter duas taxas de juros, uma para tomar e outra para emprestar recursos, como outras autoridades monetárias

Bloomberg

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(Bloomberg) — Os juros brasileiros atingiram quase 50% quando Gustavo Franco comandava o Banco Central, no final de 1998, e o país buscava defender a estabilidade econômica frente aos impactos trazidos pelas crises da Ásia e da Rússia. Agora, mais de 20 anos depois, o economista enxerga até mesmo a possibilidade de que o Brasil possa embarcar na estratégia de juros negativos para combater a pandemia do coronavírus.

“Que coisa extraordinária, o país que já foi o campeão mundial de juros já podendo ter juro muito baixo”, diz o ex-presidente do BC e sócio fundador da Rio Bravo Investimentos, em entrevista por telefone.

Na semana passada, o Banco Central cortou a Selic para novo piso histórico de 2,25% e manteve a porta aberta a uma nova redução, ainda que em magnitude menor. O alívio monetário visa estimular uma economia que pode ter recessão de 6,5% e inflação abaixo do piso da meta neste ano, resultado de meses de deflação.

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“Dá para imaginar se o Brasil não vai experimentar um ambiente de taxas muito baixas ou negativas”, afirma Franco. O fenômeno já ocorre em países desenvolvidos e poderia acontecer no Brasil se o BC não conseguir fazer o crédito chegar às empresas menores. Neste caso, o BC teria de voltar a ter duas taxas de juros, uma para tomar e outra para emprestar recursos, como outras autoridades monetárias, segundo ele.

Credibilidade do BC

Além do impacto da crise do coronavírus, já com mais de 1 milhão de infectados e 50 mil mortes no país, Gustavo Franco diz que a credibilidade do Banco Central vem sendo decisiva para a gestão do sistema de metas de inflação. Mesmo antes de a doença se instalar no país, o BC já testava níveis recordes de baixa da taxa básica.

Um conhecido defensor de reformas fiscais e privatizações, Franco afirma que nem mesmo a piora das contas públicas causada pelos gastos com a pandemia está impedindo a queda da inflação e dos juros. “Havia um pressuposto de que só teríamos juros assim pequenos com a política fiscal substancialmente melhor, mas os juros baixos se devem à credibilidade alcançada pelo BC.”

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Ainda assim, ele defende que os gastos para combater a pandemia sejam transitórios, de forma a evitar maior deterioração fiscal.

Para o ex-presidente do BC, o marco do saneamento, preparado com o objetivo de ampliar os investimentos privados no setor, pode ter a aprovação facilitada pela ameaça do coronavírus — a votação está prevista para esta semana no Senado . “A pandemia mostrou como é importante a população ter rede de esgoto e água.”